Belle 26/03/2013Eu sou realmente fã do subgênero histórico e tive a oportunidade de ler esse livro através do grupo Livro Viajante, no Skoob. Por isso, peço licença para agradecer à Luana Lima, a proprietária do livro que não poderia ter sido mais legal ao colocá-lo para viajar. Quanto à história, bem, acho importante fazer algumas observações: Kathleen E. Woodiwiss é a percursora do elemento erótico nesse subgênero, tendo revolucionado o romance histórico moderno; originalmente, esta história foi publicada em 1974. Vocês devem estar se perguntando: ok, e daí? Peço paciência, vou voltar nesse ponto.
Em O Lobo e a Pomba somos apresentados à Inglaterra do século XI em meio a uma guerra de sucessão. Guilherme, o Bastardo, invade a Inglaterra com seu poderoso exército de normandos, alegando seu direito ao trono, pois era neto da rainha da Inglaterra. Entre seus homens, está Ragnor, um jovem e cruel guerreiro. Ao chegar às terras de Darkenwald, ele contraria as ordens de seu “superior” – o poderoso Wulfgar, protegido de Guilherme – e age com brutalidade e arrogância, exigindo a submissão e humilhação do senhor daquelas terras e de seus servos, que com o orgulho ferido, partem para um confronto fadado ao fracasso contra os normandos em maior e melhor número.
Aislinn, nossa heroína, assiste a morte do pai e de muitos dos camponeses de dentro do castelo, que é invadido após o massacre e saqueado. Cativado pela beleza da jovem, Ragnor a amarra aos seus pés e a obriga a assistir a sua mãe ser humilhada servindo os invasores e até espancada, além de sua criada adolescente ser estuprada na sua frente. Aislinn sabe que não há como escapar do mesmo destino da criada, ela está resignada, mas isso não a impede de lutar com todas as suas forças para atrasar ou apenas dificultar para o agressor.
Na manhã seguinte, Wulfgar chega e se surpreende com a carnificina que encontra. Além de ser “superior” a Ragnor hierarquicamente, aquelas terras lhe foram prometidas por Guilherme e, portanto, Wulfgar tinha o maior interesse em uma dominação pacífica, que não sacrificasse nenhum valioso servo e nem culminasse na morte do antigo senhor. Assim como Ragnor, Wulfgar se encanta com a beleza ruiva e rara de Aislinn e a jovem passa então a ser disputada por ambos os guerreiros. Para resolver o problema, Wulfgar sugere que Aislinn escolha entre os dois e, em um primeiro momento, ela o escolhe como vingança contra Ragnor.
A partir daí temos uma longa e árdua batalha de vontades entre Aislinn e Wulfgar, que contrariando todas as expectativas, não a toma na primeira noite. Nem na segunda, nem na terceira… Enfim. Aislinn passa a ser uma serva com funções um tanto quanto comuns, apesar de ambos saberem que mais cedo ou mais tarde, sua função será bem específica. Isso fica bem claro, desde o início, ele apenas está dando a ela tempo para se acostumar a ideia e, talvez até a gostar. Mas Aislinn é teimosa e devolve todas as provocações com fogo.
Quando a relação deles finalmente evolui, eu fui pega de surpresa por ter detestado tanto o Wulfgar! Quero dizer, desde o início o cara era um poço de arrogância, mas, pela forma dele de tratar a Aislinn eu achei que as coisas iam acontecer de forma diferente. Foi isso o que me deixou muito chocada com relação a essa história: a crueza (e porque não crueldade?) das situações. Estou acostumada com romances históricos que tenham uma pegada mais leve e delicada, como os da Patricia Cabot e Nicole Jordan.
Em O Lobo e a Pomba, não temos um herói preocupado com o prazer e a comodidade da mocinha. Wulfgar pega o que quer, na hora em que quer. E é aí que entra a questão do contexto histórico. Veja bem, essa história se passa em 1066, quando as mulheres sequer tinham o direito de abrir a boca quando não fossem autorizadas, quanto mais sentirem prazer. Então, essa situação, que para mim foi chocante e dificílima de absorver, é naturalmente enfrentada pela Aislinn, apesar de ela ter crescido como uma dama da sociedade e a posição de serva e de amante ser uma vergonha para ela. Ainda assim, ela sabe que deve aceitar tudo por causa do “direito” de conquistadores dos normandos. E, em certos momentos, ela até se sente grata por toda a situação.
Ainda com relação aos estupros e a essa crueza da história, me surpreendeu a falta de trauma psicológico nas personagens femininas. A verdade é que naquela época elas não podiam se dar ao luxo de qualquer outro trauma que não fosse o físico e, mesmo esse, chorado na intimidade de seus quartos, bem longe dos agressores. E, então, apesar de toda questão da arrogância do Wulfgar e o fato de ele ainda tratar a Aislinn com certo desprezo jocoso, como uma boa mocinha, ela passa a enxergar o homem justo e honrado que existe nele e que está escondido debaixo da couraça de indiferença e crueldade que o guerreiro usa. Acontece que ele é altamente traumatizado com relação às mulheres, por causa de sua mãe, que traiu o marido e engravidou, depois renegou o filho.
O livro tem alguns clichês, que são facilmente perdoáveis, já que Kethleen deu início a eles, como o mocinho negando seus sentimentos até o fim:
"Tome cuidado, jovem. Vou dizer a verdade. Depois de você, virá outra. e mais outra. Nada no mundo pode me prender a uma mulher. Portanto, proteja o seu coração."
O livro tem personagens muito bons, como os vilões, por exemplo, que são incríveis e me fizeram até mesmo “gostar” de todo o martírio da Aislinn. Além do mais, a preocupação da autora com a História é perceptível e, se você não tem muita intimidade com os fatos ocorridos durante a Baixa Idade Média, eu aconselho a dar uma pesquisada antes, só pra não ficar muito perdido… Pesquise principalmente sobre Guilherme e a guerra narrada no livro.
O Lobo e a Pomba tem tudo o que eu adoro em romances históricos, mas, ainda assim, eu fiquei decepcionada. Esperava uma história linda, que me fizesse abraçar o livro em determinadas partes e suspirar durante um longo tempo após a leitura. Ao contrário disso, eu suspirei de alívio ao terminar. Não que a leitura seja ruim, sabe? Mas, eu realmente detestei ser bombardeada com a realidade daquelas mulheres… A crueldade com que elas eram tratadas… Nossa! Não é algo fácil para se lidar. Mas, sendo bem sincera, minha reação é de alguém que esperava se apaixonar pela história e acabou encontrando outro tipo de livro. Um muito bom, mas, que não atendia às suas expectativas de delicadeza e romance fofo.
Além disso, o final foi “forçado” demais, eu simplesmente não o engoli. E as cenas íntimas foram decepcionantes. Não há descrições detalhadas, só insinuações e muito erotismo. E é aqui que entra aquele ponto lá de cima: apesar de revolucionárias, as histórias de Kathleen não podem ser comparadas às mais atuais, afinal, elas são da década de 70. Eu acabei percebendo tarde demais que não dava para esperar detalhes “quentes” desse livro.
http://www.itcultura.com.br/2013/03/o-lobo-e-a-pomba-kathleen-e-woodiwiss/