spoiler visualizarThiago Barbosa Santos 17/01/2021
O castelo
Ler Franz Kafka é sempre uma experiência única. É um autor extremamente original, mesmo nos dias de hoje. Nos livros, sempre usa de situações absurdas, incomuns, fora da realidade, para expressas um sentimento ou fazer uma crítica sobre o funcionamento social.
O CASTELO foi um livro publicado postumamente. Ele encerra com uma frase inacabada, reforçando a tese de que o autor não teria terminado a obra antes de falecer. Há quem diga que ele queria esses escritos queimados quando partisse, o que felizmente não ocorreu.
A publicação pode ser interpretada de maneira diversa, mas basicamente fala sobre a burocracia do estado, e como ele pode ser absolutamente inacessível para quem precisa dele.
A personagem principal é K. Ele é um agrimensor, profissional que mede terras. Ele é contratado para prestar esse serviço em uma aldeia distante e parte para a tarefa. Ao chegar, percebe que não é muito bem recebido. As pessoas olham para ele desconfiadas, não o acolhem, parecem ter medo ou repulsa dele. Ele consegue se relacionar com poucas pessoas, tem um envolvimento amoroso até com uma balconista de um dos albergues onde ficou.
K. passa a história inteira querendo efetivamente cumprir sua tarefa, mas existem muitas contradições, muitos desencontros de informações sobre quem o contratou, para que foi contratado, etc. Ao mesmo tempo que recebeu dois ajudantes para o serviço, recebeu uma carta de que não precisavam mais dos serviços do agrimensor. Depois recebeu outras elogiando o trabalho já realizado, sendo que sequer tinha iniciado nada. Ele passa o livro buscando informações e ter acesso aos líderes dessa aldeia, que residiam em um suntuoso castelo.
As pessoas da aldeia não tinham acesso a esses líderes, que eram cultuados de tratados como intocáveis. Eles sequer tentavam acessar o castelo. Se conformavam que era algo inalcançável e que esses líderes tinham direito a todos os privilégios.
As tentativas de K. de chegar a esse castelo irritavam essa gente, que o rejeitava ainda mais. Foram baldadas as tentativas do agrimensor de conseguir chegar até lá, conversar com os chefes, com quem o contratou, ou já não precisava mais de seus serviços. Só conseguia, quando muito, falar com intermediários, que passavam informações desencontradas e confusas. Ele parecia sempre estar girando no mesmo eixo, sem fazer progressos. Tudo aquilo era absolutamente angustiante.
Há, como já relatado, interpretações distintas para a história, a de que o castelo, por exemplo, fosse o subconsciente de K. que não encontra respostas para as diversas interrogações e se vê sem saída. Contudo, a da burocracia inacessível do estado é a mais forte.
De certa maneira, há semelhanças entre O PROCESSO, principal livro de Kafka, e O CASTELO. As duas personagens, homônimas por sinal, são perturbadas pelo Estado e conferem de perto as mazelas e absurdos do sistema, em uma, o Estado o procura e o oprime, na outra, a personagem procura o Estado e descobre que ele não está ao alcance dele.