Jayme 31/01/2014
Em Anarquistas, graças a Deus o leitor descobre como se deu a primeira formação de Zélia Gattai, especificamente sua infância e, de quebra, a história de uma geração de imigrantes italianos que ajudou a forjar a comunidade anarquista no Brasil. Os documentos, aqui, perdem força para o relato de Zélia que ganha o leitor ora pela forma de tratamento dado aos temas, ora pela exposição de suas impressões, que, se não aparecem de forma enfática, surgem como uma conversa ao pé do ouvido. Nota-se, nesse caso, que a maior virtude de Zélia Gattai foi não ter emulado a voz de Jorge Amado, mas, sim, de ter encontrado sua própria voz.
Sem dúvida, é o livro mais comentado de Zélia Gattai. Trata-se, do começo ao fim, de um livro de memórias. O que o diferencia, no entanto, dos relatos dos estadistas ou dos grandes homens de seu tempo, é o fato de a narrativa da escritora não contar com um tom solene ao se referir aos acontecimentos pelos quais ela passou. Ao contrário, prefere o traço da anedota e, por conseguinte, se desvincular dessa imagem de escritora vetusta com chancela da elite cultural do País.