Leilane 26/12/2014
Um livro para refletir sobre momentos fugazes, mas importantes
Eu ganhei este livro na Bienal do Livro de São Paulo que ocorreu em 2012 e só o fato de ser ambientado em Londres já me fez querer ler de imediato. Logo no início da leitura, encontrei uma das melhores citações que já li e exprime bem o sentimento de quem mora e ama uma cidade grande:
“EU AMO Londres. Amo tudo aqui. Amo os lugares, os museus e as galerias. Mas também amo a sujeira, a umidade e o mau cheiro. OK, bem, eu não quero dizer amor exatamente. Mas não me importo. Não mais. Não agora que estou acostumado com isso. Você não se importaria mais com nada quando já está acostumado.” (p. 17)
Desse ponto em diante, o autor descreve referências mais culturais, mas acredito que essa sensação de costume é algo fácil de se identificar. É uma relação de amor e ódio com o lugar, mas parece que o amor é sempre mais forte. São Paulo me faz sentir assim, igual ao Jason.
Jason Priestley – não, não é o do seriado Barrados no Baile – é um cara mediano, de 32 anos, que já deu muita mancada e se tornou uma pessoa perdida no processo. Atualmente, ele é um crítico do London Now, um tipo de Metrô News de Londres, cidade onde mora e divide apartamento com seu melhor amigo Dev que tem uma loja de vídeo game no mesmo prédio do apartamento.
Jason tem uma obsessão peculiar pela sua ex-namorada Sarah, ou seja, receita para ele dar mais mancadas ainda. E posso dizer que nessa receita envolve álcool e facebook. E por falar em facebook, achei muito interessante ler um livro que é tão atual, afinal, muitas pessoas usam facebook e estão sujeitas as coisas boas e ruins advindas de seu uso. Outra coisa que achei interessante é que, ao longo da leitura, não achamos que ele vai ter muito mais coisas para revelar além do que já revelou, mas ele vai e joga mais uma bomba e tudo isso regado a reflexões tocantes:
“Na verdade, eu estava remoendo. Mas é o que os egoístas fazem. Nós nos entristecemos com o que temos e nos entristecemos com o que perdemos quando percebemos que não somos mais o centro da atenção ou apenas uma parte das coisas.” (p. 269)
E tem a Garota, sim, a Garota que ele teve um encontro tão rápido e que se torna a chama para Jason mudar sua vida mediana. Ao longo do livro, vamos descobrindo algumas coisas sobre ela, quase como pistas, pois entre capítulos o autor coloca posts do blog dela, mais uma vez, um livro bem atual, mas que ao mesmo tempo traz como instrumento inicial da trama um elemento antigo, quase esquecido pela maioria: uma câmera descartável. Aquela caixinha de surpresas que revelam momentos que não foram apagados por não serem tão bons como acontece quando se tira fotos com uma câmera digital. Com essa ferramenta inusitada em mãos, Jason vai atrás de mais informações sobre a garota e acaba descobrindo mais sobre si e a valorizar as pessoas a sua volta:
“As pessoas ao seu redor são você. Elas dividem a sua história. Elas podem até escrevê-la com você. E quando você perde uma, não há dúvida de que você perde uma parte sua.” (p. 366)
Todas as reflexões e compreensões do personagem tornam o livro delicioso. O livro é cheio de coincidências, revelações e reviravoltas e, mais importante, cheio de falhas, não falhas na história, mas falhas do personagem, falhas que representam as falhas humanas, isso foi o que mais me chamou atenção e que me fez adorar a história. Nem todos levamos uma vida cheia de grandes vitórias ou uma vida cheia de grandes tragédias (sabem do tipo que se tornam grandes filmes que ganham Oscar), a maioria leva uma vida na qual tudo ocorre sem o intensificador “grande”, sempre na esperança de ter um futuro feliz, assim como os outros. Não sei por que o mundo desvaloriza as pequenas coisas da vida, acho que temos de viver cada momento e emoção, por menor que sejam, e dar muito valor a eles! Esse livro retrata bem isso, todos os altos e baixos, e a esperança de ser feliz.
Recomendo o livro para quem quer ser levado a refletir com base em momentos pequenos, mas importantes. Não esperem um romance do começo ao fim, o livro trabalha todas as relações interpessoais do personagem, valorizando a amizade e trabalhando o fato de que somos um em meio a milhões, mas mesmo assim temos o direito a ser felizes.
site: http://lerimaginar.com.br/blog/2013/09/13/charlotte-street-de-danny-wallace/