Tocaia Grande

Tocaia Grande Jorge Amado




Resenhas - Tocaia Grande


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Nscalazans 31/12/2023

? Em Tocaia Grande quem se gosta se amasia, pois o lugar não tem igreja, não tem padre. É um porto livre dos tabus e moralidades da sociedade. As coisas acontecem de acordo com as conveniências e necessidades.? Ótimo livro para entender o processo de formação de um território, comandos e povo
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Flavia 10/12/2023

Foi pra mim uma surpresa positiva. Um livro de um autor que não gosto tanto, só tinha em casa porque ganhei de brinde e achei que talvez nunca fosse ler. Peguei às primeiras páginas e me surpreendi: parece legal!
E assim foi toda a leitura de mais de 500 páginas. Uma história cheia de simbolismos na formação do próprio Brasil, cheia de anti-herois muito simpáticos, uma sociedade cheia de antíteses entre o sincretismo religioso, a moral e os costumes (quase nunca bons costumes)
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Lucas 04/07/2023

Comicidade, narrativa episódica e simbolismo social: um suco de Jorge Amado
Não há o que discutir: Jorge Leal Amado de Faria (1912-2001), baiano de Itabuna foi o escritor brasileiro que mais bem uniu qualidade e quantidade dentro de uma carreira literária. Foram quase quatro dezenas de obras e praticamente todos os seus 23 romances possuem um apelo popular que transcende a simples leitura de seus livros, graças ao proporcional número de adaptações feitas a partir deles. As atrizes Sônia Braga ou Juliana Paes, engatinhando sorrateiramente num telhado (em cena baseada no livro Gabriela, Cravo e Canela, de 1958) ou Betty Faria num carro vermelho chegando à Santana do Agreste (na novela Tieta, de 1989) são imagens inesquecíveis até mesmo para quem nunca leu nada na vida.

É do alto desse pedestal que Jorge Amado é avaliado pela história da literatura brasileira. Dono de um estilo narrativo simultaneamente descompassado e prolixo e com forte apego ao sensual (seja em termos de comicidade ou de tragédia), o autor é capaz de despertar o lado pessoal de cada leitor: se alguns elementos de suas obras talvez não tenham envelhecido tão bem ou se há exageros no tratamento dado à sexualidade de uma forma geral, seu legado precisa ser respeitado e valorizado pela sua escrita folclórica e predominantemente hilária.

Tocaia Grande, um dos seus últimos romances, lançado em 1984, é uma síntese bem equilibrada de todos estes elementos. Escrito aos poucos durante cerca de cinco anos, o livro trata da história de Irisópolis, cidade fictícia do sul da Bahia. As primeiras linhas vão tratar da festa de 70 anos de surgimento do município, mas Amado quer contar não o presente, mas o passado misterioso daquele lugar (não acidentalmente, "A Face Obscura" é o subtítulo da obra). Assim, ele volta no tempo e vai largando em suas páginas humor, sensualidade e personagens cativantes; tudo se une em torno de um objetivo bem mais sério: contar a origem e formação de uma cidade tipicamente baiana do interior nos idos do século XX (e que dada a vastidão do pais àquela altura, apresenta realidade similar a muitos outros locais do interior do Brasil).

Antes de Irisópolis, havia Tocaia Grande: é desse mote, que termina o prefácio, que a narrativa começa. No descampado que vai dar origem a um ponto de pernoite de tropeiros, o ex-jagunço Natário da Fonseca indica a seu patrão, o fazendeiro e coronel Boaventura Andrade que aquele era um local muito "conveniente" para que se armasse uma armadilha contra os jagunços de um fazendeiro rival. Homem experiente e experimentado em guerras, Natário administra uma matança no local. Em troca, três coisas: a concessão de uma pequena área de terra sob uma colina, com vista privilegiada do local da tocaia, uma área de terra agricultável nas proximidades e o título de capitão. Capitão Natário da Fonseca, a seu dispor: é esta a alcunha que será dada àquele que mais se aproxima do papel de protagonista nesse romance de voz tão coletiva.

Tocaia Grande vai sendo então descrita em sua gênese e desenvolvimento. Situada num local bonito no interior da Bahia (mais ao sul), as únicas referências geográficas reais são as cidades de Itabuna (frequentemente visitada por personagens do povoado) e a litorânea Ilhéus. Como o local vai virando ponto de descanso de tropeiros, uma pequena estrutura se forma em seu torno: uma "bodega", uma ferraria e, óbvio em se tratando de Jorge Amado, locais direcionados ao prazer.

O círculo das prostitutas é o mais influente em todos os pequenos arcos episódicos que o livro apresenta, o que é uma das mais marcantes características do autor. O âmago da narrativa de Tocaia Grande é povoado por pequenas histórias que se resolvem em si mesmas. Dentro delas, há humor, triângulos amorosos, dilemas peculiares, desilusões e sempre uma ou mais "moças da vida" envolvidas. Por mais que isso seja corriqueiro em se tratando de Jorge Amado, a sensualidade e suas repercussões (a putaria mesmo, com o perdão do termo) aqui é coletivizada: não é apenas uma ou duas personagens femininas que carregam consigo essa abordagem, é uma atmosfera mais plural. E isso é genial porque reduz um pouco o sentimento de repugnância que atinge o leitor mais conservador em outras experiências com o escritor (e nunca se deve esquecer o caráter masculino nisso, que por aqui continua promíscuo e contribui para toda essa atmosfera).

Mas rotular Tocaia Grande como um grande surto coletivo de prostituição é muito injusto porque suas páginas abrigam tipos totalmente inesquecíveis. Além do capitão Natário da Fonseca, falar em Tocaia Grande é também falar do libanês Fadul Abdala. Um sacoleiro de mão cheia, o "turco" era conhecido nas redondezas pelo seu tino comercial vendendo bugigangas. Convencido por capitão Natário do potencial sócio-econômico do descampado, Fadul funda no local uma "venda" para atender as necessidades dos viajantes. Também há o hilário e corajoso Castor Abduim da Assunção, o "Tição", engenhoso ferreiro e descendente de escravos, famoso por suas conquistas femininas, repositório das crenças africanas do livro e que se estabelece em Tocaia Grande fazendo serviços de cutelaria e reparos para os tropeiros.

O "miolo" do livro, conforme já observado, é recheado com pequenos episódios. A origem destes dois personagens, por exemplo, é descrita com o estilo escrachado de Jorge Amado. Além disso, há uma lendária enchente e uma epidemia de "febre sem nome", que assolam o povoado trazendo momentos tristes. Mas ao estar longe da civilização propriamente dita (Tocaia Grande não tinha igrejas ou padres, salvo a passagem de dois missionários quase ao final da narrativa, nem autoridades constituídas), o povo se amparava em si mesmo para a superação de dificuldades.

Jacinta Coroca e Bernarda, as duas prostitutas mais famosas de Tocaia Grande são uma prova disso. Unidas pelos descaminhos de quem se encontra nessa situação, elas desenvolvem uma linda relação de mãe e filha. Coroca, de extensa carreira e ainda requisitada pela sua "habilidade", torna-se a parteira oficial do povoado. Já Bernarda, bela e precoce, era afilhada do capitão Natário e com ele desenvolve uma relação de traços místicos e doentios. Outras, como Diva e Epifânia, também são dignas de registro pelas relações que desenvolvem com outros personagens (em especial com Castor Abduim, pelos motivos previamente imaginados).

A cronologia da narrativa se mistura com a realidade. Um dia, capitão Natário encontra na estrada uma família de migrantes que havia sido expulsa de suas terras em Sergipe, algo corriqueiro nos primeiros anos do século XX. Sensibilizado com a história deles, Natário aconselha a estabelecerem-se em Tocaia Grande, local cheio de terras devolutas, "só chegar e pegar". Lá, os sergipanos fazem roça, criam animais e participam do alvorecer das primeiras produções de cacau, planta típica e símbolo econômico do sul da Bahia. Esse novo "braço" de "tocaiagrandenses" contribui para o fortalecimento do caráter social da narrativa, especialmente no que se refere ao coronelismo e questões agrárias. O futuro leitor que não se engane: Jorge Amado é engraçado por fora e um ótimo contador de histórias, mas por trás disso há todo um desenho social que clama por profundas reflexões adaptáveis a vários pontos mais ermos do Brasil ainda hoje.

O passar dos anos, entretanto, vai aproximando a tal civilização de Tocaia Grande e papel vital nisso possui o coronel Boaventura Andrade. Fugindo um pouco do padrão de Jorge Amado, que trata coronéis e fazendeiros como vilões, Boaventura Andrade funciona como o esteio político da região, o ponto de equilíbrio das forças sociais: os pobres e viventes de Tocaia Grande versus "a lei", que traz consigo a almejada civilização. Uma ruptura trilha o caminho para o desfecho da obra, repleto de uma "poesia taratinesca" (algo bem captado pelo Youtuber Yuri Al'Hanati), imprevisível e apoteótica. Além disso, e diante de toda essa "sede" por ordem e progresso que os "civilizados" possuíam, todo o contexto de Tocaia Grande lembra um pouco Canudos, o arraial (também baiano, mas situado mais ao norte do estado) massacrado pelas autoridades brasileiras no começo da República, entre 1896 e 1897. Pode ser uma impressão muito particular minha, mas percebi muito de Euclides da Cunha (1866-1909) e seu incrível Os Sertões (1902) em importantes momentos de Tocaia Grande. As hipocrisias e insanidades do discurso civilizatório são bem similares às percebidas nas tropas que combateram o movimento de Antônio Conselheiro (1830-1897).

Aglutinando tudo o que Jorge Amado tinha de melhor, Tocaia Grande é um livro extraordinário, seja em sua mensagem social mais oculta ou em sua face novelística, esta mais explícita e que abriga inúmeros momentos inesquecíveis. Sua narrativa é uma ode ao processo de exploração do interior brasileiro, tanto em seu caráter lúdico quanto naquilo que a história natural tratou de chamar de civilização, que esconde dentro de si uma fome depredatória que molda muitas relações ainda hoje presentes nos vastos sertões brasileiros.
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Margô 12/03/2023

Tocaia germina...
Sou fã das antigas do excelente escritor Jorge Amado. Ele é um desses homens que escreve sem vaidade, não é do seu feitio escrever para o deleite intelectual.

Amado escreve pra ser compreendido. A linguagem e popular, íntima, e identitária.

Em Tocaia Grande tive o prazer de reler, de forma mais intensa, já que li em grupo, e isso potencializa os argumentos , a compreensão , etc.

As personagens que se interagem , a exemplo do Capitão Natário, Fadul, Tição, e as mulheres, esposas e prostitutas , lavradoras , constituem o cenário de uma vila que cresce gradativamente, como um pão que se usa fermento e ele vai inflando, inflando...
A medida que avançamos na leitura, sentimos que os "causos" tomam outro rumo, os problemas são mais complexos e o sentimento de Urbis vai também agregando as pessoas em torno dos problemas que surgem e como eles se transformam nas relações. ( enchentes, assassinatos, doenças, amores, intrigas, mortes, etc).

Considero uma das melhores obras de Jorge Amado. Todos os elementos que interessam na sua obras estão presentes: A religião, ( de matriz africana)o poder, ( coronelismo) a mulher, ( prostitutas e senhoras) o espaço físico, ( o meio rural , as roças de cacau) a vida como ela é.
É tudo melhor do que isso!
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Renato Esteves 05/03/2023

Terminei e a sensação é de satisfação dentro do que procurei. O que eu esperava da leitura eu tive. Amado é um dos escritores mais inventivos, tem uma força nele criativa muito pura. Talvez, na minha opinião, o livro no qual ele escreve melhor.
Você acompanha os jogos políticos no desenvolvimento do povoado de Tocaia Grande, antes de se tornar o município de Irisópolis, com a chegada de estranhos que vão revelando quem são em uma enormidade de formas humanas e representativas de classes sociais, entre poderosos e oprimidos, uma gente a margem da história oficial.
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Antonio 08/01/2023

Mais um espetacular retrato do Brasil e da Bahia
O livro conta a história do surgimento de um povoado que depois se transformaria em cidade, construindo um belo conjunto de personagens muito genuínos e com uma história envolvente e muito bem contada. Um espetáculo de livro!
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Betânia 31/12/2022

Tocaia Grande
É um livro honesto. Jorge Amado cativa na forma de descrever os personagens, as histórias e o enredo. Achei o final um pouco bagunçado e confuso, mas é uma boa obra.
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Sussu 29/12/2022

A genialidade Amadiana descrita na Bahia cacaueira, em que o coronelismo domina e a palavra de honra tem valor. Com uma linguagem bem regional, explícita, picante e a religiosidade de matriz africana bem presente.
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Francisco152 12/12/2022

Um fã amadiano
O livro tem muito a cara de novela, constrói bem os personagens e sinto que, como geógrafo, o livro é muito bom para trabalhar questões relacionadas a formação territorial das cidades.
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Daniel 18/09/2022

Livro excepcional.
Personagens cativantes. Dizem que num bom romance o que ficam são os personagens e o meio da história, que o final a gente esquece. Não aqui. Esse é inesquecível.
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EduardoCDias 23/07/2022

Povoado baiano
A construção e evolução de um povoado, com todos os seus personagens e habitantes característicos de Jorge Amado, com muita pornografia e malandragem.
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Laura Regina - @IndicaLaura 31/03/2022

Os causos e a vida da cidade de Tocaia Grande, desde sua criação.

Fiquei muito feliz em ter a oportunidade de ler mais uma obra de Jorge Amado. Aliás, os livros obrigatórios do Desafio Livrada do @bloglivrada foram ótimas descobertas para mim, como Vasilli Grosman e José Donoso, ou finalmente ter a chance de ler autores badalados, como Nikolai Gógol. Então, minha dica: se você não pode/quer acompanhar o desafio todo, leia o livro mandatório 😉

Agora sobre “Tocaia Grande”: é uma diversão garantida acompanhar os causos inventados ou pescados por Jorge nas suas andanças pelos interiorzão da Bahia. Aqui, temos todo tipo de gente e todo tipo de percalços, mas em nenhum momento sentimos estranhamento, porque a vida parece ter sido transposta para aquelas páginas, e os personagens poderiam ser nós ou nossos conhecidos.

Amei ver a criação da cidade ao estilo “Cem anos de solidão”, mas com o realismo e a dureza nordestinas. Amei ver os laços e as tretas surgindo. Amei perceber o quanto o ser humano pode ser mesquinho ou tão generoso.
Amei ter vivido naquela esquina do mundo e já estou com saudade de ir lá.

Mais indicações no Instagram @indicalaura

site: https://www.instagram.com/indicalaura/?hl=pt-br
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Brenda.Podanosqui 31/03/2022

Tocaia Grande
"Primeiro a tocaia, depois o caxixe; melhor dito, primeiro a trampa, depois a lei".

Com uma sucessão de causos pra lá de interessantes, a história não perde o brilho em nenhum momento.

São histórias tristes, engraçadas, espirituosas e muitas vezes emocionantes na intrincada narrativa sobre o surgimento do povoado Tocaia Grande e é assim que Jorge Amado vai nos enredando, melhor dizendo: nos "enxodozando".

Não tinha como dar menos que uma nota máxima pra esse que foi o melhor livro de Jorge Amado que já li até hoje. Não consegui seguir com nenhuma outra leitura simultânea a essa. Só queria estar na Tocaia Grande, com seus personagens carismáticos e com o jeito todo peculiar da escrita de Jorge.
Carolina.Gomes 31/03/2022minha estante
Preciso rever minha cisma c Jorge. Depois de D. Flor, abusei.


Brenda.Podanosqui 31/03/2022minha estante
D. Flor não li, mas já vi esse mesmo comentário...


Cleber 01/04/2022minha estante
Um livro com personagens incríveis, até agora é o meu livro favorito do Amado.


Brenda.Podanosqui 01/04/2022minha estante
Tá sendo meu favorito dele tbm Cleber ?


Carolina.Gomes 01/04/2022minha estante
Melhor q Capitães da Areia?


Brenda.Podanosqui 01/04/2022minha estante
Eu achei mto melhor que Capitães de areia Carol...


Carolina.Gomes 01/04/2022minha estante
Vou colocar na lista, Brenda. Obrigada.


Ferencz Jr. 02/04/2022minha estante
Pelo seu comentário, acho que irá gostar bastante do Terras do sem-fim.


Aline 02/04/2022minha estante
Resenha massa Brenda!


Brenda.Podanosqui 02/04/2022minha estante
Ferencz esse eu já li, como foi pro vestibular e tem um tempinho rs lembro que eu gostei mas achei meio sangrento. O próximo da lista será Mar morto.
E mto obgada Aline!!




Joao.Lucio 06/01/2022

Aula de Brasil
Jorge Amado e seus personagens palpáveis, cada qual com seu padrão de raciocínio, seu berço, seu laço de vida com os outros habitantes do livro vão amadurecendo, endurecendo ou amaciando em suas paixões e ódios. A ambientação perfeita nos cafundós deste gigante adormecido em pesadelos políticos.
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