Ana Luiza 09/08/2013
Resenha do blog Mademoiselle Love Books - http://mademoisellelovebooks.blogspot.com.br/2013/08/resenha-linhagem-camila-dornas.html#more
Evangeline é uma jovem filha de um dos homens mais importantes da Inglaterra, mas não é como qualquer garota da sua idade. Além de seu desprezo por certos padrões da época e postura contrária a qualquer comportamento submisso, pomposo ou cortês, ela possui um poderoso dom que a permite controlar os elementos da natureza. Tratada como uma pária pelo próprio pai, que repudia a própria filha por causa de seu poder e de sua similaridade com a falecida mãe, Evangeline é obrigada a esconder sua verdadeira natureza de todos. Apenas algumas poucas pessoas sabem de seu dom, além de seu pai: Morgana, uma criada que sempre a amou e tratou como filha; Albert, seu galante e divertido amigo de infância que têm queda para bebidas, jogos e mulheres, e Genevieve, sua bela melhor amiga, que atualmente segue a vida de artista em Paris.
“Imaginei o quanto daquela história eu não sabia. Constatei que minha mãe e eu tínhamos muito mais que a aparência em comum. Ambas guardávamos segredos que jamais deveriam ser revelados.” (Págs. 272/272)
Com intuito de se livrar da filha e, de alguma forma, lucrar com isso, Julian arranja um noivo para Evangeline, ninguém menos que Hector Callum, o poderoso e influente primo do rei, além de um homem desprezível e possesivo. Ele vê Evangeline como sua mais nova posse, o que, obviamente, só pode causar mais repulsa e ódio na garota. Ao conhecer seu noivo, ela acaba perdendo o controle e quase causando uma tempestade em sua festa de noivado, o que apenas provoca a ira de seu pai. Após ser agredida por ele, Evangeline foge para os estábulos, onde, após confundi-lo com um ladrão, acaba conhecendo Henry Atlee, o mais novo empregado da casa, que, além de belo, é muito gentil.
"- Você está me olhando de um jeito engraçado - eu disse.
- Quero guardar a exata expressão dos seus olhos.
Eu sorri, flertando.
- Você vai esquecê-la assim que o sol nascer.
Ele sorriu e era como o próprio sol. Pegou meu queixo em suas mãos, fazendo nossos rostos ficarem a centímetros um do outro.
- No meu último suspiro, quando sentir a vida deixar meu corpo, a última coisa de que me esquecerei será o modo como me olha agora." (Pág. 284/285)
Aquela foi realmente uma noite de novidades para Evangeline, seu encontro com Henry é seguido de outro encontro com outro belo e misterioso homem. Seu mais novo conhecido, Dorian, revela a ela que existem outros com dons, assim como ela e ele. Intrigada com a possibilidade de não ser a única, ela acaba combinando de encontrá-lo no dia seguinte. Após uma noite como aquela, a garota mal consegue dormir, principalmente após ter um sonho bem sexy e perturbador, e achar que alguém estava se esgueirando na sua janela.
No dia seguinte, Evangeline é praticamente obrigada a fazer uma visita à modista, mas acaba indo para a floresta, acompanhada apenas de Henry. Lá, os dois se conhecem e aproximam um pouco mais, mas o prazer do encontro secreto é ofuscado pelas emoções da volta para casa. Após achar que atropelou um homem, Henry desce da carruagem, seguido por Evangeline, e os dois acabam encurralados por um bando de homens de aparência nada agradável e olhos completamente brancos. Com a ajuda da boa forma, coragem e força de Henry e os poderes de Evangeline, o casal consegue escapar dos bandidos, mas o mistério estava longe de acabar. Afinal, por que aqueles homens a queriam tanto? E por que diabos eles tinham olhos brancos e pareciam ser imunes a morte?
“Ela não teve tempo de terminar a pergunta antes que o homem sumisse na frente de nossos olhos, mas ele não desapareceu sem deixar rastros. Ele se deteriorou, sua pele ressecou-se pouco a pouco até que nada restasse, além de uma pilha de ossos e vestes em farrapos no chão empoeirado.” (Pág. 279)
Desconfiada como nunca, Evangeline, ainda fraca por causa de sua luta horas antes, parte ao encontro de Dorian, com esperanças de conseguir respostas para algumas das perguntas que sempre a atormentaram. Dorian a leva para uma mansão perto da sua casa, onde ela conhece uma rica família de pessoas como ela. Apesar de estar maravilhada diante as novas descobertas e amizades, Evangeline não deixa de ficar alerta, afinal, como saberia se poderia confiar naquelas pessoas? A garota fica ainda mais intrigada ao saber, por eles, que o rei sofrera um atentado na noite anterior e, o mais impressionante, seu assassino simplesmente desapareceu em uma pilha de ossos. Ao ser acusada por Julian como responsável pelo atentado, Evangeline sabe que precisa ir a fundo nessa história, antes que acabe sendo queimada em uma fogueira acusada de bruxaria. Desfazendo pouco a pouco os nós dessa trama, a garota vai descobrindo mais sobre seus poderes e seu passado, assim como a identidade do mandante do assassinato ao rei, que está mais perto do que todos imaginam.
“― A ambição pode levar um homem a fazer coisas das quais se arrependerá eternamente." (Pág. 159)
“A Linhagem” começa já lançando mistérios sobre o leitor, mas tantas respostas desconhecidas acabam tornando o início da história lento e pouco motivador. Já estava desanimada quanto ao livro, quando de repente a trama adquire um ritmo inebriante, levando o leitor a voar pelas páginas e somente largá-las após terminada a leitura. Respostas começaram a ser dadas no mesmo ritmo em que novas perguntas surgiram, e foi aí que fui verdadeiramente conquistada e me apaixonei pela história.
A narração de Dornas foi uma surpresa desde o início. Logo nos primeiros parágrafos se percebe a qualidade da narrativa em primeira pessoa, construída de forma agradável, leve, envolvente e bem feita. Após o início lento, ela flui com rapidez e naturalidade e em momento algum senti que quem falava era a autora, parecia que uma Evangeline real é quem contava a história. É assim também com os capítulos e acontecimentos do livro. Após pegar o ritmo certo, o livro segue intrigando e surpreendendo o leitor a cada página. “A Linhagem” não tem aqueles momentos só para “encher linguiça”, a história segue sem enrolações, cada acontecimento e personagem com sua importância e sua hora, o que revelou um planejamento cuidadoso quanto à trama. Foi perceptível também que a autora deu-se ao trabalho de pesquisar e adaptar sua trama ao cenário e costumes da época. As menções e descrições de lugares londrinos foram perfeitas, assim como os ambientes, eventos, vestuário, modo de comportar e pensar tipicamente da época.
Todos os personagens foram simplesmente maravilhosos. Dos vilões aos mocinhos, todos foram bem feitos, bem descritos e bem colocados na história. A começar pela nossa protagonista, Evangeline, conhecida como Lina ou Eva pelos amigos. Uma bela e poderosa garota, a personagem me desagradou no início com suas reclamações. Mas, quando ela realmente mostra sua personalidade de uma pessoa que prefere agir a ficar parada, logo sou conquistada por ela. Evangeline é uma personagem completamente real, a autora soube balancear seu lado poderoso e corajoso com o lado sensível e carinhoso. Dona de um coração de ouro e grande inteligência, ela não se deixa corromper pelas dimensões de seu poder ou por sorrisos e belas aparências. Ela é o perfeito exemplo do tipo de personagem feminina que amo: uma garota que não tem nada de boba, sempre tem uma resposta na ponta da língua e que não pensa nas consequências na hora de ajudar os outros. Evangeline não é perfeita, claro, e gostei da autora ter mostrado isso, apenas deixou a personagem mais cativante. Nossa protagonista me lembrou muito Vitória Gardella, a corajosa venadora/caçadora de vampiros da Série Crônicas Vampíricas de Gardella, que eu amo. As duas iam se dar muito bem, caso se conhecessem. Na verdade, o estilo do livro, a mistura de romance de época com o sobrenatural, assim como o estilo da escrita da autora também me lembraram a Colleen Gleason (autora das Crônicas Vampíricas de Gardella), que é uma das minhas escritoras preferidas.
Voltando aos personagens, se Evangeline brilhou e conquistou, não foi diferente com os outros personagens. Henry é um amor de homem, sonho de qualquer garota. Lindo, gentil e corajoso, é impossível não amá-lo. O melhor amigo de Eva, Albert é sarcástico e muito divertido, eu gargalhei praticamente toda vez que ele aparecia. Genevieve, a linda e esperta melhor amiga de Lina combina perfeitamente com Albert, os dois deram um ótimo e divertido casal. Adorei ambos e acho que eles dariam perfeitos protagonistas para uma história só deles. Imaginei os dois em uma mistura de Sherlock Holmes com A Múmia, em histórias divertidas de um casal que investiga crimes sobrenaturais em pleno século XVIII (fica a dica para a autora)! ;D Dorian me conquistou pela sua aura envolvida em mistérios e, diferentemente dos outros personagens, ele foi o que mais provocou reações em mim: desde amor até raiva e muita surpresa. Adorei também a Morgana, ela foi um figura maternal muito digna. Quanto aos vilões, a autora conseguiu me fazer odiá-los apesar dos meus fracos pelos anti-heróis, Hector e Julian são completamente desprezíveis e perfeitos vilões.
Não tenho reclamações sobre a edição do livro que, apesar de simples, foi bem feita. Surpreendentemente, o livro estava super bem revisado, diferente da maioria das outras obras do selo Novos Talentos da Literatura Brasileira. Não encontrei nenhum erro durante todo o livro, a diagramação estava boa, assim como o tipo e tamanho das letras. As páginas amareladas ajudaram a deixar a leitura menos cansativa e mais rápida. A capa de “A Linhagem” é bonita, apesar da pose um pouco desconfortável e forçada da modelo. Entretanto, acho que o livro merecia uma capa mais bem elaborada, que transmitisse um pouco mais de todos os pontos positivos do livro.
Divertido e surpreendente, “A Linhagem” é um romance de época com elementos sobrenaturais e personagens que encantam e envolvem. O livro faz você torcer pelos mocinhos e fazer careta para os vilões, além de dar boas risadas e suspiros. Recomendo-o para todos que gostam de um bom romance de época, mas também de um bom livro sobrenatural recheado de mistérios, poderes e criaturas. Agradeço imensamente a autora pela oportunidade de ler sua obra e espero ansiosamente para conhecer mais de suas histórias. O final de “A Linhagem” foi simplesmente perfeito e não pede uma continuação, mas gostei tanto do livro que confesso que leria com tranquilidade e muita expectativa mais histórias desses belos personagens.
Autora da resenha: Ana Luiza Ferreira (La Mademoiselle)
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