Rub.88 24/04/2020A Virgem AfogadaEm 1914 Jean-Marc Montjean era um jovem medico que devido a uma má experiência como residente num manicômio francês teve que procura colocação longe de Paris. Encontrou emprego com o Doutor Gross, um pândego feioso e namorador que tinha uma clínica na fronteira com o país basco. Montjean com ideias freudianas empinava um pouco o nariz, mas aceitava o trabalho subalterno que doutor Gross o impunha como punição e gracejo. Sabia que era temporário. Tinha-se em alta conta e não iria viver por muito tempo como curador de vila campestre. Ele estava convencido que um futuro brilhante o esperava na esquina e aquela mancha temporária não deixaria marca no seu precioso curriculum. Tinha pouco mais de 21 anos e se achava foda. Em pouco tempo não acharia mais isso.
Quando estava sozinho e fazendo um dos insípidos serviços uma mulher apareceu um tanto esbaforida na clinica. Ela era simples, não precisamente bonita, mas atraente. Não sei se há contradição nisto. Cada um deve sabe o que faz os olhos faiscarem. Montjean atendeu a moça profissionalmente que contou o acontecido. Ela vinha à procura de medico para socorrer o irmão. Não era muito grave. Ele caiu e machucou o ombro, possivelmente quebrou. Onde ele está? Em casa. Onde fica essa casa? A dois quilômetros e meio, eu vim de bicicleta. Precisamente dois quilometro e meio? Isso. Ela sorriu e ele sorriu. O formato de coração evolveu os dois como nos filmes antigos e a estória de amor inicia. Essa cena está em todas as fabulas contadas pela humanidade. Variações do mesmo quebra-cabeça humano, buscando inconscientemente a ligação de pessoa para pessoa. É também sem conseguir fugir do inevitável rompimento.
Montjean pega a carruagem, a estória se passa meses antes da Grande Guerra Mundial, e com a moça vão ao auxilio do acidentado. A bicicleta ficou na cidade. Nesse trajeto, ela diz que se chamava Katya e conversaram sobre anatomia. Ela não era nativa da região. Morava em Paris e se mudou há pouco tempo. Depois dos dois quilometro e meio chegam à casa que parece abandonada por seres vivos. Montjean brinca com a aparência da moradia e pergunta a Katya não tem medo de viver num lugar assombrando. Ela replica falando que não existem fantasmas lá dentro, mas tem um espirito rodando o jardim mal cuidado. Essa foi uma dica daquelas.
Na casa está o irmão Paul, mal remendado pela irmã que enfaixou como pode o ombro e o braço direito dele. O medico se aproxima e arregala os olhos. Os irmãos riem da brincadeira velha de não dizer a ninguém que são gêmeos idênticos. Depois do tratamento doloroso, Montjean fica sabendo um pouco, muito pouco, da estória deles. Eles moravam com o pai, um estudioso cabeça nas nuvens que não vivia no presente, e procuravam paz no campo. Para Paul ai acabava a conversa e logo tratou de dispensar o medico rispidamente. A coisa, o truque, o gancho para a extensão do contado entres eles foi à desculpa de Katya ter que ir buscar a bicicleta que ficara na cidade.
No dia seguinte, com mais calma, Katya e Montjean partilham umas ideias e trocam trocadilhos. E papo vai, papo vem, a carne é fraca, e aquela ligação vai se tornando visível e estável. Muitas visitas para o chá e o jantar. O futuro cunhado não gosta nada dessa situação e a todo o momento vai gorando a relação. Sempre antipático e mordaz. Avisando repetidamente a Montjean que a sua irmã não está interessado nele. Porque não estaria. Não é da sua conta, Paul fala entre os dentes. E quem procura conhecer segredos alheios parece esquecer a razão porque os outros os escondem.
Eu sei que falei bastante e toda a trama parece meio agua com açúcar. Novela leve, do tempo do império. Nada mais enganoso. Esse livro é genial. Eu o li a mais de 10 anos e o que ficou cravando na minha mente foi o final. As ultimas 30 paginas jogam na cara o plot twist mais impressionante que eu já li. O desfecho é seco. Não há prisioneiros. Relendo, aprecio melhor o estilo, a excelência total da obra.
Um filme é ótimo quando não tem cenas desperdiças. Uma musica é inesquecível quando melodia e a letra tem a mesma sonoridade. Um livro é obra prima quando nenhuma única palavra, nenhuma está fora do lugar.