Carla Brandão 26/06/2016A morte de uma pessoa querida muda para sempre a vida daqueles que ficam. Em alguns casos, até mesmo a de pessoas que sequer conheceram. É assim que começa a história contada por Sara Zaar em Como salvar um vida.
O Sr. Mac era um herói para sua filha única, Jill. Quando jovem, viajou pelo mundo e viveu muitas aventuras. Era do tipo que amava livros e boa música. Eles se amavam, se entendiam, se completavam. Com a morte repentina do pai, Jill perde o rumo e muito do que era. Antes sorridente, começa a ter uma feição mais dura, e os cabelos claros passam a ficar escondidos sob uma tinta escura. Sem querer, ou melhor, sem saber lidar com seu luto, afasta-se das amigas e do namorado, Dylan.
Para Robin, a perda do marido significou ter que encarar o imprevisível da vida, aceitar que quase nada está sob nosso controle e assistir a tantos planos para o futuro se desfazerem em um segundo. Dez meses após a morte de Mac, ela percebe que apesar da dor ainda há muito amor em seu coração e que alguns planos ainda podem ser postos em prática... Adotar um bebê, por exemplo.
Mandy é uma adolescente de 18 anos que nunca conheceu o pai. Mora com a mãe e o atual namorado desta. A relação das duas nunca foi fácil ou carinhosa, e quando Mandy descobre que está grávida as coisas só pioram.
O destino das três mulheres se cruza quando Robin escreve um anúncio em um site de adoção e Mandy responde. Pretendendo dar ao seu bebê uma vida que ela mesma não teve, a menina opta por uma adoção aberta. As duas passam a se corresponder, até que Mandy se mude para a casa de Robin para esperar o nascimento da criança.
A chegada de Mandy não é bem aceita por Jill, que acha a história toda absurda. A mãe não está muito velha para adotar um bebê? Será que Mandy está atrás apenas de dinheiro? Não é arriscado não ter um documento formalizando a situação? Com todas essas perguntas na cabeça, Jill empenha-se em tratar Mandy da pior forma possível. A adolescente grávida, por sua vez, se pergunta cada vez mais se fez a escolha certa e se conseguirá levá-la adiante.
E assim a trama se desenrola. Narrado em primeira pessoa, o livro intercala a visão de Mandy e a de Jill. Apesar de Robin ser a pessoa que vai adotar o bebê, só conhecemos o que ela pensa através do que as meninas contam. Os capítulos não são longos e a leitura flui bem. Apenas em alguns momentos senti que a autora enrola um pouco, algumas páginas são mais paradas, sem tantos acontecimentos importantes. Mas na vida algumas situações se desenrolam aos poucos mesmo, e isso não prejudica a leitura.
Os personagens são bem reais, cheios de qualidades e defeitos. Jill pode irritar no início com sua agressividade e necessidade de ferir, assim como parecer mal agradecida por não receber bem o apoio do namorado e das amigas e evitar ao máximo falar sobre seu pai. Mas, talvez por já ter passado por isso, não tive nenhuma dificuldade de me identificar com ela. Já Mandy é um mistério... Deslumbrada com a vida nova, inocente demais para a idade... Só entendemos seu jeito e suas atitudes conforme conhecemos sua história.
A trama criada por Sara não é imprevisível ou livre de clichês. O texto é linear na maior parte do tempo, sem grandes revelações, mas alguns acontecimentos ainda são capazes de surpreender o leitor e dar uma movimentada na trama. O ponto principal aqui são as emoções, e emocionar é uma coisa que a autora consegue muito bem. E o melhor: de forma natural, pelo próprio desenrolar das situações, e não com a intenção explícita de fazer isso.
A morte de uma pessoa querida muda para sempre a vida daqueles que ficam. Mas o que torna essa mudança permanente é o amor. Aquele que nos dispomos a dar e aquele que aceitamos receber.
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