gleicepcouto 03/07/2012Humor, drama, terror sem parecer um livro esquizofrênicowww.murmuriospessoais.com
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O Torreão (Intrínseca) é o segundo livro da escritora norte-americana Jennifer Egan publicado no Brasil, o primeiro foi A Visita Cruel do Tempo, pela mesma editora. Originalmente, o livro foi lançado em 2006, com o título em inglês The Keep, e logo virou best seller, chegando a ganhar o prêmio de livro do ano pelo jornal Rocky Mountain News.
Danny recebe uma proposta em um momento crítico de sua vida: ajudar o primo Howie, que não via há anos, na remodelação de um castelo na Europa Oriental que havia acabado de comprar. Pois é, Howie queria transformar sua nova propriedade em um hotel que oferecesse serviços nunca antes vistos e contava com a ajuda do primo pra isso. O problema é que o nova-iorquino Danny tinha um pé atrás com Howie. Sentia remorso por uma situação difícil a qual obrigou Howie a passar.
Em todo caso, sem muito o que perder, Danny decide reencontrar o primo e conhecer o castelo, mesmo sem saber muito bem como poderia ser útil. Ao chegar lá, ele se depara com mistérios, uma baronesa presa no Torreão, um labirinto subterrâneo sinistro, uma piscina mal-assombrada... A realidade começa a se tornar algo difícil de se acreditar.
Egan nos presenteia com mais uma história originalíssima. É bom demais ler uma obra tão desafiadora e corajosa. Sem medo de quebrar estereótipos e abrindo mão de qualquer tipo de clichê, ela se firma, na minha humilde opinião, como uma das melhores escritoras da atualidade (se não for a melhor).
Sua narrativa entrecortada, já uma característica e assinatura da autora, se mostra audaciosa em O Torreão, principalmente com a inserção de um humor ácido e inteligente na trama. Resumindo: Danny é uma figuraça. Carismático, mordaz e irreverente: ele é o sonho de criação de qualquer escritor. Todo autor que se preze almeja criar um personagem tão memorável e "surrealmente real".
Mas há outros pontos de vista em O Torreão, além dos de Danny. Desta forma, a história intercala capítulos com esses pontos de vista, que, a princípio, parecem ter uma pequena e simples relação. Com o passar das páginas, porém, percebemos que o buraco é mais embaixo. Somente lá no final vamos descobrir realmente do que se trata a história. Surpreendente.
A autora brinca com a nossa mente a tal ponto que em certos momentos não sabemos o que é realidade, o que é sonho, o que é alucinação. A baronesa existe? É um fantasma? Danny tá delirando? Afinal, ele está em meio a uma crise de abstinência de tecnologia. E aí também reside o grande barato do livro; Egan, como ninguém, faz uma crítica à sociedade atual, conectada full time. Temos pena de Danny e sua dependência a aparatos tecnológicos, mas no fundo nos reconhecemos nele.
E o mistério, beirando o terror? Jennifer também é boa nisso. Pode parecer que o livro é uma doideira de estilos: humor, mistério, terror, crítica, drama. E até é. A questão é que a autora sabe como conduzir a história sem parecer forçada ou esquizofrênica.
Na verdade, O Torreão é um prato cheio para qualquer pessoa disposta a ir além das leituras cotidianas e banais. É um exercício para a imaginação, e um frescor e alívio para quem quer fugir da literatura enlatada atual.
A CBS Films comprou os direitos e está adaptando a história para o cinema. Há alguns anos atrás, Ehren Kruger (O Chamado) e Niels Arden Oplev (Os Homens Que Não Amavam As Mulheres) estavam à frente da empreitada. Ao que tudo indica, porém, tanto o roteiro, quanto a direção caíram nas mãos de Peter Weir (O Show de Truman, Sociedade dos Poetas Mortos).
Jennifer Egan estará presente no Flip deste ano.
Avaliação:
Autor: Jennifer Egan
Editora: Intrínseca
Ano: 2012
Páginas: 240
Valor: $20 a $30
Extra: Surpreendente.