PorEssasPáginas 14/10/2013
Resenha Ladrão de Almas - Por Essas Páginas
Ganhei esse livro no ano passado, em uma promoção, e por muito tempo me esqueci dele. Durante todo esse tempo, o blog se tornou parceiro da Novo Conceito e aí, recentemente, houve o lançamento do livro Refém da Obcessão, continuação da série, e aí voltei a olhar para Ladrão de Almas. Resolvi lê-lo sem esperar nada dele e tive como recompensa uma ótima leitura! ‘Bora lá saber como logo eu fui gostar tanto de um livro que trata de romance sobrenatural e… vampiros?!
Acho que o primeiro motivo para eu ter gostado tanto de Ladrão de Almas foi exatamente o fato de que ele é um romance… mas não apenas isso. Não mesmo. Vai muito além. Na verdade, o livro é essencialmente a história de Lanny, a meu ver, e essa é uma história cheia de reviravoltas e traições, e essa é uma personagem que, apesar de amar, está muito longe de ser uma heroína romântica e melosa. De fato, Lanny é uma das personagens mais fortes e marcantes que já li, com uma personalidade tão intensa que brilha durante todo o livro, mesmo nas partes em que não é a narradora.
O livro tem três narrações diferentes. Primeiro, conhecemos Luke, um médico amargurado e solitário na pequena cidade de St. Andrew, no Maine. Sua rotina é alterada bruscamente pela chegada em seu plantão de uma mulher jovem, acusada de assassinato pela polícia – na verdade, ela mesma confessou ter matado o homem. A mulher – que não pode se ferir, como mostra ao médico atônito – pede a Luke que a deixe ir e, para convencê-lo, começa a contar sua história. E é aí que temos a melhor parte do livro.
Lanore – ou Lanny – era uma menina nascida na mesma cidade de St. Andrew, no início do século 19. Ela começa sua narrativa contando como sempre fora apaixonada por Jonathan, um menino extremamente belo que encantava todas as meninas da cidade e era filho do fundador da mesma. Atrevida, Lanny já mostra um pouco da sua personalidade marcante logo no início da história, quando rouba um beijo do menino mais cobiçado da cidade e, assim, inicia-se a amizade dos dois.
“(…) O dinheiro é a única forma de uma mulher ter controle da própria vida.
O segundo conselho foi que uma mulher nunca deve trair outra por causa de um homem.” Página 47.
É difícil falar desse livro sem contar spoilers, mas acreditem, estou fazendo o melhor possível para contar somente o essencial, o suficiente para fazê-los entender o quanto essa história é fascinante. Apesar de Lanny por todo o livro declarar o amor infinito que sente por Jonathan, não acho que ele seja o protagonista aqui, apesar de ser muito importante na história. Além disso, nem sempre Lanny é movida por seu amor a ele, o que é ótimo. Não consigo gostar de Jonathan e talvez isso se deva ao seu caráter infiel e sua personalidade fraca – não que ele seja um personagem fraco, é muito bem construído, mas é o tipo de pessoa covarde, ao meu ver, quase o oposto de Lanore. Não, na verdade, para mim, o outro grande astro do livro é Adair.
Quando Lanny é expulsa de casa e da sua cidade e vai parar na cidade grande, ela encontra Adair, um nobre misterioso e sedutor, bem como sua corte de súditos – ou prisioneiros. Lanore é atraída para esse estranho lugar e conhece uma vida de luxo e prazer. E é então que temos a terceira narrativa, a de Adair, que conta sua terrível história.
Além de Lanore, Adair é o outro personagem marcante desse livro. Envolvido em mistério, ora bondoso, ora cruel, eu não diria que ele é um vilão, mas sim um anti-herói fascinante. Por vezes, o leitor se vê dividido entre amá-lo e odiá-lo, bem como se sente com Lanny, que também tem seu lado muito sombrio. É como se os dois personagens se completassem ou, ainda, fossem dois lados de uma mesma moeda. Ouso dizer que a história desse livro é mesmo a história de Lanny e Adair. E só por esses dois personagens incríveis e suas complicadas histórias, logo me vi completamente envolvida por Ladrão de Almas.
“Um parceiro não ama o outro o suficiente para parar de beber, ou jogar, ou sair com outras mulheres. Um é o que dá e o outro é o que recebe. O doador espera que o recebedor pare.
(…)
- Às vezes, o doador tem que desistir; mas às vezes não faz isso. Não consegue. Não conseguia abrir mão de Jonathan. Eu era capaz de perdoá-lo por tudo.” Página 357.
Apesar de Luke, no presente, e Jonathan, no passado, terem sido dois homens importantíssimos para Lanny – e para a trama – para mim eles são apenas apoios narrativos. Não consigo torcer nem por um romance nem por outro. De fato, para mim o livro todo traz para o leitor a terrível sensação de solidão que acompanhou Lanore por toda sua vida imortal.
Como os vampiros entram nessa história? Desde o início da resenha vocês já devem ter notado que Lanny é uma vampira. O termo jamais é utilizado na história e, apesar de estar utilizando-o, nem sei se seria o termo correto. Na verdade, os seres que aparecem nesse livro são seres imortais, servos de seus senhores que os transformaram, que não sentem fome ou dor, apenas se essa for infligida por seu mestre. Usei o termo “vampiros” porque eles me lembraram vampiros (mas nada de purpurina, gente), especialmente os vampiros de Anne Rice. Porém, diferente dos livros da Sra. Arroz, aqui os seres saem na luz do dia e não se alimentam de sangue e, principalmente, a abordagem é outra: não há um visão filosófica ou romântica, mas sim cruel e solitária. Durante todo o livro percebemos a constante e infinita tristeza e solidão de Lanny. E nos damos conta de uma grande lição: viver para sempre é uma maldição, um fardo horrível e uma vida de infelicidade.
Apesar de ser uma série, Ladrão de Almas pode ser tranquilamente lido sozinho. Há sim um final, nada de ganchos apelativos para prender o leitor a um novo livro – algo que me animou mais ainda a ler o próximo da série. Na realidade, eu só percebi o pequeno arco que a autora deixou no livro para as continuações justamente por saber que havia outro livro e por, ao finalizar esse primeiro volume, correr para ler a sinopse do próximo. Sem isso, é quase impossível perceber o gancho, sutil e brilhantemente introduzido no final da obra.
Gostei bastante da edição da Novo Conceito. Há pouquíssimos erros e a capa é muito bonita, aveludada, confortável para ler e segurar. Aqueles olhos na capa me perseguem, mas acho que essa era mesmo a ideia, porque você se sente observado, até mesmo perseguido por essa história.
Quem já leu minhas resenhas sabe muito bem que não sou muito fã de romances, especialmente sobrenaturais. Mas esse livro é muito mais que isso. É uma história densa, complexa, com uma pesquisa refinada por parte da autora, uma escrita fascinante e personagens incríveis, muitíssimo bem escritos, com seus lados sombrios e luminosos. Em Ladrão de Almas você encontrará maldade, traição e reviravoltas surpreendentes e sua lealdade oscilará entre um personagem e outro. É o tipo de livro que não dá para largar e que você deve dar uma chance. Simplesmente leiam.
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