Pergunte ao Pó

Pergunte ao Pó John Fante




Resenhas - Pergunte ao Pó


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Bia 20/11/2010

As Fantasias de um Carcamano
CUIDADO, ESTA RESENHA PODE CONTER SPOILERS
“Existe um lugar para mim também, e começa com B, na estante do B, Arturo Bandini, abram caminho para Arturo Bandini!”.
Arturo Bandini

Pergunte ao Pó, escrito em 1939 é o livro mais famoso do escritor ítalo-americano John Fante, e é a sequência de Espere a Primavera, Bandini, escrito em 1938. Ambos contam a história da vida de Arturo Bandini, um ítalo-americano. No primeiro livro conhecemos o garoto Arturo, aos 12 anos, vivendo com seus pais, Svevo e Maria, e seus irmãos, August e Federico, numa pequena casa no Colorado. Em Pergunte ao Pó ele já é um homem de 20 anos, que se muda para Los Angeles com o propósito de se tornar um escritor reconhecido, importante, mas Arturo encontra diversos obstáculos em sua jornada de escritor, como a pobreza, o anonimato e a dificuldade de escrever algo que lhe agrade.
Através da leitura dos dois livros é possível observar o crescimento do jovem Arturo até a idade adulta, e observar o que mudou e o que permaneceu igual na personagem com o correr dos anos.
Desde pequeno ele é sonhador, sonha com a grandeza e a riqueza. Aos doze anos se imagina como um grande jogador de beisebol, famoso, rico e amado. Aos vinte anos continua sendo um sonhador, mas desta vez fantasia ser um importante escritor, um dos melhores, um gênio literário, e também muito rico. Essa é uma característica que Arturo tem tanto na infância quanto na idade adulta, quando ele quer muito uma coisa ele chega a imaginá-la com tal intensidade que essa coisa até se torna real para ele, misturando seus delírios com a realidade.
“Ela era Camilla, completa e adorável. Pertencia a mim e o mundo também. (...) Eu a possui. Então dormi, serenamente cansado, lembrando vagamente através da nevoa do torpor que ela soluçava, mas não me importei. Não era mais Camilla. Era Vera Rivkan (...)”.Nesse trecho temos um claro exemplo de um destes delírios, Arturo deseja Camilla de tal maneira que fantasia que Vera é ela, mas quando o desejo passa, a fantasia também, e Arturo deixa de imaginar Vera como Camilla e logo perde o interesse nela.
Um evento semelhante ocorre em Espere a Primavera, Bandini, quando Arturo fantasia que Rosa, uma menina pela qual ele sente uma grande paixão, morre, e com tamanha intensidade, que chega a acreditar e a temer que Rosa esteja de fato morta, e tamanha é a proximidade entre o delírio e a realidade que a personagem desesperada corre para conferir se na porta de Rosa há ou não uma coroa de flores denunciando o seu falecimento.
No decorrer da narrativa de Pergunte ao Pó, Arturo se apaixona por uma garçonete mexicana chamada Camilla Lopez, que desperta nele sentimentos confusos e contraditórios, mantendo o casal em uma relação que oscila entre o ódio, o amor, o desejo e a obsessão e que resulta em diversas aventuras e desventuras amorosas por eles vividas.
Com um protagonista complexo, conflitante, apresentando delírios, anseios, medos, decepções, alegrias e tristezas na jornada desse jovem aspirante a escritor você será levado para dentro da cabeça de Arturo Bandini através da narrativa carregada de ironia, bom humor e objetividade de Pergunte ao Pó.

-Minha opnião:
Desdo primeiro livro eu estou apaixonada pelo Arturo, seu jeito infantil e conflitante, e nessa história eu realmente me relacionei com ele, a jornada de ser um escritor, a jornada que ele tanto deseja vencer e com trilha com tanto ardor é a mesma jornada que eu pretendo percorrer. Esse livro retrata com perfeição as contradições, os desejos e as aspirações desse jovem escrito chamado Arturo Bandini. Eu realmente recomendo esse livro para todos, mas em especial para aqueles que são aspirantes a escritores e escritoras^^-

Dados técnicos:
Título: Pergunte ao Pó
Editora: José Olympio
Autor: JOHN FANTE
ISBN: 8503007533
Ano: 2003
Edição: 1
Número de páginas: 206
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Danielle 04/01/2012

não recomendo a 3a edição da José Olympio, há vários erros de digitação e a tradução de Roberto Muggiati é por vezes deficiente. o texto, ainda bem, se salva. destaco a abordagem da metaficção realizada por Fante (o protagonista Bandini é também um escritor em processo) e a problematização dos limites das personas do autor.
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Aline T.K.M. | @aline_tkm 01/10/2015

Imperdível
Ler um clássico muitas vezes me deixa algo ansiosa e me faz sentir incumbida de uma grande responsabilidade: a de captar todas as nuances da obra, de entendê-la e saber enxergar todo o seu valor. Outras tantas vezes nada disso acontece, e a leitura se dá completamente livre de amarras, com uma fluidez que não se deve apenas ao texto mas, principalmente, ao meu estado interno; aí a identificação é quase que instantânea. E foi esta segunda situação que marcou minha leitura de Pergunte ao Pó, livro mais famoso do norte-americano John Fante.

Apesar de não se identificar com o movimento, Fante é tido como um precursor da geração beat e influenciou a literatura de Charles Bukowski (que o tinha como um deus), dentre tantos outros. Inclusive, foi através do “velho safado” – que assina o prefácio do livro, aliás – que Fante começou a ganhar prestígio e foi um dos principais nomes da literatura underground americana dos anos 80.

Pergunte ao Pó traz Arturo Bandini, um jovem aspirante a escritor – um alter ego de Fante. Filho de imigrantes italianos, ele vive num quarto de hotel barato na Los Angeles da década de 30, e passa os dias a caminhar pelas ruas, vivendo e tentando acumular experiências para escrever um livro. Experiência, aliás, é coisa que lhe falta, inclusive no campo do amor. Com um conto publicado, Bandini tem dificuldade para produzir mais; além disso, tem problemas financeiros, se alimenta basicamente de laranjas (a única coisa que consegue comprar) e arrumar um emprego está fora de seus planos. O que Arturo Bandini pretende é viver de literatura, e apenas isso.

É no café Columbia Buffet que ele conhece e se apaixona por Camilla Lopez, em seu guarda-pó branco e “sapatos esfarrapados”. Bandini não aceita estar apaixonado por uma garçonete mexicana – ele próprio carrega certos problemas por ter origem italiana –, o que ocasiona uma série de ofensas e discussões entre os dois. A relação de amor e ódio é uma das frustrações de Bandini já que, apesar de amá-la, a moça ama outro homem.

Difícil não se envolver com o anti-herói ao acompanhar seu cotidiano em Bunker Hill, Los Angeles. À margem da sociedade, Bandini deixa entrever a vida difícil na Califórnia, local onde passou a viver na tentativa de se tornar um grande escritor. Tal como os novos californianos – essa gente desenraizada, triste e vazia – ele tenta ser parte da sociedade e levar a vida na cidade coberta pelo pó do deserto do Mojave.

Bandini é jovem e lhe falta maturidade. Está perdido, não sabe em qual direção seguir e quando a situação aperta além da conta é à mãe que ele recorre, em cartas um tanto otimistas, para conseguir pagar o aluguel e ter o que comer. Por outro lado, Bandini é pretensioso, gosta de esnobar e esbanjar, o que inevitavelmente faz quando tem algumas moedas a mais no bolso. Tempestuoso, o protagonista vai a extremos.

A relação com Camilla, a “princesa maia”, é das mais instigantes. Bandini não se cansa de ofendê-la, e mesmo de humilhá-la, para depois rastejar a seus pés. Dentro de si, tem consciência de que é a origem não americana e a condição social desfavorável o que o irrita nela – características que também Bandini tem em si próprio. O fato é que ele, apesar da ânsia por experiências, é temeroso das coisas da vida, e também das mulheres.

Repleta de pinceladas autobiográficas, a prosa conquista pela agilidade e franqueza. Em primeira pessoa, desfilam ante os olhos do leitor experiências e sentimentos muito pessoais, que ganham forma através do texto ausente de refinamento. O que predomina é a fluidez, um jorrar de palavras que, beirando a imprudência, faz transbordar verdade e sentimento.

Se o entorno parece estático e sem muita vida (empoeirado mesmo), os personagens têm movimento, complexidade, humanidade. E não me refiro apenas a Bandini e Camilla; um dos personagens que mais me chama atenção, aliás, é Hellfrick. O vizinho excêntrico de Bandini costuma perambular vestindo um roupão, vive pedindo dinheiro emprestado, tem mania de gim e desenvolve uma tremenda fixação por carne – seja ela na forma de um suculento bife ou ainda no corpo de um bezerro ensanguentado.

Imperdível, sobretudo para os fãs da literatura beat, Pergunte ao Pó fala das angústias e medos de uma juventude perdida em meio a um sonho americano já desbotado de suas cores. Durante todo o trajeto e a cada dia, a cruel constatação: a imagem daquilo que almejamos ser quase nunca é compatível com a imagem do que realmente somos.

LEIA PORQUE...
Você certamente vai gostar MUITO se: estiver nos seus 20 e tantos anos (ou vinte e todos, como é o meu caso, ou mais), identificar-se com os autores da geração beat, ou simplesmente estiver buscando uma leitura marcante.

DA EXPERIÊNCIA...
Livro simples e, ao mesmo tempo, incrível. Amei o desfecho, não poderia ter sido melhor. Gostei tanto que levei nova injeção de empolgação para ler dois autores que há anos estou planejando ler: Kerouac e Bukowski.

FEZ PENSAR EM...
Trainspotting, de Irvine Welsh. Leitura recente, aí também – só que de um jeito bem diferente – temos um retrato de uma juventude às margens e perdida. Em Trainspotting, vemos um grupo de jovens junkies e sem rumo na Edimburgo dos anos 90.


site: http://livrolab.blogspot.com
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marina.o 28/12/2015

Precursor de um estilo
Mal sabia Fante que sua plena sinceridade e lingua solta seriam inspiração e proximidade ao tão aclamado de uma geração de jovens insatisfeitos: Bukowski. Foi assim que o conheci e tive o prazer de "rebobinar" o estilo literário através de um "Charles mais leve", menos grosseiro.
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De Cara Nas Letras 23/01/2016

Pergunte ao Pó
John Fante é um autor norte-americano nascido no Colorado. Além de romancista e contista, escrevia roteiros para cinema que deram origens a filmes consagrados como Pelos Bairros do Vício e O Santo Relutante . Pergunte ao Pó foi seu segundo livro publicado, em meados de 1939.

Aqui vamos acompanhar então a vida de Arturo Bandini, um escrito com vinte anos que mora em um quarto de hotel em los Angeles e vive da renda do que publica em revistas. Mas até então ele só conseguiu publicar um conto intitulado O cachorrinho riu, por isso idolatra seu editor e se gaba pelo grande feito. Mas mesmo tento publicado um conto, ele quer algo mais grandioso, quer escrever um livro que vá lançá-lo ao estrelato literário. Ele acha que não tem muito conhecimento de mundo e precisa sair e buscar experiencias.

Numa lanchonete, ele conhece uma moça mexicana que usa sapatos, maquiagem e roupas que não são de sua tradição, tentando passar uma imagem de americana que ela não tem no sangue. O nome dela é Camila Lopez, e é por ela que Arturo Bandini se apaixona. Nos poucos momentos de encontros, na lanchonete, sempre há farpas entre eles e a relação acaba sendo complicada. Arturo se mostra um personagem durão do tipo que não foge do que quer, enquanto Camila despreza as atitudes dele.

Entre idas e volta do hotel ao café, encontros com prostitutas, dinheiro gasto de forma despretensiosa e um escritor em busca do sucesso, o livro se desenvolve em primeira pessoa sob o ponto de vista do Arturo Bandini, o alter ego do próprio John Fante. No decorrer, Bandini narra os fatos e ao mesmo tempo conversa consigo mesmo, deixando uma narrativa engraçada, tão divertida quanto os diálogos dele com Camila.

O livro tem vários pontos interessantes. Um deles é que se passa logo após a grande depressão na década de 30 e também no início da Segunda Guerra, no entanto o autor apresenta isso de forma breve e rapidamente colocando nos personagens uma indiferença para tais momentos, já que para eles aquilo é o de menos.

Em certos momentos podemos sentir pena da Camila pelo tratamento bem autoritário que Bandini tem com ela, mas compensa pelo tratamento que ela dá a ele, e quando notamos que de certa forma ela quer algo em troca e atura esses tratamentos, relevamos quaisquer resquícios de machismo.

Em uma escrita rica, John Fante nos ganha pela forma despretensiosa e sem tantos floreios ao escrever. O livro tem pouco mais de 200 páginas, mas seu conteúdo é maior do que alguns livros de 500 que falam tanto e não dizem nada. Há umas passagens que causam aflição e você perde totalmente o apetite por carne.

Pergunte ao Pó é reconhecido por influenciar a geração beat e o Charles Bukowski, eu já havia lido o On The Road do Jack Kerouac e A Mulher mais bonita da cidade, e é fácil entender porquê de ter influenciado tais gerações; no livro de John Fante temos um personagem que não se importa muito com o dinheiro que ganha, sabe que precisa dele para comprar, mas não se atem a guardá-lo e estoca-lo com o intuito de enricar, ele também se mostra bem libertino e, apesar de aparentar ser rude, tem um coração grandioso.

site: http://decaranasletras.blogspot.com.br/2015/12/resenha-129-pergunte-ao-po-john-fante.html
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Maria - Blog Pétalas de Liberdade 29/01/2016

Um jovem escritor
Eu quis ler esse livro por já ter visto o nome de John Fante (1909 - 1983) ser citado como referência por outros autores que li, e que me deixaram curiosa para conhecer a obra dele. A nova edição lançada ano passado pela José Olympio também contribuiu para meu interesse em "Pergunte ao pó", já que tem uma capa linda e colorida.

A história se passa nos Estados Unidos, na década de 1930, e é narrada por Arturo Bandini, um jovem na casa dos 20 anos que foi para a cidade com o sonho de ser um escritor. Arturo publicou um conto em uma revista (esse era o seu maior orgulho), e desde então seu objetivo era conseguir escrever um novo livro, que pudesse torná-lo famoso e proporcionar-lhe uma melhor condição financeira, para que pudesse pagar o aluguel de seu quarto no hotel e comprar alguma coisa para comer.

"Vamos lá, Bandini, encontre o desejo do seu coração, consuma a sua paixão do modo como ensinam os livros." (página 115)

Se eu tivesse que descrever o protagonista do livro em uma palavra, escolheria imaturo. Ele é tão imaturo que chegou a me irritar diversas vezes. E eu digo que, definitivamente, se fosse me dada a oportunidade de conviver com ele e de ser sua amiga, eu diria: "Não, obrigada!". O que Arturo faz quando ganha algum dinheiro? Compra um monte de roupas novas, que depois ele nem usa pois as roupas novas lhe incomodam e ele prefere as velhas e gastas, porém confortáveis. Em um instante, ele se acha o máximo, um gênio, a última bolacha do pacote, e quer que todos o reverenciem, já que escreveu um conto que foi publicado numa revista, no instante seguinte ele já se sente um miserável. Creio que a maioria das pessoas passe por fases assim, de oscilação de humor e de percepção sobre si mesmo, mas o Arturo Bandini exagera!

A história foi escrita em 1939, então é esperado que a sociedade daquela época seja diferente da dos dias atuais, mas isso não fez com que me sentisse menos incomodada com a forma como Arturo tratava as mulheres e com seus preconceitos, se achando melhor do que os outros quando ele mesmo podia ser vítima de preconceito. Por causa de sua imaturidade, seu relacionamento com Camilla, uma garçonete que conheceu em um bar e por quem Arturo se apaixonou, seria cheio de desavenças e idas e vindas. Mas também foi por causa desse relacionamento estilo amor bandido, que pude perceber que Arturo evoluiu ao menos um pouquinho, quando parou de olhar só para si e precisou cuidar de alguém. No final do livro, meu nível de simpatia por Bandini aumentou consideravelmente.

"- Arturo - falou. - Por que brigamos o tempo todo?" (página 142)

"- Vai se encontrar comigo! Sua insolente empregadinha de cervejaria! Vai se encontrar comigo!" (página 133) Arturo Bandini ensinando como não conseguir um encontro com a pessoa por quem se está apaixonado.

A escrita do autor é realmente boa, a leitura dos capítulos fluía com facilidade, os personagens foram bem construídos e eu conseguia me sentir dentro da história. E, confesso, não era possível odiar Bandini completamente, afinal, seu amor pelas palavras e suas tentativas de fazer jus a seu título de escritor eram cativantes e contagiantes.

Como disse anteriormente, a capa é linda! O título e o nome do autor estão em alto-relevo. Há pouquíssimos erros de revisão, as páginas são amareladas e bem grossas, a diagramação traz letras e espaçamento de bom tamanho, as margens externas são um pouco pequenas, mas nada que atrapalhe a leitura.

"Assassino ou barman ou escritor, não importava: seu destino era o destino comum de todos, seu fim o meu fim; e aqui, nesta noite, nesta cidade de janelas escuras havia outros milhões como ele e como eu: tão indistintos quanto folhas de grama. Viver já é duro. Morrer era uma tarefa suprema." (página 150)

Por hoje é só, espero que vocês tenham gostado da resenha. Fica a sugestão para quem quiser conhecer a escrita de John Fante, escritor que influencio autores como Charles Bukowski (é dele o prefácio do livro), sugiro também para quem quer viajar no tempo até os anos 1930, quando a segunda guerra mundial estava apenas começando e para quem gosta de livros com personagens escritores.

site: http://petalasdeliberdade.blogspot.com.br/2016/01/resenha-livro-pergunte-ao-po-john-fante_26.html
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Rodrigo Tomé 20/02/2016

Todos querem ser Arturo Bandini
Acabei de ler Pergunte ao Pó, do escritor estadunidense John Fante, e, como sempre ao fim da leitura de um clássico da literatura, perguntei-me “por que não li isso antes?”, bem antes, muito antes, por que não o li na casa dos vinte anos? – que é mais ou menos a idade do protagonista e narrador, o grande, o belo, o magnífico Arturo Bandini (ainda vou repetir muito esse nome). Tamanho é o tal Arturo Bandini que, na verdade, foi a motivo para escrever essa humilde resenha sobre um livro que, como poucos, empolgou-me e me fez rir e me emocionar a ponto de querer que ele não terminasse nunca (e claro, terminou muito rápido).

Não que a escrita não seja primorosa, pelo contrário. Parágrafos inteiros que devorava e relia com a vontade de ter escrito aquilo, com a vontade de copiá-los na parede do meu quarto. Sim, a escrita de Fante é sólida, mas também poética, de uma poesia corrosiva, que não deixa espaço para falsas contemplações. No entanto, a construção desse personagem tão humano, Arturo Bandini, e a narrativa de suas peripécias como aspirante a escritor, e a sua paixão pela literatura, e seu desejo em agradar um grande editor, o senhor Hackmuth, e a desastrada relação amorosa (ou seria de ódio?) com a “princesa asteca”, Camilla Lopez, são tão cativantes que até quem não gosta de literatura se sentirá envolvido e tocado. Uma experiência como poucas, onde a qualidade da escrita parece não se sobrepor ao que é narrado.

E ainda falando na linguagem, como havia dito antes, os parágrafos são muito bem construídos, frases geniais, mas não só isso: a narrativa segue esplendorosamente a instabilidade emocional do nosso herói, Arturo Bandini, temos sempre a sensação de movimentação e de ansiedade e de medo e de insegurança e de entusiasmo com a vida. Ele se mostra ora forte, ora vulnerável; ora cruel, ora piedoso – e tudo isso é acompanhado pelo magnífico emprego dos verbos e dos adjetivos que explodem a todo momento. Apenas os grandes consegue explorar ao máximo tão poucos personagens, sem que isso se torno forçado ou maçante. E quando nos afeiçoamos ao menino do Colorado que tenta a vida como escritor famoso em Los Angeles, sobrevivendo à custa, muitas vezes, de laranjas, surge então o elemento bombástico que faltava: a visceral mexicana, Camilla Lopez. Então tudo se torna ainda mais louco e mais intenso para o nosso querido Arturo Bandini.

Enfim, não tem como não terminar essa leitura sem querer ser (ou ter sido) Arturo Bandini em sua juventude. Trata-se daquelas figuras emblemáticas que juntam a caras como Holden Caulfield, de O apanhador no campo de centeio – grandes em sua pequenez diante do século XX e o desejo sádico de se estabelecer a Ordem Mundial –, que marcam todo uma época e influenciou e continuará influenciando gerações e mais gerações de novos escritores (inclusive este humilde servo). Sim, quero ser Arturo Bandini, quero lutar para não ser apenas engrenagens de um sistema falido já em sua origem. Como disse Carlos Drummond de Andrade: "Não serei o poeta de um mundo caduco / também não contarei o mundo futuro.", Arturo Bandini é esse poeta do hoje, é esse poeta da vida. E, sim, você também vai querer ser Arturo Bandini. Não tenha medo, entregue-se aos delírios do maravilhoso Arturo Bandini, entregue-se aos encantos de Pergunte ao Pó.
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hemersomn 31/03/2016

Ao Pó Voltaremos
John Fante nasceu no Colorado em 1909, começou a escrever em 1929 e teve seu primeiro conto publicado no The American
Mercury em 1932. Sua obra mais conhecida é Pergunte ao Pó, um dos livros preferidos de Charles Bukowski, que escreve o prefácio do livro.

Somos apresentados a Arturo Bandini, alter ego de Fante e escritor de contos que se considera o melhor escritor do mundo por seu conto O Cachorrinho Riu. Bandini já apareceu em outros livros de Fante, mas cada um se passa em fases diferentes de sua vida, logo não há uma sequência para que você possa ler os livros.

Bandini acaba de chegar em Los Angeles. Com apenas um conto publicado e o tempo todo precisando de dinheiro, ele é um sonhador frustrado, que aluga um quarto e sofre com os bloqueios criativos e a necessidade de dinheiro para se alimentar. Se apresenta como o autor de O Cachorrinho Riu, o que nem sempre comove as pessoas. À noite, em uma lanchonete, ele conhece a garçonete Camilla Lopez, despertando um misto de paixão e desprezo, começando por reclamar do café que pede. Toda a relação deles é entremeada de brigas, ofensas e desejos. Um jogo de implicância a cada vez que se encontram.

Por alguma razão Arturo Bandini me lembrou bastante o homem do subsolo de Dostoiévski.

A inquietude de Bandini, sua facilidade em gastar dinheiro com futilidades, seu coração bom e sua falta de tato em agir com as pessoas o tornam um personagem intrigante e pode ser que muita gente se identifique com ele. Em momentos você pode ter odiá-lo, em outros pode até sentir pena.

Não temos um romance meloso, nada aqui é clichê. Fante tem uma facilidade em nos situar nos locais com sua descrição deliciosa de ser lida e pela forma como nos cria empatia com os personagens. A incerteza dos sentimentos permeia cada página.

No meio dessa atribulada relação aparece Vera Rivken, como uma miragem, uma catarse, um tapa no tédio da espera. Ela quer Bandini, deseja o escritor que, para ela, não é tão bom escritor assim. Mas ela teme que ele veja sua carne, suas marcas. E da mesma forma que Vera aparece na vida de Bandini, ela desaparece.

Mas a presença de Vera foi tão marcante na vida do escritor que ele decide escrever seu primeiro romance inspirado na misteriosa mulher. Diz ser a sua obra prima. Diz ser o trabalho da sua vida.

É esse romance que põe fim ao livro. E ao romance alquebrado entre ele e Camilla.
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Pedro.Castello 31/05/2016

Todo mundo tem um pouco de Arturo Bandini.
Imagino eu, que quem entra no Skoob e faz disso algo corriqueiro, já imaginou escrever um livro.

Mas ao mesmo tempo que tem boas ideias pra iniciar um simples conto, acha também que elas não prestam.

Arturo Bandini não é diferente. Às vezes, em seus pensamento, se acha o melhor escritor do mundo. Mas, em pouco tempo, acaba se convencendo do contrário.

Arturo Bandini não é apenas o alter ego do Fante. Mas de todos nós, "Skoobers".

Uma pessoa que adora literatura e que larga tudo para perseguir o sonho de ser escritor. Será que ele vai conseguir? Será que você vai conseguir?

Pergunte ao pó, ora bolas!
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isadiaz 03/08/2016

Os vinte-e-poucos-anos de Bandini
'Pergunte ao Pó' relata os vinte-e-poucos-anos de Arturo Bandini, uma espécie de alter ego de Fante, em sua luta para se tornar um escritor reconhecido. Bandini é um personagem complexo, que vive numa montanha-russa emocional que vai de picos de completa insegurança em relação à própria escrita até momentos embebidos da arrogância característica dos vinte anos. Neste livro, Fante relata uma das primeiras paixões de Bandini e a sua inabilidade em lidar com mulheres, que é entremeada por doses de machismo e misoginia típica dos anos 1940. John Fante tem uma narrativa urbana e real, e não à toa é o inspirador outros grandes escritores, à exemplo de Bukowski. Vale a leitura.
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Ruh Dias (Perplexidade e Silêncio) 05/09/2016

SUGESTÃO DE LEITURA
Arturo Bandini é um ítalo-americano que tenta ser um escritor de renome nos Estados Unidos. Em uma destas tentativas, Bandini vai morar em Los Angeles, ambientada na década de 30. Ele se hospeda num quarto barato de hotel e vê-se diante de um estado de quase miséria, pois não trabalha e não consegue vender seus contos. Quando ganha algum dinheiro, Bandini não sabe privar-se dos prazeres da vida, e gasta o que recebe em pouquíssimo tempo, voltando à pobreza. Este ciclo se repete várias vezes ao longo da estória, e Bandini se reveza entre sentimentos de plenitude e uma culpa que o aflige e o angustia.

Neste meio tempo, ele conhece Camilla Lopez, uma garçonete com aspecto de mexicana de uma lanchonete que ele frequenta. Eles desenvolvem uma relação de amor e ódio e, até o término do livro, é difícil saber qual será o destino desta relação. Também é difícil compreender inteiramente as motivações de Camilla, mas Bandini se joga na relação com ela também sem a entender, o que nos deixa, como leitores, na mesma situação que ele.
A inocência e juventude de Bandini ficam muito aparentes quando ele tenta relacionar-se com as mulheres - sejam elas prostitutas ou Camilla. Neste ponto, Bandini me lembrou muito o Holden Caulfield de "O Apanhador do Campo de Centeio", de J.D. Salinger. Outra semelhança com "O Apanhador do Campo de Centeio" , na minha opinião, é a estrutura onde o narrador em primeira pessoa se "perde" em reflexões, digressões e tentativas de compreender seus próprios sentimentos.

Bandini é cheio de falhas (morais, espirituais e psicológicas) e, exatamente por causa de todas elas, ele se torna encantador e carismático. Como leitora, torci para que ele conseguisse sua redenção: não só com Camilla, mas consigo mesmo.

site: http://perplexidadesilencio.blogspot.com.br/2015/09/sugestao-de-leitura-pergunte-ao-po-de.html
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Julio.Argibay 14/09/2016

Gostei muito. Os personagens sao ricos e a estória muito interessante.
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Ana 18/11/2016

"Desci os degraus de Angel's Flight até Hill Street: cento e quarenta degraus, com os punhos cerrados, sem medo de homem algum, mas apavorado pelo túnel da rua Três, apavorado de atravessá-lo a pé - clautrofobia. Apavorado por lugares altos também e por sangue e por terremotos; fora isso, bastante corajoso, excetuando a morte, exceto o medo de que eu vá gritar numa multidão, exceto o medo de apendicite, exceto o medo de problemas cardíacos, a tal ponto que, sentado no seu quarto segurando um relógio e apertando a veia jugular, contando as batidas do coração, ouvindo o ronrom e o zumzum do seu estômago. Fora isso, bastante corajoso"
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N.Barbosa 23/11/2016

Viver antes de escrever!
O acúmulo de experiências na vida nos faz aprender um pouco de cada vez sobre viver, sobre o amor, o sexo e uma infinidade de outros sentimentos. Em alguns casos, ou na maioria deles, só o tempo vai nos dizer o significado e a importância daquela experiência. Arturo Bandini, na casa de seus 20 anos, nos EUA após os crack da bolsa em 1929, se lança ao desafio de escrever, de entrar para o rol daqueles que são capazes de transformar as situações da vida em prosa ou verso. Mas, Bandini ainda não tinha experimentado o amor, o sexo, os relacionamentos, ou descoberto a relevância da sua própria existência. O romance de formação de John Fante vai se desdobrar em um aprofundamento daquilo que formamos por meio das nossas experiências pessoais, mas, também mesclar a faceta daquilo que nos rodeia, dos fatores sociais, econômicos e temporais em que estaremos inseridos. A linguagem é extremamente fluida e agradável. A narrativa é envolvente e o enredo é conduzido por o que nos torna humanos, demasiadamente humanos: nossas emoções. Ao final da leitura, descobri que a obra já entrou sem dificuldade alguma na listas de meus livros favoritos. Altamente recomendado.
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r.morel 06/02/2017

As desventuras de Bandini
Na essência é um livro romântico. O protagonista sofredor, e pobre, batalha e se dedica no intuito de ser o famoso escritor que tanto sonhou. Se ganhará o Nobel, ou milhões de dólares como acredita e afirma em passagens de devaneios poéticos, não importa. Não para esse livro. O importante aqui é a viagem, o trajeto que ele fez. John Fante resvala de leve, bem de leve, na desigualdade social nos Estados Unidos e no preconceito contra os imigrantes e seus descendentes, mas é discreto, beirando o nada. O personagem e a sua vida e os seus sentimentos que interessam.

A história de Arturo Bandini - que tanto inspirou o jovem, e aspirante a escritor, Charles Bukowski - é a de um jovem ansioso por viver, sentir, viver, viver e com isso obter a experiência para ser o tão desejado escritor de obras magníficas. No capítulo 2, no primeiro parágrafo, Bandini reconhece o seu problema: “Você tem 10 anos para escrever um livro, vá com calma, saia e aprenda sobre a vida, caminhe pelas ruas. Este é o seu problema: sua ignorância da vida. Ora, meu Deus, rapaz, você percebe que nunca teve uma experiência com uma mulher? Oh, sim, eu tive, oh sim, tive bastante. Oh não, você não teve. Precisa de uma mulher, precisa de um banho, precisa de um bom empurrão, precisa de dinheiro”.

Em um bar, com seu último níquel, Bandini pede um café com creme. É péssimo. Parece água suja. Mas ele admira a garçonete, uma mexicana, Camilla Lopez, e por ela a história segue entre a desolação de Los Angeles e os quartos apertados e sujos repletos de pó e poeira pelos cantos, o vasto deserto soprando vapores de calor, as altas montanhas, as colinas e os segredos escondidos com eterno vento, calor e frio. John Fante, que também era roteirista, criou algumas boas cenas. É uma escrita visual. Vemos Bandini e imaginamos um filme. Não por acaso, “Pergunte ao pó” foi adaptado ao cinema, em 2006, por Robert Towne, conhecido pelo roteiro de “Chinatown”. O filme, estrelado por Colin Farrell (Bandini) e Salma Hayek (Camilla), no entanto, não fez sucesso. Críticas ruins. Bilheteria fraca. As cenas do livro no livro surtem mais efeito do que no filme.

Uma das melhores passagens é a longa descrição do terremoto que sacode Long Beach Pike. A descrição de Bandini - o livro é narrado em primeira pessoa - é arrasadora. É o fim do mundo. Corpos ensanguentados pelas ruas. Prédios aos pedaços. Um caos. Mas os exageros e floreios indicam uma realidade discutível. Bandini é um escritor e antes do terremoto teve a sua primeira experiência sexual. De repente, talvez, o terremoto nem tão foi destruidor quanto o relato.

“Pergunte ao pó” é um bom livro. Mantém o seu ritmo. A relação de Bandini e Camilla, contudo, em certo momento, se torna repetitiva. Eles brigam e tentam ficar juntos e depois brigam e tentam ficar juntos e brigam e ela, meu Deus, ama outro. Alguns críticos afirmam que o livro possui um clima noir. Se existir é ínfimo e irrelevante. Mesmo nas cenas noturnas, como o banho de mar de Bandini e Camilla sob o luar, o que predomina é uma visão romântica e bela, um sentimento de sonho, vez ou outra perpassado por um pesadelo rápido. Bandini e a sua musa inalcançável nos proporcionam bons momentos e uma leitura agradável.

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