Ceile.Dutra 29/10/2012Resenha retirada do meu blog - www.estejali.comConfesso que é muito estranho quando você encontra seus segredos revelados em um livro, narrados com tanta realidade que te deixa sem ar ao saber que alguns sentimentos não são exclusividade sua.
Um Lugar para Ficar narra o relacionamento de Clara e Christian em todos os tempos: antes, durante e depois. Desde quando se conhecem em um jogo de basquete, se envolvem, até o momento em que Clara quer fugir dele.
Christian é um cara aparentemente normal, atraente e logo de cara chama a atenção de Clara. Esta, por sua vez, não hesita em tentar se aproximar dele, o que a deixa com a sensação de ousadia, mesmo sendo tudo de forma sutil, só o suficiente para iniciar uma conversa ou um passeio. A atração é tanta que logo começam a se envolver. Christian é diferente de seu ex-namorado, e Clara fica encantada. Tudo é muito intenso e várias promessas surgem, aparentemente representando o desejo comum de ficarem juntos, mas denunciando, aos poucos, a dependência de Christian em Clara, seu desejo de se apegar às declarações como verdades absolutas.
Aos poucos, ele vai dando sinais que não é só amor que sente por ela: são pequenas situações, frases curtas e alguns deslizes trazem à tona sua obsessão por Clara. Aquele momento lá no início que pra ela foi uma pequena ousadia, pra ele demonstrou como ela era atirada com todos os caras. Fazer amor com desejo, o levou à conclusão que ela havia feito aquilo com outro cara. E esses são só dois exemplos de uma imensidão de fatos que, na cabeça dele, são distorcidos por sua visão possessiva.
“Gostamos da ideia de estarmos protegidos, até que ficamos sufocados demais. Gostamos de ter segurança, até que ela signifique que não existe mais saída. E gostamos de pertencer a alguém, até percebermos que não somos mais nós mesmos.”
Quando chega um ponto em que Clara sente medo de Christian, em que tudo aquilo começa a aspirar perigo, ela “foge” com seu pai para uma cidadezinha praiana e se desfaz temporariamente dos amigos e procura recomeçar sua vida, como se nada nunca tivesse acontecido.
“Mas, agora, eu só sentia aquela força que me atraía. O oposto do desejo, a obrigação misturada com terror.”
Alternando os capítulos entre presente e passado, Clara é a narradora da própria história, contando, pela primeira vez, todo o efeito que Christian teve em sua vida. Ela se despe e conta seus medos, revelando intimamente suas inseguranças. A escrita é bem fluída e de uma leitura despretensiosa, me vi envolvida em um diário que nunca escrevi.
Já adianto: muitas pessoas não vão gostar do livro e se você espera sangue, nem se meta a ler. O excesso de realidade no livro pode ser um ponto negativo, pois espera-se um desenrolar hollywoodiano, com tortura física, mutilação e não é isso que encontramos. Mas pra mim, foi o ponto mais positivo do livro e digo com conhecimento de causa. A tortura psicológica, o que determinada pessoa representa pra você é muito pior, pois é tudo subjetivo: não é algo que dá pra medir a dimensão, pois enquanto a pessoa não faz nada, ela se julga capaz de qualquer coisa.
“Mas a verdade é que quando a gente não é capaz de cometer uma maldade ou loucura, não imagina que existam pessoas capazes de cometê-los.”
Outra coisa bem positiva do livro, é que a autora não nos fez julgar Christian antes de qualquer fato, ela desenrola a história da forma que aconteceu: nos permite envolver com ele e, à medida que as mudanças ficam claras para Clara, estas também ficam pra gente. No fim, o livro entrou para os favoritos de 2012 e possui muitos quotes legais, que dizem muito sobre Christian e Clara.
Não acho que este livro vai mudar a cabeça das pessoas, as meninas que estão envolvidas com “pseudo-psicopatas” podem até identificar um “sintoma” ou outro, mas a realidade é que enquanto estamos apaixonadas, pouco ligamos para as atitudes, infelizmente (na maioria das vezes), só chegando a situações extremas é que vamos tomar alguma atitude. É hipocrisia negar.