Daross 17/05/2023
Gostei gostei
?Qual de vós já passou a noite em claro ouvindo o segredo de cada rua? Qual de vós já sentiu o mistério, o sono, o vício, as idéias de cada bairro??
? classificação indicativa: +14
? socioculturais: Moradores de rua; classe trabalhadora; meninos de rua; violência urbana; pobreza; viver X Sobreviver; paixão pela música; riqueza do imaginário social e valorização da mistura cultural. O autor era negro, gordo e homossexual.
? Bem, para entender melhor a essência do livro, decidi pesquisar um pouco sobre o autor e o contexto cultural da época. João do Rio, pseudônimo de Paulo Barreto, foi um jornalista, cronista contista, romancista, tradutor, e teatrólogo brasileiro.
Mestre da crônica como registro de época, o jornalista fez uma verdadeira etnografia do Rio de Janeiro nos anos 1910 e 1920, transitando desde as altas esferas sociais até os grupos mais marginalizados. Observador atento das mudanças promovidas em prol da modernização da cidade, João do Rio retratava o impacto do progresso ? como, por exemplo, a rápida incorporação do cinema ao cotidiano carioca ? e descrevia ambientes onde, até então, nenhum repórter tinha se aventurado, como os terreiros de candomblé e umbanda.
Eleito em 1910 para ocupar a cadeira 26 da Academia Brasileira de Letras (ABL), João do Rio foi o primeiro a tomar posse usando o famoso ?fardão dos imortais?. Seu perfil na página da ABL o descreve como ?o primeiro homem da imprensa brasileira a ter o senso da reportagem moderna? e como ?o maior jornalista de seu tempo?.
De início, achei o livro confuso, tipo um emaranhado de palavras sem sentido, depois de pesquisar o contexto da época e sobre o autor, tive um olhar completamente diferente na hora de ler. Achei surpreendente é muito rico historicamente é contém crônicas muito interessantes, é um recorte nítido da sociedade carioca no início do século XX, ele retrata muitas cenas e ambientes onde não há nada de encantador ou fascinante. O que de deslumbrante existe entre os comedores de ópio, ou entre detentas? João mostra uma realidade dura e evidência a desumanização de muitas minorias, mas ao mesmo tempo a história segue sendo poética.
Apesar da leitura não ser tão fluida gostei muito do livro e de poder conhecer a história de Paulo Barreto.
? tempo de leitura
início: 14/05
fim: 16/05
? spoiler!!
a seguir, algumas das minhas passagens favoritas ?
?Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se
não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste às idades e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia ? o amor, o ódio, o egoísmo. Hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia, Os séculos passam, deslizam, levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o amor da rua.?
?Nada como o inútil para ser artístico.?
?O flâneur é o bonhomme possuidor de uma alma igualitária e risonha, falando aos notáveis e aos humildes com doçura, porque de ambos conhece a face misteriosa e cada vez mais se convence da inutilidade da cólera e da necessidade do perdão.?
?Não pensemos, porém, romanticamente que todos os músicos morrem de fome ao cair de suas ilusões...?