Andre.28 25/04/2020
Um Relato Autobiográfico de um Plano de Resgate Arriscado
Quando se trata de relatos autobiográficos temos que ter uma medida de avaliação bem cuidadosa, de forma estabelecer critérios de medida entre a realidade e ficção, entender os limites dessas narrativas. Em ARGO temos um tipo narrativo que representa essa narrativa autobiográfica sem deixar de lado os componentes de uma ficção histórica. Publicado em 2012 por Antonio “Tony” Mendez, um ex agente que trabalhou na CIA durante 25 anos e que teve a colaboração de Matt Baglio, ARGO conta a história do plano de resgate de seis diplomatas americanos que conseguiram se esconder na embaixada canadense em Teerã após a invasão de estudantes e militantes do regime do Aiatolá Khomeini em 1919, no que ficou conhecido como “Crise dos Reféns Americanos no Irã.”
Mendez, agente experimentado em “exfiltrações” e demais mecanismos de falsificação, era o encarregado e chefe do Departamento de Disfarces e Autenticações da instituição e mestre em falsificações, disfarces e instrumentos de espionagem e planos de exfiltrações. Relatado em 1° pessoa pelo próprio Mendez, basicamente o livro conta de forma objetiva como ele exfiltrou seis diplomatas americanos do Irã em janeiro de 1980, organizando-os para fazer parte da equipe de filmagem canadense de um fictício filme de ficção científica que se chamava “ARGO”.
No inicio do livro Mendez conta a sua história como artista e como foi recrutado pela CIA, e passou por todos os cargos que envolviam falsificações e operações de espionagem em diversas partes do mundo. Até a chegada do plano ARGO, Medez relata todos os instrumentos de espionagem, falsificação, disfarces, experimentos para criação de apetrechos para espiões e etc. Enquanto relata o seu plano ARGO, ele vai apresentando o panorama político no Irã e nos Estados Unidos, as dificuldades e inabilidades do governo Jimmy Carter e a necessidade de se criar, urgentemente, um plano de fuga daqueles que estavam na embaixada do Canadá em Teerã. Mendez, através da CIA, contatou o governo canadense e teve o apoio para a operação de retirada dos diplomatas no Irã. Contatou também a indústria cinematográfica de Hollywood, para adquirir a “expertise” na concepção da produção de um filme e no intuito de dar credibilidade a história de “fachada”, caso houvesse qualquer problema com o governo iraniano.
O agente Mendez, como parte de seu trabalho de cobertura, conseguiu ajuda do governo canadense. Os diplomatas que conseguiram sair do Irã carregavam passaportes emitidos pelo governo canadense, com falsificações de visto feitas pelos agentes Mendez e “Julio”. O livro em si não tem tantos atrativos em termos de ação. Tem alguma tensão pelo risco do plano dar errado, e do próprio Mendez na sua participação na Operação ARGO, porém como é narrado em 1° pessoa logo esse relato cansa o leitor. Não que seja ruim, apenas se prende em preparativos e o plano em si só é posto em prática lá nos últimos 10% do livro. Acredito que ele funcionaria melhor como uma completa ficção histórica do que um livro de memórias autobiográficas. Para quem gosta de diplomacia e história é um livro válido de ser lido.