Telma 27/04/2013Ti saluto, Salustiano!!!O Eterno Barnes
Salustiano Luiz de Souza
Parabéns a Salustiano por ser um Educador nato! Por saber, como poucos contar uma história.
Parabéns a Novo Século pelo riquíssimo projeto Novos Talentos da Literatura Brasileira. Através desse projeto tenho tido a oportunidade de conhecer escritores maravilhosos que estão em meu país.
As capas belas que me perdoem mas, sem sempre beleza é fundamental. Digo eu, parafraseando o fofo, Vinicius de Morais.
Verdade, a capa de O Eterno Barnes não é linda! Tem todo um significado, mas não é linda. Mas fica mais bonita quando se lê a história. A ideia da imagem que remete ao quadro A Criação de Adão, pintado por Michelangelo Buonarotti por volta de 1511, que figura no teto da Capela Sistina, é fantástica e tem uma ligação imensa com a história.
Sabe o simples intelectual? É exatamente assim a capa... As patterns de fundo que rementem a uma cadeia de neurônios ou células também me impressionou intelectualmente.
Volto a dizer: amo a beleza das capas coloridas!... mas fiquei surpresa com a beleza intelectual dessa capa.
Tão surpreendentemente quanto a capa é a escrita de Salustiano.
Impossível não perceber a quantidade de pesquisa que envolveu esse livro. Salustiano é advogado... mas não se limita a isso. Na escrita ele é o que quer ser: médico, poeta, filósofo... definitivamente um intelectual pensador. Um educador que gera reflexão!
Digo com todas as letras que não será todo mundo que irá gostar desse livro. Há suspense, há uma história de ficção científica (será msmo ficção ou estamos perto disso) mas há muito, muito pano ...ou melhor, folha, pra reflexão.
Uma reflexão gostosa demais!!!! (no meu ponto de vista). Tão antiga quanto a que permeava os povos antes de Cristo, quanto atual como no dia em que faço essa resenha (27/04/2013).
Quem não quer ser eterno? Quem não quer descobrir a fórmula da cura de todas as doenças, inclusive a do câncer que vem devastando famílias de forma tão impiedosa? (o cura, entre parênteses tem a ver com a história do Dr. Barnes.
Até onde você acha válido (ético) ir, para se conseguir um feito tão grandioso como esse?
Pois bem, Dr. Barnes é mostrado como um ser como você e eu, com seu lado bom e seu lado mau... exatamente como todos nós. Há um momento em sua vida em que ele se vê nessa encruzilhada do até onde devo ir para conseguir a eternidade? e decide que deve ir até onde for necessário. Todo o suspense e ficção giram e torno dessa premissa.
Barnes está doente. Seu corpo está seriamente comprometido mas, seu cérebro está são e possui o conhecimento de pesquisas de anos... ele descobriu como tranasformar os dados do cérebro (todos eles ... memórias, emoções, conhecimento, etc) em aquivo de dados e pretende passar os dados de seu cérebro para um corpo sadio.
Depois de muito preparar-se e do diagnóstico nefasto da sua doença, ele decide fazer. É como o livro começa. Mostra o exato momento da cena da transferência de dados.
Veja esse trecho, do fim do primeiro capítulo:
O calafrio que percorreu sua espinha, o súbito adormecer das suas pernas, o aproximar-se do chão ao desmaiar não foi rápido o suficiente para deixar de registrar o macabro quadro à sua frente e fazê-la dar um grito de pavor. Grito que sequer saiu de sua garganta.
- Meu Deus... ainda teve tempo de balbuciar.
Sobre o corpo deitado do doutor Barnes estava a Doutora Lourdes, estranhamente de pé, totalmente debruçada, com os braços caídos para o outro lado da mesa, passando por cima do corpo do Doutor Barnes, quase formando uma cruz. Nos seus olhos arregalados estava estampado o terror e de seus lábios entreabertos pendia um fio de sangue, sangue este que se espalhava sobre os alvos guarda-pós dos dois médicos, já banhando os lençóis. p.22
É assim que começa o livro. E é durante todo o livro que Salustiano nos mostra o que e como aconteceu.
Será que o intento deu certo? Vivia Dr. Barnes no corpo de outra pessoa?
Com um Português impecável, utilizando-se dos conceitos e reflexões de historiadores, filósofos, médicos, religiosos, artistas e outros gênios de todos os tempos, Salustiano nos dá um material educativo de primeira linha, recheado de muito suspense, terror, um Q de luxúria até... e muita ganância.
Esse livro me fez lembrar em vários momentos a música de Raula Seixas: sim! Sou muito fã do cara e essa letra, tão verdadeira e tão dark (pode a morte ser pintada de outra cor?) tem absolutamente o mesmo teor do livro O Eterno Barnes.
Canto Para A Minha Morte
Raul Seixas
Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos.
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir.
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar
Com que rosto ela virá?
Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque?
Na música que eu deixei para compor amanhã?
Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?
Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada,
E que está em algum lugar me esperando
Embora eu ainda não a conheça?
Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo, mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida
Qual será a forma da minha morte?
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida.
Existem tantas... Um acidente de carro.
O coração que se recusa abater no próximo minuto,
A anestesia mal aplicada,
A vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida
O câncer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe,
Um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio...
Oh morte, tu que és tão forte,
Que matas o gato, o rato e o homem.
Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar
Que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva
E que a erva alimente outro homem como eu
Porque eu continuarei neste homem,
Nos meus filhos, na palavra rude
Que eu disse para alguém que não gostava
E até no uísque que eu não terminei de beber aquela noite...
Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida
Esse livro não merece nada menos do que 5 estrelas e esse não dou, não vendo e não troco. Felizmente está autografado para mim e, no seu lugar, eu correria para comprar o meu!
;)
Beijos muitos!
PS.: Possíveis erros ortográficos ou gramaticais nessa resenha serão corrigidos com o tempo... se eu tiver tempo... se a Morte não chegar antes do Tempo.