Lys Coimbra 29/06/2015 “Tanto quanto respirar, sinto necessidade de emocionar-me, amar e admirar”.“O escafandro e a borboleta” é a autobiografia de Jean-Dominique Bauby, jornalista e escritor francês, editor da revista Elle, morto em 1997.
Ele tinha tudo: dinheiro, status, glamour, luxo, mulheres... e uma revoada de borboletas que passava despercebida por sua agitada vida social.
Até que, em decorrência de um grave AVC, se viu aprisionado no próprio corpo, tendo como única janela de comunicação com o mundo o olho esquerdo.
Vitimado pela Locked-in syndrome (LIS), ou síndrome do encarceramento - um transtorno neurológico raro que paralisa por completo, mas mantém a capacidade mental, preserva as memórias e a sensibilidade à dor - Jean-Do se viu irreversivelmente fechado no seu escafandro e desenvolveu a habilidade e sensibilidade necessárias para “ouvir” as borboletas ao seu redor.
Elas estavam ali o tempo inteiro, mas eram imperceptíveis, desbotadas pelo “piloto automático” que por vezes toma as rédeas das nossas vidas.
O escafandro passou a ser menos opressor quando ele descobriu a felicidade nesses pequenos grandes prazeres: deliciar-se com as gargalhadas dos filhos, resgatar lembranças de uma viagem, reviver momentos especiais com os amigos, uma tarde com o pai, ou simplesmente se deleitar com o cheiro de batatas fritas. Coisas simples, que passaram a ser o seu grande tesouro, fragmentos de vida.
Fiquei extremamente comovida com a sua história, especialmente quando imagino que toda essa autobiografia foi produzida com o movimento de sua pálpebra esquerda - e, naturalmente, com sua mente brilhante.
Eu nunca tinha ouvido falar da LIS e confesso que me impressionei bastante com seus efeitos devastadores, mas a abordagem feita pelo autor em momento nenhum tende para a vitimização, o que torna o livro comovente, mas não deprimente.
Após ler “o escafandro e a borboleta”, me questionei o quão atenta estou às minhas borboletas e ao seu adejar. Também conclui que, hoje, ao contrário de Jean-Do, o único escafandro que me oprime é aquele que eu permito. E tudo o que eu desejo é uma vida com menos escafandros e muitas borboletas!
“Será que eu era cego e surdo ou será que a luz de uma desgraça se faz necessária para iluminar a verdadeira face de um homem?”