Matheus 05/09/2019
Detalhes da Ditadura
Mesmo sendo rico em detalhes, o livro possui uma narrativa bastante envolvente, com a leitura fluindo rapidamente.
No capítulo de introdução é detalhado como o general Geisel conseguiu garantir que o processo de redemocratização seguisse a diante, retirando um provável sucessor, linha dura, da jogada. Correndo enorme risco de acabar ele mesmo emparedado ou mesmo deposto.
Depois passa pelo fim do governo Jango. Você tem a oportunidade de observar os bastidores dos acontecimentos. Eu sempre achara que o golpe tinha sido rápido e que o presidente não gozava mais de nenhum controle das Forças Armadas, mas não é bem assim.
O golpe se inicia no dia 31 de março e só irá se concretizar no dia 1º de abril, o presidente tinha todo um "dispositivo" militar (militares leais sejam a ele, a democracia ou a própria esquerda) em postos chaves, mas isso não foi suficiente diante da falta de ação de Jango, o mesmo que havia feito um discurso inflamado poucas horas antes, agora encontrava-se mudo. O golpe não era dado como certo e o general Castello Branco, tão logo quando soube da sublevação das tropas mineiras, ligou para o general Mourão pedindo para que o mesmo voltasse para o quartel. O modo como a esquerda reagiu também mostra que ela acreditava que o presidente conseguiria dominar os revoltosos, através dessa percepção e do receio de que o presidente se voltasse contra ela, a esquerda não se preocupou muito em defender o governo, ficaram só nos discursos e incitando Jango a tomar medidas extremas.
Políticos e militares tentaram convencer João Goulart a se afastar de algumas alas da esquerda, mas foram infrutíferos os apelos. Talvez, como diz o autor, o presidente tivesse a noção de que não bastava que as tropas rebeladas voltassem para os quartéis, um expurgo muito maior seria necessário, não só no meio militar, mas também no político e administrativo, em suma, fazer o que foi feito pelos militares logo ao tomarem o poder. Quando Jango deixa o rio e vem para Brasília, todo o "dispositivo" militar cai e ele passa a peregrinar até o exílio no Uruguai.
Depois do golpe, o autor foca nas atitudes do general Costa e Silva, como ele assumiu o ministério da guerra e se tornou comandante do exército (cargo que nem existia), isso antes mesmo de qualquer indicação presidencial, Castello Branco ainda nem havia sido eleito.
No terceiro capítulo, você vai ter os primeiros relatos de tortura que eram denunciados nos jarmais da época e também verá uma tentativa do governo Castello Branco frear essa barbárie, mas não punindo os torturadores, muitas vezes nem mesmo os identificando, acreditava que apenas demonstrar que não era favorável a tais práticas já era o suficiente. Também o governo dirá que alguns no calor da "revolução" tomaram atitudes exacerbadas, mas que depois de um certo tempo já não ocorriam. O livro vai trazer dados que demonstram que o número de torturados caiu no decorrer dos três anos do governo Castello Branco, mas a impunidade permitiu que as sementes das torturas continuassem latentes.
Daí em diante o livro vai falar do surgimento do SNI, que não era tão funcional quanto se pensa. O chefe do SNI olhava com desdém as organizar de esquerda, chegando a afirmar que operações que desbaratavam movimentos subversivos servia para o deleite da linha dura.
Do auxílio cubano as organizações de esquerda, com objetivo de formarem grupos guerrilheiros, não apenas no Brasil. Alguns militares expurgados e que por isso ficaram estigmatizados, não conseguindo encontrar empregos, além daqueles que já eram favoráveis a esquerda, vão compôr as guerrilhas. O mesmo irá ocorrer com o movimento estudantil.
No sexto capítulo ele vai mostrar o que estava ocorrendo no Brasil e no mundo e como aqueles anos foram de revoluções em diversos sentidos e como isso se chocava com a ordem vigente.
A chegada e o governo Costa e Silva é muito bem narrado. Em algum ponto do livro o autor vai dizer que Castello se via como um presidente eleito pelo Congresso, enquanto Costa e Silva se encarava como revolucionário. O general se ultilizou da linha dura durante o governo Castello Branco para se catapultar a Presidência da República, mas ao assumir não consegue controla-la.
O governo de Costa e Silva é visto como incapaz de lidar com os problemas que foram surgindo, o presidente chegou a correr o risco de sofrer um golpe, tudo vai mudar com a adoção do Ai-5. O último capítulo fala sobre a tortura dentro de unidades do exército, agora como prática institucional, ensinada inclusive.
Esta é uma brevíssima resenha de um livro maravilhoso, que merece ser lido com todos os seus detalhes. Agora vamos para o livro 2