yokiitos 18/04/2022
Um livro infinito
Apesar da quantidade finita de páginas, gosto de pensar que esse é um livro cujo enredo jamais terminará. O fato de que o último capítulo foi interrompido no meio de uma frase não é o único motivo pelo qual essa história não tem fim. A jornada de K, e de todos os outros personagens, têm a capacidade de tomar quaisquer incontáveis formas, as quais continuarão se desdobrando na mente do leitor por muito tempo. Kafka tem esse dom, o de construir uma casa no nosso cérebro para cada história que conta.
Em relação à narrativa, é inegável a densidade que tem. Não só as palavras são rebuscadas, mas mais do que isso, as sentenças, às vezes, podem ser um tanto quanto enigmáticas. Ainda assim, com um pouco mais de atenção percebe-se a beleza na forma que Kafka conduz o enredo. Eu gosto muito de como ele escreve e organiza as palavras; é o que torna sua obra tão distinta.
No início, pela empolgação fanática por estar prestes a conhecer mais uma criação de Kafka, senti grande fluidez na leitura, ainda que conseguisse perceber a dificuldade presente ali. Com o passar do tempo a leitura começou a se tornar pouco a pouco mais cansativa, e admito que quando chegou nos últimos capítulos eu já estava exausto. Isso porque acredito que o autor não teve tempo para organizar melhor os parágrafos, que por muitas vezes se estendiam por mais de 10 páginas sem parar. Às vezes, no mesmo parágrafo, o narrador concluia e iniciava um novo pensamento, o que fez com que eu me perdesse várias vezes. Mas é fácil de se relevar isso, se levar em consideração que se trata de um livro inacabado. Ainda assim não consigo encontrar defeitos, e minha nota de 4 estrelas também leva em consideração a forma que eu li o livro; no trem ou metrô, sempre de pé, ou com tanto barulho que os parágrafos gigantes do livro simplesmente perdiam o sentido. Mas no geral, mantenho intacta minha admiração e amor pela obra do Kafka, e até pelo próprio Kafka. Gosto às vezes de pesquisar sobre ele e pensar que ele ainda está vivo, e acima disso é meu melhor amigo. Até porque de fato é!
Curiosidade pessoal: A melhor parte é que esse é o meu centésimo livro! É muito relevante para mim que este posto tão importante seja ocupado pelo Kafka.