Lethycia Dias 23/01/2022Prosa bonita, porém não me envolveuComprei este livro há alguns anos, quando ouvia falar bastante deste autor português com sobrenome inusitado e livros com títulos ainda mais inusitados. Na época, li "A desumanização"; deixei "O apocalipse" para depois, depois e depois, até achar que tinha chegado a hora de ler.
Nesta novela, acompanhamos Maria da Graça e Quitéria, duas diaristas na cidade de Bragança, em Portugal, e Andryi, um imigrante ucraniano em busca de trabalho. Maria da Graça trabalha para um homem com quem tem uma estranha relação que alterna entre abuso sexual, paternalismo e afeto; enquanto Quitéria se relaciona com Andryi, que enfrenta um silêncio imposto pelo pouco conhecimento do idioma português.
A proposta, aparentemente, era nos inserir no cotidiano de pessoas cujos trabalhos consomem suas vidas. Pessoas que se anulam em trabalhos braçais e pouco qualificados a ponto de estarem à beira de um constante apocalipse. A meu ver, não foi bem executada; poderia ter sido se acompanhássemos mais o dia-a-dia de Andryi, que aparece mais em companhia de Quitéria do que sozinho ou com outros imigrantes do norte da Europa. É verdade que Maria da Graça e Quitéria têm trabalhos pouco valorizados que as tornam quase "coisas" de seus patrões; mas não vi essa questão tão presente na história.
As duas alternam entre seus empregos, o serviço doméstico das próprias casas e o "freela" como carpideiras, chorando a morte de pessoas que não conhecem e que não têm ninguém próximo para estar em seus velórios. E passam os dias conversando sobre esse cotidiano que é sempre igual, alterado apenas pela morte do patrão de Maria da Graça e pela volta do marido dela, que é marinheiro e passa meses no mar.
A prosa é bonita, mas não foi suficiente para que eu criasse algum tipo de conexão com essas personagens. Os trechos a respeito do pai de Andriy, que sofre com uma mania de perseguição e um medo constante de ser capturado e morto, também não ajudam. Fiz uma leitura bastante lenta e com pouca imersão.
A edição da Cosac Naify é como a linguagem utilizada: bonita, porém pouco funcional. A diagramação deixou o texto afastado das margens internas e muito próximo das externas, de forma que, segurando o livro físico, os dedos sempre tampam parte do texto.
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