Jornal Nota 10/04/2020
O Fiel e a Pedra, de Osman Lins: a educação pela pedra, a ética da inação
Um dos maiores armadilhas quando se pensa em literatura está a ideia de que uma obra esconde um enigma; de que, no interior dela, há algo a ser desvendado, desencoberto, como se um livro fosse, no fim das contas, uma matéria escura, escondida no interior das entrelinhas da palavra. É por isso que, muitas vezes, ao lermos uma obra, percebemos de forma negativa quando ela nos escapa, quando ela nos sai dos eixos da estabilidade. Osman Lins, me parece, trata a materialidade da palavra como se fincasse raízes, como se encravasse na terra cada palavra e impedisse, assim, que este “fora da literatura” se impusesse por sobre sua própria estrutura. Não é a toa que a obra que falamos aqui se chama o Fiel e a Pedra.
O Fiel e a Pedra, de Osman Lins, conta a história de Benardo, um homem cuja retidão moral, senso justiça e posições éticas intransigentes, inegociáveis, sejam em quaisquer as circunstâncias, delimitam um limite extremo em sua vida. O problema é que, ao seu lado, está Teresa, sua esposa, que se vê diante da morte do primeiro filho um pouco por doença, um pouco por fome, após Bernardo demitir-se de um trabalho em que se cometiam ilegalidades. Em um primeiro instante, ao que parece, a vida de Bernardo começa a se transformar quando é chamado por um comerciante local para cuidar de uma fazenda, fato que dura pouco, pois após a morte deste comerciante, seu irmão, o impassível Nestor, resolve fazer com que Bernardo ponha-se ao seu lugar, atentando contra sua vida e contra os poucos bens que ele havia reunido. Junto de Bernardo, um amigo/empregado, Antônio Chá forma um elo de afeto entre aqueles que mais precisam e menos têm. Ao fim, agora com a esposa grávida novamente, Bernardo precisa encarar uma luta em busca de sua própria sobrevivência. Será que Nestor e seus capangas conseguem lhe tirar a vida?
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