luisa972 29/01/2021
Interessante
Tente entender os homens. Se vocês se entenderem, serão gentis um com o outro. Conhecer bem um homem nunca leva ao ódio e quase sempre leva ao amor.
-John Steinbeck
Essa frase de Steinbeck, apresentada por Susan Shillinglaw em uma introdução ao livro, é perfeita para descrever a história de George Milton e Lennie Small, grandes amigos que trabalham fazendo bicos em fazendas da Califórnia no período da Grande Depressão, sem nunca ficarem em um lugar tempo o suficiente para poderem chamá-lo de lar.
Quando ouvimos histórias sobre serial killers, ou sobre qualquer pessoa que tenha matado por prazer, é comum que esses indivíduos tenham apresentado os primeiros indícios do seu sadismo na infância, torturando, abusando e matando animais. Lennie Small já matou muitos ratos, e em certo ponto chega a matar um filhotinho de cachorro... Então por que George Milton continua sendo amigo dele? Simples: porque Lennie Small nunca matou por mal ou sentiu prazer em fazer isso. O homem é como uma criança! Uma criança incapaz de medir a própria força ao agradar e acariciar animais, coisa que gosta tanto de fazer. George entende isso.
Assim, ao longo da narrativa, que se passa em uma fazenda ao Sul de Soledad, o autor nos dá a oportunidade de entender a linda amizade entre os dois homens, assim como a empatia, a lealdade e o amor platônico que a sustenta. O contraste entre a experiência de George e a inocência de Lennie é muito bem trabalhado, assim como a escrita , que não falha ao representar a fala caipira diretamente, fazendo com que o leitor se sinta dentro da história, passando por tudo junto com o Lennie e o George. Steinbeck deu mais valor ao sentimento do que à ortografia.
Em contraposição a amizade dos protagonistas, alguns personagens apresentam tanta solidão que chega a ser miserável, como o pobre Crooks, o estribeiro da fazenda. O homem é constantemente excluído e discriminado pelo fato de ser negro. Em certo ponto da história, ele desabafa com Lennie: “Imagina se ocê num tivesse ninguém. Imagina se ocê num pudesse entrá na casa dos pião pra jogá baralho porque ocê era preto. Ocê ia gostá? Imagina se ocê tivesse que ficá aqui sozinho, só lendo[...] Qualqué pessoa fica loca se num tivé ninguém. Num faiz diferença quem tá co’a gente, só precisa tá junto..”
A esposa de Curley, o filho do dono da fazenda, também é atormentada pela falta de um amigo, “Ocêis acha que eu num gosto de batê um papo de veiz em quando com alguém? Acha que eu gosto de ficá infiada naquela casa o tempo inteiro?”, mas ninguém quer conversar com ela ou nem mesmo ficar perto, porque acham que ela é confusão, uma “chave de cadeia”. Na verdade, isso foi uma das coisas que me irritou bastante no livro. Primeiramente, a moça não recebe um nome. Até mesmo personagens que nem participaram ativamente da história receberam um, como o Murray e o Ready, que disseram ao George e ao Lennie sobre a vaga de emprego na fazenda do pai do Curley. Segundamente, ela é chamada de “puta” e “vagabunda” só por querer interagir com outros seres humanos! Aparentemente todo mundo nesse livro acha que ela deve arrancar os próprios olhos e mofar dentro de casa. Claro que ela não é nenhuma santa, mas mesmo assim.
Enfim, no geral gostei bastante. Não é uma leitura difícil e complicada, muito pelo contrário. Além disso, o desfecho é emocionante e não muito previsível. Recomendo pra quem tem interesse em conhecer um pouco mais sobre literatura americana ou sobre a história do Lennie e do George.