Joice (Jojo) 17/11/2017
O pó que tudo toma, que tudo leva
Arturo Bandini é um personagem curioso. Aspirante a escritor, ele nos conduz (às vezes arrasta) por uma Los Angeles da década de 1940 enquanto corre (ou rasteja) atrás de seus sonhos. Uma contradição ambulante, ele é, sem dúvida, um dos grandes trunfos de John Fante em "Pergunte ao pó".
Admirador de Nietzsche e Voltaire, mas criado por uma mãe extremamente católica, Bandini, assim como a maioria de nós, é repleto de dúvidas e ações contraditórias. ("Eu podia me livrar daquilo por meio do raciocínio, mas não era o meu sangue. Era o meu sangue que me mantinha vivo, era o meu sangue que corria por meu corpo, dizendo-me que aquilo estava errado.") Generoso e muquirana, gentil e cruel, gênio e medíocre, amante e eunuco, Bandini alterna de humor a cada página, a cada novo capítulo. Seu amor por Camilla (seria amor mesmo, ou ele gostava de ideia de amá-la?), confuso e tumultuado, é apenas um reflexo de seu relacionamento com as pessoas ao seu redor. E são suas imperfeições que o tornam tão fascinante.
Este é meu primeiro contato com John Fante, e fiquei apaixonada pela escrita do autor. Rápida, volátil como água, ele nos leva para dentro e para fora da cabeça de seu personagem com facilidade, conferindo dinamismo à narrativa. Mau posso esperar pela primavera. ;)
A edição da Jose Olympio também é muito boa (gostaria, contudo, de mais páginas dedicadas à biografia de John Fante).
Super recomendado.