Maria 30/04/2024
Participar da vida
Acredito que eu nunca tenha lido um livro onde me identifiquei tão profundamente com o personagem principal, tanto em experiências de vida, quando em temperamento. acho que os dois são as mesmas coisas, porque o que aconteceu com o charlie já aconteceu comigo, e isso fez a gente ser quem somos hoje em dia.
obviamente não é algo totalmente identificável, mas a maioria bizarra se encaixou em mim ao ponto de que quando Charlie questionava, eu reparava que já tinha questionado similarmente antes, e quando Sam falava com ele, eu sentia que ela estava falando para mim, e quando Bill o dizia que o pensar era uma forma de não participar da vida, eu reparava que ele poderia ter sido um ótimo professor para mim. a sensibilidade do charlie, sua solidão na escola, ao mesmo tempo que possui amigos incríveis, até ao seu bloqueio em experiências sexuais devido à abusos que sofreu quando criança. eu vi pela primeira vez alguém que passou por algo similar como eu, e que reage de forma similar também. é bizarro como nossas experiências e traumas causados por outras pessoas infligem a forma que agimos sexualmente nas nossas vidas, e como cada errinho que cometemos ou momento bom com quem gostamos romanticamente importa muito para a gente. e que está tudo bem não estar pronta, e que está tudo bem ser como eu sou, e mesmo assim querer e sentir que isso é algo que é nosso mas que não precisa nos definir. e dessa forma participar da vida, como charlie disse, as coisas acontecem, eu e ele podemos ficar bem com elas, e ainda sim fazer coisas, participar da vida.
esse livro ressoou em mim de formas muito profundas e tão pessoais que nem sei se consigo verbalizar. são acontecimentos que nunca passaram pela linha verbal da minha boca e que agora foram soltos no mundo graças a um pedaço de arte e de um personagem que falou comigo e que me disse que tá tudo bem. as coisas ruins na infância aconteceram, e eu posso participar da vida agora, e tentar tocar, amar, ser tocada e ser amada