Che 08/01/2019
PÁTRIA OU MORTE
Seria chover no molhado dizer aqui que sou admirador irreversível da revolução promovida em 1959 pelos guerrilheiros de Sierra Maestra e seus apoiadores no campo e nas cidades. Basta ver minha foto de perfil pra ter certeza disso. E não por acaso, entre tantas oportunidades de conhecer as "Oropa", foi pra Havana que eu quis viajar em outubro de 2015 - com Raúl Castro ainda no poder e Fidel vivo. Ainda é (e talvez sempre será) a melhor viagem que fiz na vida.
Por tudo isso, já conheço bem a história da tomada do poder pelos revolucionários e em tese o pequeno livro da coleção "Revoluções do Século 20" da Editora Unesp (é o décimo segundo que leio dela), não teria tanto a me acrescentar. De todo modo aproveitei a ironia da data do primeiro de janeiro de exatos sessenta anos da revolução (sempre gosto de aproveitar esses ciclos de datas) para já começar 2019 lendo sobre o único país latino-americano que conseguiu produzir uma construção longeva de socialismo, diferente dos curtos períodos 'vermelhos' de Nicarágua, Chile e outros.
O livro de Luis Fernando Ayerbe, no entanto, me trouxe algumas surpresas positivas por fugir dessas descrições. Quem for buscar o livro pra conhecer o processo revolucionário da guerrilha, do assalto ao Quartel Moncada, do Gramna e da mobilização dos camponeses antes da fuga de Fulgêncio Baptista (que é retratada em "O Poderoso Chefão 2"), etc, vai quebrar feio a cara e topar com um capítulo que resume todo esse processo em umas vinte páginas, diferente de outros livros da coleção que focam justamente na luta da esquerda ANTES da tomada do poder. Se você estiver buscando conhecer esse período pré-1959 da revolução, portanto, devo dizer que este NÃO é o melhor livro pra esse fim.
Mas meu caso era justamente outro: conheço de cor e salteado um bocado do período da guerrilha e acabei desfrutando muito o livro de Ayerbe precisamente porque ele faz outra abordagem, mais focada nas conquistas sociais de tipo base da pirâmide de Maslow (inegavelmente louváveis e reconhecidas até por países capitalistas) com vários dados dispostos em tabelas. Além disso, há um capítulo só sobre a relação diplomática e econômica entre Havana e a Casa Branca ao longo das décadas e um pertinente capítulo ao final desmistificando alguns mitos sobre, por exemplo, o unipartidarismo supostamente "ditatorial" que vigora na ilha.
Lógico que para uma livro com coisa de 130 páginas, tem muita informação que fica só pincelada, ainda mais numa revolução com tantas décadas de história e tanto a nos dizer. As relações de Cuba com os países africanos como Angola e Etiópia (descritos em outros livros da coleção), por exemplo, ficaram praticamente de fora. Mas para dentro da proposta mais sintética da coleção, caiu como uma luva e a escrita é pertinente e atual.
Por fim, só posso dizer que é uma tristeza ser refém hoje de um governo ilegítimo no Brasil, eleito por fraude eleitoral que tirou do páreo via 'lawfare' o verdadeiro favorito da eleição, com o novo presidente ""eleito"" agora lambendo o chão que a Casa Branca pisa enquanto países que tem a mesma tragédia histórica colonial que nós e tanto lutou para superá-la (caso de Cuba) é tratado com desdém. Terminar a leitura de Ayerbe só me deu certeza que o próximo coxinha que me soltar um "vai pra cuba", vou é pedir que me arranje o dinheiro da passagem - porque vontade não me falta!