Thamiris.Treigher 28/02/2024
Hesse perfeito como sempre!
A viciada em Hermann Hesse chegou. ? Em ??Narciso & Goldmund?, escrito em 1930, presenciamos mais uma vez as características constantes nas obras de Hesse: o dilema e a dicotomia entre opostos, a rebeldia contra os valores estabelecidos, e como esse choque entre os opostos se desenvolve e complementa rumo a uma síntese que engloba ambos em um mesmo universo e realidade.
Nessa obra incrível e profunda, conhecemos Narciso, um monge erudito e introspectivo, que se dedica à uma vida religiosa, espiritual e de busca intelectual. Ele representa o lado racional, os valores de disciplina, da ordem e do conhecimento. Já Goldmund é um jovem inquieto, aventureiro, curioso, que a princípio segue o caminho traçado para ele por seu próprio pai. Ele deseja explorar o mundo, suas belezas e sensações; representando o lado sensível, emotivo, artístico, apaixonado e sensual.
Os dois se conhecem quando Goldmund, por meio de seu pai, vira aluno do convento em que vive Narciso. Surge, então, uma amizade a princípio improvável, mas que se mostra muito forte e bonita por meio de suas diversas fases. Pouco tempo depois, Goldmund decide sair do convento e explorar a vida para além daqueles muros, e é então que tem contato com todos os tipos de experiências, amores, confusões, aventuras, sensações, arte, dores e perdas em seu caminho errante (semelhante a Sidarta e Demian).
Por meio dessas experiências de Goldmund fora do mosteiro, Hesse aborda questões como identidade, natureza humana, luz e sombra, desejos e a busca da realização individual. É dessa forma que percebemos que tanto os aspectos intelectuais quanto os sensuais/sensíveis da existência humana são componentes essenciais de uma vida equilibrada e significativa. Um não pode viver na sombra se queremos a tão almejada luz. Não podemos nos desconectar com nenhum dos nossos lados, mas sim conhecê-los profundamente, sem disfarces ou omissões. No fim das contas, tudo se complementa.
Porém, esse caminho não é fácil e, como de costume, Herman Hesse nos mostra como essa jornada é cheia de dúvidas, apegos, abandonos, crises e dores. O caminho até a síntese, o autoconhecimento e a individuação não é nada ??good vibes??, ou com soluções fáceis ou rasas, e Hesse sempre mostra isso em suas obras, com toda a densidade que essa busca traz.
Não existem fórmulas mágicas, receitas prontas de coachs e, na minha opinião, é por isso que as obras de Hesse são tão incríveis: elas acessam a profundidade da nossa alma e de todos esses processos interiores. O fato de suas narrativas carregarem muito de sua própria vida conferem ainda mais brilhantismo e revolução aos seus livros. Não canso de enaltecer e panfletar: se você tem curiosidade e coragem de fazer esse mergulho, apenas leia - esse e qualquer outro escrito por ele!