Michael 28/02/2023Um clássico que não envelheceu bem. Ou talvez, sim.Clássico da literatura nacional, escrito pelo mineiro Bernardo Guimarães em 1875, a obra faz parte do romantismo brasileiro, então tem que gostar desse movimento para poder aproveitar bem a leitura. Eu, particularmente, não gosto muito da linguagem que era utilizada na época.
A trama é bem "novelesca": Isaura é filha de uma escravizada "mulata" (palavra do autor) que nasceu branca e, por isso, foi praticamente tida como filha da senhora da fazenda - mas ainda escravizada. Aprendeu a ler, escrever, se portar como uma dama da época, tocar piano... Por isso, todos os homens ao seu redor se apaixonam por ela. Sua vida se complica (ainda mais, claro) quando sua senhora morre sem colocar em seu testamento a vontade de libertá-la. O herdeiro da senhora, apaixonado por Isaura, vê agora a oportunidade de conquistá-la ou obrigá-la a amá-lo nem que seja por imposição.
O que me atraiu a leitura foi o caráter abolicionista da trama, mas tenho algumas ressalvas sobre isso. Vale lembrar que o livro foi escrito há 185 anos então claramente, há uma lacuna muito grande entre o contexto e mentalidade do autor com o meu de leitor. Eu entendo que o autor queria despertar ideias abolicionistas nos leitores e que por isso coloca uma escravizada branca. Convenhamos, na época o livro não teria feito o sucesso que fez caso a escravizada fosse preta. Porém, ao fazer isso, constantemente os personagens falam que ela não merece ser tratada como escravizada porque tem a pele clara. Ou seja, não prega a liberdade de todos os escravizados, mas da mulher branca que se vê nessa situação. Não sei até que ponto, realmente, a obra chegou a despertar alguma consciência porque não se debatia a liberdade dos pretos, apenas daquela mulher branca - e somente porque o abolicionista estava apaixonado por ela.
Outro ponto de incomodo na trama são os constantes comentários do tipo "ela sabe tocar piano, ler, bordar, é educada... Portanto não merece ser escravizada", reforçando a ideia de que pessoas mais simples merecem. E para ser justo, há sim um momento no qual Álvaro, interesse amoroso de Isaura, discursa sobre a importância de não escravizar pessoas e de tratar todos iguais. Assim como o fato dos escravizados de sua família terem sido libertados e terem recebido apoio dele para que fossem inseridos na sociedade (e não só libertados e abandonados). Porém, na maior parte do romance, o discurso é para libertar a branca bela que recebeu educação, e não os pretos escravizados.
No geral, acho que é um clássico que não envelheceu bem. Ou talvez, sim, já que é exatamente alguns desses pensamentos que ainda perduram. Porém, se o lermos pensando no contexto da época, veremos que é, sim, um romance ousado.
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