Marymagr0 21/08/2023
A fusão da paixão com a crueldade nos dá arrepios em "O Jardim Selvagem". O frágil limite que separa nas- cimento e morte nos deixa com a respiracão suspensa em "Natal na Barca". Em "As Formigas", o confronto en- tre a racionalidade científica da estudante de Medicina e o enigma da morte faz disparar o coração. Em "A Ca- çada", uma obra de arte pode matar. Em "Lua Crescente em Amsterda", novamente a mistura de amor e morte provoca calafrios. Claro, você já percebeu que o ingre. diente que, misturado aos outros, mais provoca sobres- saltos é a morte, o maior dos mistérios humanos.
Nada, no entanto, nos espanta com tanta intensidade quanto a crônica que encerra este volume. Ela pertence ao livro de lembranças e memórias de Lygia Fagundes Telles, intitulado Durante Aquele Estranho Chá. Ou seja: não se trata mais de fantasia ou ficção. É a própria reali- dade, esta que vivemos quando estamos acordados, que nos mostra seu lado mais fascinante. Em "Onde Estives- te de Noite?" Lygia nos conta como soube do falecimen- to de sua amiga, a também escritora Clarice Lispector. Mas ao contrário do que ocorre na ficção, aqui a morte não dá medo. Ela se apresenta como uma possibilidade de expansão, de conhecimento, de liberdade.