RenatoTM 18/09/2014
Divertido e inteligente -- mas também lento.
Enquanto eu crescia, um dos temas recorrentes em minhas elucubrações era a minha posição sobre as religiões dos homens e a existência ou não de algum ser maior, que tenha(ou tem) feito algo desde a criação do universo até o último nascimento ocorrido neste último milésimo de segundo. Depois de muito esquentar a cabeça, cheguei a conclusão de que religião é um dos piores males da raça humana e a existência ou não de um Deus é completamente irrelevante para o bem estar de qualquer ser vivo. Depois de alguns anos vivendo com essa mentalidade, não posso dizer que não tenho vivido uma vida mais leve, tranquila e aberta em relação ao mundo e às pessoas que me cercam. Mas por causa de "Além do Planeta Silencioso", preciso rever alguns conceitos.
A história do livro já foi devidamente esmiuçada por todos aqui, da sinopse até as inúmeras resenhas, algumas com 'spoilers'. O que posso acrescentar com este meu texto são as minhas impressões sobre a obra e um pouco do impacto dela em minha forma de pensar e enxergar a vida e o universo. Primeiro de tudo, o livro é breve, divertido, escrito de maneira ágil, preferindo a descrição da trama em si ao invés de divagar muito sobre as personagens e seus psicológicos. O que ganha mais espaço nesse tipo de descrição é sem dúvida o mundo fantástico(em cada um dos sentidos da palavra) de Malacandra, com sua fauna e flora peculiar e suas diferentes e oníricas formas e cores. Mas infelizmente, por mais que a trama seja bem escrita e proponha diversas questões filosóficas interessantíssimas, a mesma carece de ritmo em alguns momentos, e no final, sente-se a falta de algum acontecimento que realmente arrebate o leitor de sua cadeira. Não que o livro não tenha momentos verdadeiramente alucinantes, com destaque a todo o seguimento em Terra, misterioso e divertidíssimo. Mas com o tempo, fica a impressão de que nada realmente aconteceu na história.
Já a parte filosófica/teística do livro, onde ficam claras as intenções de Lewis, é interessante, bem aprofundada e muito cativante. Todo o cenário que o autor desdobra a cada conversa, cada reflexão, e a própria roupagem 'pseudo' científica que ele dá às suas crenças me fez pensar dias e noites, durante e depois do término da leitura. Esse, para mim, é o grande mérito de "Além do Planeta Silencioso". Ele é extremamente inteligente, mas comedido e de certo modo gentil, sem impôr qualquer conceito ou conhecimento barato a ninguém. Pelo contrário, fez com que um jovem que batia no peito e despejava tórridas anedotas contra o pensamento religioso, refletisse sobre o que é realmente importante: voltar a atenção para o homem, assim como ao mundo que o cerca e tentar achar o seu lugar nele, como parte de um sistema complexo e equilibrado. Sistema esse que, acredito, não fora pensado, nem desenvolvido, mas é sim orquestrado por alguma força estranha. Estranho demais para a compreensão de qualquer homem, mas sempre presente.
Esperança, é um sentimento que fica com o leitor depois do término de "Planeta Silencioso". Esperança tanto pela evolução do ser humano, seus pensamentos e ações, quanto pelo volume seguinte, "Perelandra - Viagem à Vênus", que aguardo ansioso para desvendar.