naniedias 11/07/2012O Torreão, de Jennifer EganRay é um presidiário que decidiu cursar a aula de escrita criativa. Após o fracasso de um conto de três páginas, ele ouviu um discurso motivador de sua professora. Foi o gatilho para que ele começasse a escrever a incrível história de Danny e Howard.
O primeiro era um ganhador na infância e na juventude, mas de alguma forma o tempo passou e ele não conseguiu evoluir, ficou preso ao passado e aos seus fracassos. Howard era uma criança tímida - um perdedor - que sofria nas mãos dos primos. Passou por uma adolescência conturbada após um incidente traumatizante. Mas agora é um adulto bem sucedido - rico, casado, pai de dois filhos. Howard comprou um antigo castelo europeu e prentende transformá-lo em um castelo e pede a Danny, seu primo, que o ajude nesse empreendimento.
O que eu achei o livro:
Ok, eu sei que a sinopse não é muito reveladora - mas eu não sou mesmo muito boa para escrever sinopses... entretanto, há uma dificuldade extra para escrever a sinopse desse livro - nem a oficial é boa o suficiente, não consegue dar a menor ideia do que o livro guarda para o leitor. Aliás, o livro é tão complexo que acho que ninguém conseguirá criar uma decente.
Esse é o segundo livro que leio da autora, então eu já esperava encontrar algo diferente e bem escrito. Algo fora do normal. Ainda assim, entretanto, fui surpreendida. Não parece que é a mesma pessoa que escreveu A Visita Cruel do Tempo - e eu adoro autores versáteis assim. A escrita de Jennifer Egan é deliciosa e dinâmica.
A maior parte do livro é narrada por Ray, que conta a sua própria história e também a história de Danny - o seu personagem. Ray realmente não é um bom escritor e a autora passou isso para a escrita do livro - o que é incrível! Temos frases muito longas (mas que, incrivelmente, não são ambíguas ou confusas, nem tampouco cansativas) e uma estrutura de diálogos maluca. Desculpem-me, não tenho outra palavra para utilizar que pudesse passar a ideia corretamente. Em alguns momentos, o diálogo é marcado pelo nome do personagem que fala, seguido de dois pontos e daí sua fala. Mas em outros momentos a fala está simplesmente no meio do parágrafo, sem qualquer indicação. Como se fosse uma narrativa oral mesmo. É estranho, mas também é fascinante! E por mais inacreditável que possa parecer, o leitor não se perde no que é fala e o que é narrativa. Eu fiquei estarrecida ao perceber que eu compreendia exatamente onde estava a fala, onde estava o pensamento do autor, mesmo sem qualquer indicação.
O enredo do livro também é muito interessante. Cheio de mistérios que vão sendo revelados aos pouquinhos (que é exatamente do jeito que eu gosto, já que acho chato quando os autores juntam todos os mistérios e deixam para revelar tudo no último capítulo), o livro envolve o leitor na vida dos personagens criados por Egan. O Torreão é uma história original! Apesar de ter desconfiado de um pequeno detalhe do final, são tantas reviravoltas, tantos acontecimentos inesperados, que o livro conseguiu me surpreender e muito.
Eu só queria um pouco mais do final. Mesmo assim, acho que esse "não-contar" foi um toque de mestre! E um entretanto que se destina ao leitor é que não indico esse livro para que seja lido por pessoas que não estão ainda acostumadas a ler. Apesar de não ser extremamente complexo, o livro tampouco é simples e pode não ser devidamente aproveitado (e apreciado) por quem não tem o hábito da leitura, principalmente pela sua estrutura não convencional.
Jennifer Egan é uma autora que marcará seu nome nas páginas da história e não será esquecida com o passar dos anos, afinal de contas, é original, escreve super bem e consegue entreter o leitor com histórias divertidas. Eu sei que foi A Visita Cruel do Tempo que ganhou o tão desejado prêmio Pulitzer, mas O Torreão também é uma história incrível, que merece ser lida.
Nota: 9
Dificuldade de Leitura: 8
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