Sampaio 27/01/2011
Tristessa, Jack Kerouac
Tristessa (1955- 1956), podia ser felicidade com tristeza, mas é só tristeza. Foi o primeiro e mais querido livro de Jack Kerouac (Lowell, Massachusets, 12/03/1922- St. Petersburg, Flórida, 21/10/1969), sua família de origem francesa, idioma que dominava totalmente.
Tudo o que faço, colho (p. 29)
Jack Kerouac não sabia falar espanhol. Escreveu Tristessa e publicou sem emendas e orgulhava- se disso. O espanhol escrito no livro é o falado, o idioma tal como ele o entendia: “Eztô duenté” (“Estoy enferma”, “estou doente”) queixava- se Tristessa, que era viciada em morfina. o Livro foi escrito em duas partes: a primeira, em 1926 e a segunda, um ano depois.
Os personagens principais são Jack (mesmo nome do autor), um americano que viaja para o México e Tristessa, uma “índia, asteca, com olhos de misteriosas pálpebras à Billy Holliday, (…) uma tez de penugem de pêssego” (p. 16).
O ambiente é de pobreza e decadência no submundo mexicano das drogas, prostituição e falta de recursos.
Os animais: o gato pulguento e magro, a galinha tão querida, a pomba e o cachorro Chihuahua moram com Tristessa e sua família. Gente e animal se confundem, convivem como iguais, dormem nas mesmas camas, comem a mesma comida, comportam- se por instinto e sobrevivência. Ocorre uma espécie de troca sinestésica, animal racional pelo irracional e vive- versa, um estágio intermediário: homem quase animal e animal quase humano. No entanto, tudo é feito com naturalidade, naquela realidade que poderia ser só de infelicidade, mas não é isso que acontece e Jack usa um tom que hoje seria considerado “politicamente incorreto”, generalizado: “Tudo é tão pobre no México, as pessoas são pobres, e, todavia, fazem tudo com ar feliz e despreocupado, seja lá o que for.” (p. 34).
Jack estava apaixonado por Tristessa e entrou no seu mundo. Realidade ou delírio provocados pelo “whiskey” misturado com a morfina e o amor, Jack (personagem e autor parecem confundir- se) interage com os animais e a sensação é de caos total.
Verdades que Jack aprendeu na Cidade do México: todas as pessoas nascem para morrer e para amar…Jack: “La vida es dolor” (A vida é feita de dor). Tristessa: “mas a vida também é amor”. (p. 56)
Tristessa na realidade chamava- se “Esperanza” e era uma prostituta que Jack Kerouac se relacionou. Jack, autor e personagem, não disse que amava Tristessa/ Esperanza e foi tarde demais para salvá- la. Há quem diga que o amor é mais forte que tudo.
Essa história é um triste tratado de como destruir- se com as drogas e, provavelmente, um tratado de arrependimento. Kerouac morreu de um ataque cardíaco aos 47 anos, já bem envelhecido, por causa das drogas.
Desde o começo insondável dos tempos até o futuro infinito, os homens têm amado as mulheres sem lhes dizerem (…) (p.61)
Originalmente postado em: http://fernandajimenez.com/2011/01/17/tristessa-jack-kerouac/