spoiler visualizarTormented 07/07/2012
O interrogatório, um jogo de mentes.
Não há como descrever de outra maneira, senão com essas palavras a essência fundamental desse livro: um jogo entre mentes relatado, interpretado, vivido e, sobretudo, jogado pelo grande psiquiatra Dr. Lucas e seus íntimos personagens que, desde o início da trama já esboçam personificação estupidamente real.
As páginas desde o prelúdio até o epílogo sao construídas e encaminhadas a um cume eletrificado de tensão crescente; é o tipo de leitura rara que nos desperta o desejo mais feroz de devorar as páginas com demasiado afinco, escalando as palavras, rumo às alturas da imaginação que ainda assim nos mantém atados à realidade, completamente firmes ao solo.
Um dos pontos que mais chama a atenção para o livro é a fomentação que ele causa na boca do estômago de seus expectadores, não deixando estes cairem em um sentimento nada parecido com o tédio ou qualquer outra coisa que faça parte do gênero que incite o cansaço.
"Quem não vê bem uma palavra, tampouco entenderá uma alma." Essa frase ambientaria bem as inferências de ideias entre o Dr Lucas e seu "algoz" Craig, o paciente perturbado cuja narrativa gira em torno desde o príncipio. Craig sempre está por trás, em frente, ao lado. É o fantasma onipresente de tudo e todos. A trama adentra imperceptivelmente por um labirinto lépido que nos transmite a crença passageira de que o tão afamado psiquiatra Dr. Lucas, nada mais é do que um joguete fácil nas mãos do manipulador Craig. A vida dos dois se mescla irremediavelmente além dos limites das paredes de concreto do consultório psiquiatrico assumindo importância vital e pessoal para ambos. Por hora amamos interrogado, decepcionando e compadecendo-nos da capacidade intelectual do inquiridor Dr. Lucas, e- tão rápida quanto a velocidade com que a bala disparada de um calibre 25 atinge seu alvo - somos tomados de um ódio por Craig, fruto da admiração perplexa e inesperada nascente pelo seu psiquiatra, cujo espírito passa a crescer nas páginas finais em prol de sua própria defesa que se perfaz com uma sagacidade incostestável. Vemos o psiquiatra ganhar força e, por horas até mesmo duvidamos de sua inocência. Entramos junto com ele em seu prazer em virar a mesa, reverter papéis, jurar sadismo em uma... vingança disfarçada de justiça (ou justiça disfarçada de vingança?) nos capítulos que precedem o fim.
Para quem busca um livro que prenda a atenção do começo ao fim, esse sem sombra de dúvidas encaixa-se nesse conceito. É uma literatura humana, em que muitos sentirão afinidade com os personagens, muitos rirão e vivenciarão juntos as especulações acerca de todos os receios do médico. A descrição em primeira pessoa é tao nítida, e rica que nos permite enxergar cada passo, seguir cada caminho, analisar cada objeto, como se fossemos câmeras de vigilência presentes em todas as cenas. Não obstante, há ainda as descrições humanas de falas, sentimentos, emoções e atos completamente cabíveis e que transforma a história numa vivência do mundo real. As entonações representadas em TODOS os diálogos são espicaçados pelo autor com cuidado e sensibilidade concedendo-nos também o prato principal: a possibilidade de enxergarmos não somente diálogos secos e superficiais, como também a oportunidade de observarmos esse espelho de palavras para lermos com sentimento e análise a alma do drama de cada personagem contado.
É o tipo de leitura em que a excitação se permeia de maneira crescente, com um começo pacato (não confundir com enfadonho) culminando num final cheio de ação explosiva e destrinchante. O tipo de ficção que nos acalenta, e nos abandona em sua leitura quando chegamos ao final, Deixa em nossa mente uma tábua solta sobre os limiares da ponte em que se funde o certo e o errado. Deixa saudade e um sentimento de vazio: Como vou viver sem aquela história??