O Bom Crioulo: edição revista e anotada (Clássicos de Literatura Gay Livro 2)

O Bom Crioulo: edição revista e anotada (Clássicos de Literatura Gay Livro 2) Adolfo Caminha




Resenhas - Bom Crioulo


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Rafael Mussolini 30/07/2020

Bom Crioulo
"Bom crioulo", livro de Adolfo Caminha (Editora Todavia, 2019) publicado originalmente em 1895 impressiona e muito pela sua coragem. Caminha ousou escrever uma história que conta abertamente sobre uma relação homoafetiva entre dois marinheiros em pleno século XIX. Já podemos imaginar a polêmica e revolta que esse livro causara na época de seu lançamento, pois além de narrar uma história de amor obsessivo entre dois homens, soma-se a isso o fato de que era também uma relação inter-racial. Amaro, o "bom crioulo" é um homem negro que após fugir das "fazendas" onde trabalhava ainda em regime de escravidão, consegue posto em um navio como marinheiro. Ele se apaixona por Aleixo, rapaz recém chegado ao navio e que assume posto de grumete. Aleixo é ainda um adolescente que chama atenção por sua beleza. O narrador o descreve como um "belo marinheirito de olhos azuis, muito querido por todos e de quem diziam-se cousas". A partir de um episódio em que Amaro defende Aleixo e recebe um castigo de chibatadas pela ousadia, começa a nascer uma relação entre os dois, onde o processo de conquista se dá de uma forma nunca antes vista na literatura brasileira em se tratando de uma relação homossexual.

Adolfo Caminha produziu uma obra de muita importância para a nossa literatura e sua relevância pode ser medida, ironicamente, pela sua péssima recepção. "O bom crioulo" é um livro onde os protagonistas são homens gays, sendo um deles negro. Se ainda hoje, livros com temática homoafetiva são perseguidos por conservadores e precisamos ainda levantar a bandeira do "leia livros escritos por pessoas negras", imaginem isso em 1895. Hoje, considera-se que essa foi a primeira publicação a ter um homem negro e gay como protagonista e realmente duvido que outra obra tenha conseguido fazer isso antes de forma tão explícita. "O bom crioulo" caminhou muito para ser reconhecido como uma obra revolucionária e um dos grandes exemplos do naturalismo brasileiro. Caminha morreu muito jovem, com apenas 29 anos, e isso acabou fazendo com que o livro caísse no esquecimento. Só foi reeditado nos anos 30 e mais uma vez causou comoção. A Marinha Brasileira reagiu energicamente, pois não queria ver uma história sobre marinheiros gays circulando por aí. Nos anos 50 o livro volta a surgir por conta da atuação de movimentos LGBT e de acadêmicos que reconheceram a potência da obra.

Na introdução desse texto digo que o livro trata "abertamente" de uma relação entre dois homens e esse é um dos principais fatos que merecem ser mencionados. Quando ouvi falar sobre "O bom crioulo" e o vi figurando na lista de romances com temática LGBT logo imaginei, por conta da época que fora escrito, um texto que iria trabalhar apenas com a sugestão dos atos e dos sentimentos. Não é isso que se encontra. Caminha retrata sem pudores todos os desejos que a figura de Aleixo causa em Amaro. Encontramos trechos onde se descreve toda a tensão sexual que acontece entre os dois, como também aquelas que são da ordem do sentimento, do amor romântico - "o negro esquecia todos os seus companheiros, tudo que o cercava para só pensar no grumete, no 'seu bonitinho' e no futuro dessa amizade inexplicável."

É muito interessante a forma como o autor explora a homossexualidade como algo que vem do âmago do indivíduo, como um sentimento arrebatador e inerente a quem se é, algo a frente do tempo e muito antes de iniciarmos discussões mais aprofundadas sobre o fato de que ninguém se torna gay. Adolfo Caminha, em sua forma de narrar, demostra comungar de certa forma da ideia de que a homossexualidade não é uma escolha e sim uma condição.

"Sua memória registrava dois fatos apenas contra a pureza quase virginal de seus costumes, isso mesmo por uma eventualidade milagrosa: aos vinte anos, e sem o pensar, fora obrigado a dormir com uma rapariga em Angra dos Reis, perto das cachoeiras, por sinal dera péssima cópia de si mesmo como homem; e, mais tarde, completamente embriagado, batera em casa de uma francesa no largo do Rocio, donde saíra envergonhadíssimo, jurando nunca mais se importar com "essas cousas"..."

O trecho acima é exemplo muito representativo para a luta contra a homofobia e iniciam uma discussão sobre a naturalidade das relações entre pessoas do mesmo sexo na literatura. Isso é claro, não livra a obra de passagens problemáticas sobre a representação do homem gay, e principalmente do homem gay e negro. Para entender a relevância dessa obra é preciso estar consciente o tempo todo do período em que o livro foi escrito, das ideias sobre sexo e sexualidade que eram proferidas e que ainda não havíamos inciado a maioria dos estudos e discussões sobre diversas teorias que utilizamos hoje como argumento para entender a homossexualidade no contexto social.

Se por um lado Adolfo Caminha coloca o desejo entre dois homens como algo inerente a algumas pessoas, por outro, em muitos pontos ele entra em contradição ao equiparar a homossexualidade com algo pecaminoso. É como se existissem duas forças contrastantes na escrita de Caminha, sendo uma que luta pela liberdade de pensamento e dos corpos e outra ainda imersa em convenções sociais e marcada a fogo por preceitos cristãos. Um trecho que ilustra bem esse conflito aparece logo após Amaro e Aleixo terem sua primeira relação sexual, ao qual o narrador arremata com: "E consumou-se o delito contra a natureza." e mais a frente em outra parte lemos "não havia jeito, senão ter paciência, uma vez que a "natureza" impunha-lhe esse castigo."

Esse mesmo tipo de conflito se dá quando o autor se refere à negritude de Amaro, o bom crioulo. Apesar de Adolfo Caminha ter sido nitidamente um homem com ideais abolicionistas, e de na maior parte da obra ele construir um personagem complexo, humano, devoto, amoroso e meio que parecer defender muitos de seus atos de violência levando em consideração um histórico de racismo e escravidão, seu texto muitas vezes deixa escapar alguns discursos e representações dotados de estereótipos racistas que acabam por legitimar uma ideia ou sensação de inferioridade na diferenciação entre negros e brancos. No livro, quando o negro Amaro aparece com uma característica que se sobressai aos homens brancos é em legitimação de uma ideia fortemente racista da capacidade dos negros em lidar com dores extremas.

"Entretanto, já iam cinquenta chibatadas! Ninguém lhe ouvira um gemido, nem percebera uma contorção, um gesto qualquer de dor. Viam-se unicamente naquele costão negro as marcas do junco, umas sobre outras, entrecruzando-se como uma grande teia de aranha, roxas e latejantes, cortando a pele em todos os sentidos."

Essa representação do homem preto, quase que imune a dor segue por todo o livro. Na sequência desse episódio das chibatadas o narrador diz que apenas ao alcançar o número de 150 chibatadas que um filete de sangue se torna visível e começa a escorrer pelas costas de Amaro - algo humanamente impossível.

Uma outra característica que reforça estereótipos racistas está na objetificação do corpo negro. Amaro é visto como um homem que "naturalmente" nasceu para fazer sexo da forma mais selvagem possível e isso é representado muitas vezes nos momentos em que o narrador nos mostra a visão dos outros personagens sobre Amaro e seu corpo e nas partes em que os desejos sexuais do próprio Amaro em relação a Aleixo são narrados.

Olhando para a história da escravidão e toda a crueldade que foi realizada em nome dela, percebemos que para que isso fosse possível era necessário um processo de desumanização do povo preto e em muitos trechos vemos essa desumanização ainda presente. Adolfo Caminha usa em demasia características de diversos animais para se referir a Amaro.

"Amaro soube ganhar logo a afeição dos oficiais. Não podiam eles, a princípio, conter o riso diante daquela figura de recruta alheio às praxes militares, rudo como um selvagem, provocando a cada passo gargalhadas irresistíveis com seus modos ingênuos de tabaréu; mas, no fim de alguns meses, todos eram de parecer que "o negro dava para gente".

Se por um lado "O bom crioulo" colabora e muito para a questão da representação da homossexualidade na literatura brasileira e sua naturalização, por outro, ele faz muito menos em relação à questão do negro e a violência do racismo. É claro que existe na obra uma intenção crítica de retratar uma sociedade racista e muitas das falas e atitudes das personagens, aparecem com esse intuito, mas existem também muitos elementos que nos levam a crer que algumas ideias expostas partiram da própria visão de mundo de Caminha por conta do contexto em que vivia. É um exemplo muito didático do racismo que pode vir sutil como uma brisa e pesado como uma porrada no rosto.

Todas essas problemáticas que levantei não querem dizer que eu não tenha gostado do livro, muito pelo contrário. "O bom crioulo" é de fato uma obra prima e mais um exemplo do porque um clássico se torna um clássico. Para além das questões sobre a homossexualidade e do preconceito racial o leitor também poderá navegar em uma obra que retrata de forma muito íntima o cotidiano dos marinheiros e a forma como estavam sujeitos a maravilhas, mas também a uma espécie velada de escravidão. O trecho abaixo demonstra bem o clima de violência que existia entre os marinheiros e Adolfo Caminha, sem perceber já ilustrou um dos motivos que alguns anos a frente iria culminar na revolta da chibata.

"A marinhagem, analfabeta e rude, ouvia silenciosamente, com um vago respeito no olhar, aquele repisado capítulo do livro disciplinar, em pé, à luz dura e morbente do meio-dia, enquanto o oficial do quarto, gozando a sombra reparadora de um largo toldo estendido sobre sua cabeça, ia e vinha, de um bordo a outro bordo, sem se preocupar com o resto da humanidade."

É um retrato interessante sobre o Rio de Janeiro em uma época de convulsão social e de acontecimentos importantes para constituição da sociedade que vivemos hoje, assim como consegue ser um tratado sobre liberdade. Utilizando da figura de Amaro, Adolfo Caminha tece passagens muito bonitas sobre a busca desenfreada por liberdade, uma vez que Amaro não buscava só sua liberdade afetiva e sexual, como também o simples fato de poder ir e vir. A ideia do marinheiro que navega é um prato cheio para falar de liberdade e desse personagem fascinante que deixava a grandeza do mar tomá-lo de uma coragem espartana.


site: https://rafamussolini.blogspot.com/
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Matheus656 24/07/2020

Uma obra importante da literatura brasileira, principalmente por se tratar do primeiro romance homossexual da literatura moderna.
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vênus 24/07/2020

Importante
É um livro muito importante por ser um dos primeiros a trazer a temática do romance homossexual no Brasil. No entanto, não me cativou e foi uma luta terminar de lê-lo.
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Sara 11/07/2020

Retrata com detalhes o cotidiano de marinheiros, abordando isso com críticas à violência proveniente do autoritarismo. Tem importante narrativa homoafetiva, sendo o protagonista também um escravo fugido.
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Hélio 04/07/2020

Surpreendente
O livro de Adolfo Caminha pode causar surpresa só por visibilizar um protagonista homossexual, negro e trabalhador. Só isso, somado a publicação no final do século XIX, em um país que a poucos anos havia abolido a escravatura já é um fato notável. Mesmo trazido para nosso momento atual, e com notável avanço da literatura, esse perfil de personagem é pouquíssimas vezes, representado. Mais um ponto para Caminha!

Além dessa dinâmica principal, o que mais me surpreendeu foi a ambiguidade dos personagens no que diz respeito a sua orientação sexual. Ao fugir dos estereótipos mais óbvios, ele nos presenteia com personagens complexos em suas identidades sexuais.

Outro ponto que só enriquece a discussão é a objetificação. Diferente do comum, o jovem homem branco bonito com ascendência europeia é mais um fantoche do que um agente, como seria de se esperar em todas as situações. Ao ser usado, ora pelo negro, pobre, ex-escravo, ora pela mulher, mais velha, gorda, estrangeira, ele subverte nossa expectativa de ação, e recoloca o protagonismo na perspectiva de diferentes personagens,o que é muito rico como exercício para inspirar visibilidades.
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Tiago 29/06/2020

A pior leitura do ano até agora e o livro mais contraditório que já li.
Únicos pontos positivos, ao meu ver, foram algumas descrições bonitas do ambiente e a "ousadia" do autor de representar uma relação homoafetiva naquela época. Entretanto, de resto, para mim, o livro foi um desprazer: não houve um aprofundamento digno dos personagens (seria muito interessante saber mais sobre o passado de Amaro e abordar o racismo), a paixão entre os dois é superficial e até mesmo abusiva, a história em si me causou preguiça, decepção e nenhum tipo de envolvimento. O valor histórico dele se dá só pelo pinguinho de representatividade e a colocação de dois homens em uma relação breve, pois muitas passagens são racistas (tratando o negro como um animal, uma fera) e homofóbicas (descrevendo a relação homossexual como patológica, uma vez que o autor baseou-se na ciência da época para construir a narrativa e seguir o movimento naturalista; além de sempre comparar Aleixo com a figura feminina).
Mesmo deixando os valores da época de lado, o livro continua sendo, para mim, em aspectos literários, raso, jogado e porcamente desenvolvido.
Gostaria de acreditar que Caminha escreveu a obra com o intuito de promover a representatividade, mas me pareceu muito mais uma tentativa de fazer sucesso com o tema e chocar o público ao explicita-lo em uma história sem profundidade.
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Jefferson Vianna 01/06/2020

É que nem todos têm força para resistir: a natureza pode mais que a vontade humana...
Difícil explicar em poucas palavras os inúmeros sentimentos que foram despertados durante e após a leitura deste livro magnífico. Se eu soubesse que era tão bom, não teria adiado tanto. Recebi a indicação deste livro em 2010, porém somente agora realizei a leitura. “Bom-Crioulo” é considerado o primeiro romance de temática homossexual da literatura brasileira. A primeira edição do livro foi publicada em 1895, agora imaginem: Se hoje em dia, pleno século XXI, ainda existe homofobia e racismo, como era no século XIX? Certamente que o livro não foi bem aceito e sim, foi extremamente repudiado! O enredo, a narrativa e a construção da trama é de uma beleza ímpar, não é uma leitura leve, mas certamente é uma leitura que desperta bons reflexões! Não é por menos que este livro, apesar de pouco divulgado é considerado um clássico naturalista da nossa tão estimada literatura! Leitura recomendada.
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Quotes do livro: “Como é que se compreendia o amor, o desejo da posse animal entre duas pessoas do mesmo sexo, entre dois homens?” – pag. 41, “É que nem todos têm força para resistir: a natureza pode mais que a vontade humana." - pag. 42 e “Bom-Crioulo sentia-se mais do que nunca abandonado, mais do que nunca lhe doía fundo o desprezo do grumete, esse desprezo calculado, proposital, voluntário, com que Aleixo o esmagava, o ludibriava impunemente." – pag. 151
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JoAo.Belos 19/05/2020

Preciso ler novamente
O livro é bom, a narrativa te prende e possui vários elementos históricos para compor o enredo. Eu preciso de uma nova leitura para analisar detalhadamente o narrador. No primeiro olhar, ele fica em cima do muro quanto ao cientificismo da época.
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jaircozta 15/05/2020

O Ceará é uma terra de gênios literários
#livro Bom-Crioulo
#autor Adolfo Caminha

O romance naturalista Bom-Crioulo, escrito em 1895 pelo cearense Adolfo Caminha, é considerado o marco da literatura queer no Brasil, ao retratar de forma requintadamente fotográfica a relação homoerótica e interracial entre dois marinheiros no Brasil pré-abolicionista.

Na narrativa conhecemos o jovem protagonista Amaro, negro escravo, descrito como homem muito forte que, fugindo da escravidão, entra ou esconde-se na Marinha. Descrito como alguém de boa índole e subserviente, porém de gênio indomável quando embriagado, descobriremos as profundidades psicológicas deste personagem quando ele conhece Aleixo, o jovem grumete apresentado como o oposto de Bom-Crioulo; branco, de feições femininas e frágil. Ao longo da leitura, veremos que as diferenças são, também, internas e subjetivas. Ocorre que Amaro se apaixona por Aleixo imediatamente e a partir disso uma história que poderia ser de amor começa a assumir traços de tragédia, uma vez que a relação é consumada e outros sujeitos adentram em suas vidas.

O Naturalismo considera as visões determinista, zoomórfica e positivista acerca dos indivíduos, tomando-os como fruto do meio e influenciáveis por fatores externos, com tendências degradantes e licenciosas. Na obra, vemos esses argumentos encobrindo espectros da homofobia e do racismo, muito embora não signifique dizer que essas manifestações sejam do autor (ele mesmo sofreu grandes ataques quando publicou o livro e defendeu sua importância publicamente), e abrindo as cortinas do tema para a sociedade da época sobre sexualidade, raça, sexo, etc.

Não digo com isso que defendo uma obra que sustente estereótipos de violência; eis minha crítica: Amaro é incriminado e animalizado o tempo inteiro na obra pelo discurso dos outros personagens, tendo seus atos justificados pela raça; enquanto Aleixo, que descobrimos o quanto pode ser frio e manipulador, é colocado como vítima das investidas ?corruptivas? do Bom-Crioulo, o que não se configura como verdade, pois o próprio texto vai jogando com esses discursos e lugares, nos fazendo questionar mais a sociedade em que se inserem do que o caráter dos personagens propriamente.

A partir desta obra, uma barreira de silêncio e de clandestinidade foi rompida para sempre no Brasil, o que é um fato inquestionável. Esse livro foi um ato de coragem, muito embora traga problemáticas preconceituosas que eu ainda não consegui processar completamente.
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VicBanger 29/02/2020

Clássico de fácil leiura
Saindo do longo período de distanciamento em relação aos clássicos romances de nossa literatura. Estava precisando disso, muito, e Bom-Crioulo se revelou ser uma ótima escolha de retorno: é curto e de linguagem simples - isto é, nada maçante. Uma obra que daria para ter lido em um dia, caso estivesse com disposição para tal; mas terminei em dois. Em termos de narrativa, a única coisa que de fato não me agradou tanto foi o desfecho abrupto da obra (seco, sem ter muito para onde); de qualquer modo, trata-se de uma conclusão condizente com a estética naturalista - e a vida segue normalmente em meio às barbaridades do cotidiano, num ciclo sem fim.

E quanto aos temas abordados: naturalmente que eles não recebem o nível de reflexão ou de sensibilidade típico dos dias atuais (necessários, vale dizer), pois trata-se de um romance que é fruto do século XIX (e fruto do problemático discurso naturalista); contudo, segue capaz de desencadear problematizações fortes sobre o presente e sobre o próprio passado - e sobre a maneira chocante com que os dois podem ser confundidos. E acredito que o brilho da arte e da própria sobrevivência de Bom-Crioulo residem aí: a arte não oferece respostas, soluções; ela apenas revela - e, neste caso, revela uma grande sociedade doente.

Sinceramente, não tenho conhecimento sobre os genuínos pensamentos de Caminha sobre os temas abordados, como a relação homossexual e a questão de ser negro, mas a obra em si, para além de seu valor literário, possui o seu valor de discussão social.
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Andrus ( @andrus05 ) 25/02/2020

Que legal descobrir uma história de época com esse tema.
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