Sabrina 21/02/2022
Uma leitura surpreendente, com elementos fantásticos e muito drama
Recentemente conheci os livros da Maggie e me senti envolvida pela sua escrita. Apesar dos seus livros possuírem elementos fantásticos fiquei muito impressionada com o desenvolvimento dos personagens. Geralmente tenho um pé atrás com livros que possuem um grande número de personagens, pois eles podem ser facilmente esquecidos durante a narrativa ou ter a sua função resumida em figuração. Mas no caso dos livros da Maggie, cada personagem tem sua história e suas motivações e ao fazer isso ela acaba dando profundidade e vida ao personagem ‒ que só faltam pular para fora dos livros. Contribuindo assim para uma narrativa rica e envolvente.
E esse é o caso de A corrida de escorpião. Nela conhecemos dois personagens, Puck e Sean, ambos habitantes da pequena Thisby, uma ilha sem outra em qualquer lugar do mundo. Em Thisby cavalos saem do mar famintos aterrorizantes seus habitantes e ao mesmo tempo provocando fascínio devido sua força e velocidade.
É assim que a grande Corrida de Escorpião tem início, uma vez ao ano homens arriscam suas vidas em cima dos grandes cavalos do mar enquanto uma platéia assiste esses mesmo homens ser venerados e mortos.
Nesse cenário Sean e Puck se aventuram pelo tão sonhado prêmio da corrida. Apesar de ambos terem ficado órfãos por conta dos cavalos eles reagem diferentes aos animais. Para Sean, eles são criaturas milenares fantásticas, enquanto para Puck são seres quase bestiais que roubaram a vida de seu pai e sua mãe, deixando-a sozinha com os dois irmãos.
Mas quando o mar de Thisby os chama, eles se veem obrigados não só a participar da corrida, como vencê-la. Para isso terão de deixar seus medos de lados e serem corajosos o suficiente para correrem lado a lado com criaturas belas e ao mesmo tempo terríveis.
Thisby é uma história à parte, por milhares de anos as pessoas são atraídas para a pequena ilha. Não se sabe quando ou porque os cavalos apareceram na ilha, mas desde que se sabe a cultura da cidade sempre foi baseada nos seres fantásticos.
As descrições da Maggie sobre o lugar carregam história e detalhes. Essa mesma riqueza de detalhes traz um tom quase real à narrativa. Ajuda também o fato dos personagens terem vida própria.
Cada morador ou turista é importante para construir a imagem ilha. Você tem personagens que veem a ilha como um lugar mágico, outros enxergam nela uma oportunidade de ganhar dinheiro ou até mesmo diversão. Mas há também aqueles que simplesmente não veem nada de especial no lugar, estando ali apenas pelas circunstâncias da vida.
A maneira com a qual cada personagem reage ao lugar traz um dramaticidade pouco características em histórias fantásticas e por vezes se sobrepõem às criaturas sobrenaturais. Mais do que uma história sobre seres terríveis, essa é uma história sobre pessoas.
O que pode ser um problema se o leitor busca uma narrativa rica em aventura. Ele dificilmente encontrará isso aqui. Não que não exista aventura e emoção, existe, mas aqui seu ritmo é dado pelos próprios personagens à medida que eles vão vivendo suas vidas.
Há poucos momentos de tensão, tendo seu clímax somente lá pro final. O que não é um problema já que a autora trabalhou muito bem todo desenvolvimento da história. No entanto, como é típico de narrativas sem grandes flutuações de tensão, esse não é um livro muito ágil. Muitas vezes ele pode ser até meio parado, principalmente quando a autora coloca os personagens para discorrer sobre seus sentimentos em relação aos cavalos ou quando ela simplesmente filosofa sobre a natureza do lugar.
A naturalidade com que os personagens enxergam a vida na ilha também pode ser vista nos relacionamentos. O leitor não vê grandes declarações ou até mesmo ações em que os personagens demonstram seus sentimentos. A não ser quando é para deixar bem claro alguns desafetos. Ainda assim é tudo bem sutil.
A leitura de A corrida de escorpião foi uma leitura surpreendente. A Maggie criou uma história fantástica cheia de drama e emoção. Pegando a própria sinopse, esse é um livro inesquecível. Principalmente se o leitor embarcar na narrativa e deixar um pouco de lado o que ele sabe sobre fantasia. Se fizer isso, o leitor tem grandes chances de ter uma experiência incrível.
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