spoiler visualizarllcarnelos 29/08/2014
Carl Sagan e a Religião
Carl Edward Sagan (1934-1996) foi um dos maiores divulgadores de ciência de todos os tempos. Era físico e astrônomo, mas se envolveu em muitas ciências, sendo percussor na exobiologia.
Carl Sagan teve um papel significativo no programa espacial americano desde o seu início. Foi consultor e conselheiro da NASA desde os anos 50, trabalhou com os astronautas do Projeto Apollo antes de suas idas à Lua, e chefiou os projetos da Mariner e Viking, pioneiras na exploração do sistema solar que permitiram obter importantes informações sobre Vênus e Marte. Participou também das missões Voyager e da sonda Galileu. Foi decisivo na explicação do efeito estufa em Vênus e o descobrimento das altas temperaturas do planeta, na explicação das mudanças sazonais da atmosfera de Marte e na descoberta das moléculas orgânicas em Titã, satélite de Saturno.
Entre suas obras de divulgação da ciência estão a série de televisão Cosmos (http://www.imdb.com/title/tt0081846/), e os livros: “Os Dragões do Éden”, “O Romance da Ciência”, “Pálido Ponto Azul”, “O Mundo Assombrado pelos Demônios”, “Contato” (adaptação do roteiro do filme) e “Bilhões e Bilhões”.
Fosse pela literatura científica formal ou de divulgação, pela televisão ou cinema, Carl Sagan buscou sempre oferecer ao público – leigo ou especializado – a mais completa e acessível visão científica dos fatos que se fez possível. Em toda sua obra, apesar de não dizer diretamente que Deus não existe, ele sempre deu a entender que era ateu. Segue algumas de suas citações:
”O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida.”
“E se o mundo não corresponde em todos os aspectos a nossos desejos, é culpa da ciência ou dos que querem impor seus desejos ao mundo?”
“Às vezes acredito que há vida em outros planetas às vezes eu acredito que não. Em qualquer dos casos, a conclusão é assombrosa.”
“Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar.”
"A vida é apenas uma visão momentânea das maravilhas deste assombroso universo, e é triste que tantos se desgastem sonhando com fantasias espirituais."
“A fim de fazer uma torta de maçã a partir do zero, você deve primeiro criar o universo.”
“É muito melhor compreender o universo como ele realmente é do que persistir no engano, porém gratificante e tranqüilizador.”
“Em algum lugar, algo incrível está esperando para ser conhecido.”
Ao conhecer mais de perto a obra e a vida de Carl Sagan percebemos que ele não era simplesmente um ateu, e sim além de um divulgador da ciência um pregador; a ciência era a sua verdadeira religião. Em um dos contos no livro Bilhões e Bilhões, ele descreve sua luta contra uma doença rara que assolou sua medula óssea e que o seria a responsável pela sua morte. Morte. Esse com certeza deve ser o momento mais aterrorizante para um ateu. Morrer significa chegar ao fim da linha de uma vida, sua consciência irá desaparecer e seu corpo físico apodrecerá até não existir mais nada. Neste conto ele descreve um pouco deste sentimento nos seus últimos momentos.
Em contra-partida, sabemos que a religião; cada uma com sua explicação; serve principalmente para alentar pessoas a beira da morte, ou ainda trazer alívio para os que perderam um ente querido.
No livro “Contato”, Carl Sagan descreve a trajetória de uma cientista que decifra uma mensagem recebida do espaço e aparentemente faz uma viagem interplanetária até o centro da galáxia para entrar em contato com os emissores da mensagem. Na minha opinião, mais que uma história sobre extra-terrestres , este livro fala sobre a dualidade religião X ciência.
A protagonista Eleanour Arroway claramente não acredita em Deus e passa um capítulo inteiro discutindo com um padre, com argumentos muito fortes, que Deus não existe. Obviamente estes argumentos são do escritor Carl Sagan e ele quis compartilhá-los com os leitores, fazendo assim da protagonista um pouco do seu alterego.
Já no final do livro, após ter sido desacreditada da viagem ao centro da galáxia que fez ela passa o resto da vida procurando uma mensagem intrínseca nos números transcendentais. Para ser mais preciso no número pi. Quando encontra a imagem de um círculo codificado no número pi ela finalmente tem a prova de que sua experiência foi real.
Agora, pensando de novo que a protagonista é o alterego de Carl Sagan, encontrar uma mensagem codificada num número transcendental é a evidência que Carl Sagan procurou por toda a vida, evidência de que existe uma inteligência que antecede o universo, a evidência de que um criador existe. Ele era ateu sim, não acreditava que Deus existe, mas não acreditar em nada também é muito triste, vide o sofrimento que ele mesmo descreveu em seus últimos dias de vida. Ser ateu não é simplesmente não acreditar em Deus, ser ateu é duvidar querendo acreditar. Obter uma evidência científica de que Deus existe é o maior sonho de qualquer ateu.
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