Leitora Viciada 02/02/2013Este foi um dos primeiros lançamentos da Editora Seguinte, responsável desde então pelas publicações juvenis da Companhia das Letras.
O exemplar enviado como cortesia é uma prova antecipada para divulgação, ainda em fase de revisão e não tive a oportunidade de comparar ao resultado final. No entanto, aprovei o protótipo com uma diagramação interessante.
A capa é uma ilustração mais bonita que a original que simboliza exatamente o que ocorre com Artie na história. Todo o seu dia dá errado e todos parecem estar contra ele.
O autor é R. L. Stine, considerado o "Stephen King da literatura infantojuvenil" e famoso pela série Goosebumps. Realmente o livro agradará em cheio o público para o qual foi escrito!
Narrado em primeira pessoa, com uma linguagem simples e juvenil a história é contada por Artie. Como um garoto comum na faixa dos onze/doze anos de idade que precisa enfrentar o seu primeiro dia de aula em sua nova escola. O problema é que após sobreviver ao primeiro dia desastroso, terrível e vergonhoso, Artie acorda e percebe que o segundo dia está parecido demais com o primeiro.
Seria uma sensação de déjà vu? Se este segundo dia é na verdade o primeiro, então o primeiro foi o quê? Um pesadelo? Uma premonição? Artie fica perdido. Porém esse "segundo primeiro dia de aula", além de quase igual ao primeiro, consegue ser muito pior, assustador e inacreditável.
O livro possui uma estrutura genial. Ele possui várias partes, cada uma se iniciando com uma folha de caderno escrita "Primeiro dia". Seguem então os capítulos com os acontecimentos do dia.
Quando o dia termina os capítulos são zerados e a página anunciando o primeiro dia aparece novamente. Artie acorda e acompanhamos o menino em uma jornada apavorante, um ciclo que ele não consegue romper.
Não posso contar quantos "primeiros dias" o livro possui, mas cada um possui uma quantidade variada de capítulos, de acordo com o desenrolar do dia; também não posso contar quantos são no total, para não estragar a surpresa de quantas vezes tudo se repete.
O livro é curto, de leitura rápida, mas muito empolgante e inteligente. É a prova de que um livro infantojuvenil pode e deve conter terror e suspense próprios para a idade, mas sem ofender a inteligência da garotada. É um thriller, possui um terror psicológico muito bem humorado e divertido.
Embora Artie não compreenda o porquê de estar preso no tempo, ele tenta enfrentar os problemas, evitá-los, para assim quebrar essa provável maldição. Ele acredita que existe algo que possa fazer (ou evitar acontecer!) para que o segundo dia chegue logo, já que ninguém mais percebe que tudo se repete.
Aviso que o livro não chega nem perto da monotonia ou tédio, muito pelo contrário: É muito inteligente, diferente e engraçado. É um humor negro para o público alvo, na medida certa. A repetição é muito bem elaborada, criativa e atiça cada vez mais a curiosidade do leitor.
O que já seria um terror para qualquer pré-adolescente, um primeiro dia de aula em uma escola nova em que tudo dá errado, consegue ser ainda mais desastroso. A cada novo primeiro dia, as coisas tornam-se mais assustadoras.
O enredo se desenvolve utilizando as mesmas situações, personagens e locais, mas a cada dia fatos mais estranhos vão ocorrendo. Os acontecimentos se tornam mais absurdos.
Chega ao ponto do suspense e do terror se misturarem e o primeiro dia de aula se transforma em algo completamente bizarro e sem noção. Artie está preso no tempo e a intensidade da loucura aumenta a cada dia gradualmente.
Estaria Artie louco? Ou o mundo enlouqueceu?
Eu não apenas me divertia, eu ria das situações e meu pensamento elaborava várias teorias estranhas sobre o motivo de Artie estar sofrendo aquele horror. Pensei em vários desfechos, porém passei muito longe do final criado pelo autor, o que me agradou bastante! Acredito que um pré-adolescente que adora suspense e terror vai adorar o desfecho.
Espero que os leitores saibam interpretar as mensagens existenciais que o autor deixa no fundo da história, compreenda o porquê de existirem personagens caricatas que representam tipos comuns na sociedade estadunidense e as reflexões geradas pelo final da história.
Feche o livro e reflita bem sobre o fim.
Um infantojuvenil recomendado a todos que possuem a mente aberta e fértil.
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