Toni 25/09/2018
Longe de mim arrumar confusão com as forças do universo, mas dia desses estava eu no stories recomendando leituras para o mês do orgulho LGBTQ+ quando falei sobre Fun home da Alison Bechdel, esgotado há uns bons anos no Brasil e muito necessitado de uma reedição brasileira. Longe de mim arrumar confusões, mas vejam só, reparem bem, the deed is done: o livro saiu pela Todavia tornando-se, assim, o único saldo positivo de minha malfadada visita à Bienal do Livro de São Paulo, também conhecida como 29º círculo do inferno.
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Na reciprocidade das relações livro-leitor, a releitura é aquela oportunidade de encontrar o que de nós ficou na superfície da página durante o primeiro contato com o texto. Lembro do meu encanto pela capacidade da Bechdel em articular tantas outras vozes autorais na tentativa de apreender (entender, alcançar) seu pai. Lembro de ter encontrado várias passagens divertidas (influenciado, talvez, pelo tragicômico do subtítulo). Lembro de gostar muito, mas lembro também de não ter saído emocionado.
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Quase dez anos depois, o embrulho, o nó e a lágrima foram, de uma capa a outra, os grandes companheiros da leitura. Além do incrível entrelaçamento de sexualidade e literatura, há uma forte camada de melancolia no texto da Bechdel (o azul é a cor base de toda a HQ, a propósito) que faz de Fun home a história de uma queda (não à toa, o mito de Ícaro está lá), ou ainda, a história de uma relação familiar densamente vulnerável construída sobre simulacros e bibelôs — símbolos fortes de fragilidade. Quem já leu, convido à releitura e quem ainda não conhece, fica a sugestão (que junto à do stand-up da Hannah Gadsby, Nanette, disponível no Netflix). Eita, combo!