Aione 16/09/2016Emily Brontë foi imortalizada com O Morro Dos Ventos Uivantes, seu único romance publicado. Agora, a editora Civilização Brasileira traz uma nova edição de O Vento da Noite, coletânea de 33 poemas da autora traduzidos por Lúcio Cardoso, publicados pela primeira vez em 1944 pela editora José Olympio. Com apresentação e organização por Ésio Macedo Ribeiro, organizador dos Diários, de Lúcio Cardoso, a edição é bilíngue, permitindo a leitura dos poemas originais bem como das traduções segundo à visão de Cardoso.
É importante ressaltar que essas são traduções livres, ou seja, privilegiam o sentido do poema ao invés de uma tradução literal, palavra a palavra. Assim, é comum encontrarmos diferenças entre as duas versões, como estruturas diferentes, modificação de palavras, versos reorganizados, suprimidos e, até mesmo, adicionados.
Outra alteração, consequentemente, está na perda de ritmo e sonoridade dos poemas originais. Nas traduções, a métrica não foi mantida, bem como o esquema de rimas. Assim, ainda que os poemas mantenham a essência, perderam a sonoridade original – algo comum de acontecer na tradução de poesias, já que é extremamente difícil manter sentido e sonoridade na passagem de um idioma para o outro. É sempre uma opção do tradutor preferir aquilo que considera mais essencial de ser mantido no poema, e fica nítida a escolha de Cardoso pelo sentido.
As temáticas de Brontë abraçam sonhos, lembranças, fantasias, desilusões e morte, trazendo versos dotados de melancolia. Ainda, a presença da natureza é muito forte nos poemas, sendo ora local de refúgio e escape, ora conectada aos sentimentos do eu-lírico. De qualquer maneira, é impossível desassociá-la dos poemas de Brontë, assim como é impossível não reconhecer, aqui, o mesmo tom melancólico e, por vezes, sombrio presente em O Morro dos Ventos Uivantes.
O incrível de se fazer a leitura nos dois idiomas é tanto reconhecer suas diferenças quanto notar a maneira de como o tradutor enxergou os poemas originais. Também, como os traduzidos acabaram por perder sua sonoridade, pude fazer a leitura em voz alta dos originais e, assim, sentir toda sua força e intensidade. Ainda que, muitas vezes, eu não tenha conseguido compreender todo o sentido dos versos em inglês – a leitura de um poema não é fácil, principalmente em um idioma que não é o seu de origem -, sendo necessária a tradução para isso, eu seguia a leitura apenas para ouvir os versos e sentir a potência no som de cada palavra.
De modo geral, como com qualquer poesia, a leitura de O Vento da Noite não é fácil, exigindo atenção e tempo do leitor – tempo este que será estendido caso os poemas sejam lidos em ambos idiomas e comparados entre si. Contudo, é uma experiência extremamente proveitosa, tanto por permitir um conhecimento extra do trabalho de Emily Brontë quanto por proporcionar a percepção de seu alcance poético. Mais uma vez, fui encantada pelas palavras da autora e pela intensidade e melancolia de suas emoções e obras.
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