Ana 23/08/2012
Um dos melhores de Aluísio
Sinceramente, não entendo por que os críticos insistem em julgar O Coruja como um dos livros da mais baixa qualidade dentre os escritos por Aluísio. Pois eu, desde a primeira página, encantei-me pela obra.
Pode ser que os personagens não convençam em seus defeitos e virtudes assim como a escrita pode ser descrita como superficial em certos pontos. Mas, por vezes, apenas o escritor sabe quando o enredo pede por um aprofundamento maior e quando ele pede apenas pra que os dedos do autor desenhem um curso superficial, dando o ponto de partida pra que o leitor crie um vínculo maior com a história, desvendando assim os seus segredos.
Por que André não é apenas o feio que é extremamente bom assim como Teobaldo não é simplesmente o bonito que é egoísta e inconsequente. Se pensarmos bem, André sente-se grato por tudo o que Teobaldo lhe fez; antes do rapaz, André era fadado a mais completa solidão. Mesmo tendo defendido Teobaldo em uma briga que não era sua, André não deu qualquer abertura pra que o outro se aproximasse, mas mesmo assim Teobaldo se aproximou.
Apesar de ser lindo, mimado e muito estimado por todos, Teobaldo não desprezou o Coruja, que era o garoto mais impopular do colégio. Antes, sentiu-se grato pelo ato do rapaz, submetendo-se a um castigo junto a ele por acreditar que assim estaria sendo justo.
Em suma, aquele que deu início a amizade foi Teobaldo, o rapaz tido como superficial e sem qualquer tipo de inclinação a atos altruístas. De certa forma, ele salvou o Coruja. Deu-lhe amor quando ninguém mais deu. Trouxe-o até sua casa quando ninguém mais o queria. Aturou sua casmurrice por gostar daquela figura feia e calada.
André, por sua vez, defendeu Teobaldo apenas por que considerou tal atitude a mais correta no momento. Por que seu jeito calado e acabrunhado era abalado somente quando situações covardes se desenrolavam diante de seus olhos; daí percebe-se que André, o Coruja, tem um bom coração. Graças a esse seu rompante, ele ganha a amizade de Teobaldo. Seu primeiro amigo... e seria o único por um longo tempo.
Em todas as situações nas quais André foi bom pra Teobaldo, ele nada mais fazia do que cuidar de seu único amigo tal como se este fosse algum artefato inestimável. Assim, ele se sacrificava e se dedicava em nome da amizade sempre que acreditava ser preciso, revelando assim que era a criatura mais altruísta da face da Terra.
Será? Pra mim, tais atitudes eram justamente da forma como coloquei: apenas o Coruja cuidando de seu único amigo que, sem que houvessem motivos, sempre o trouxera por perto, ajudando-o mesmo que à sua maneira mimada e burguesa de quem sempre teve o que precisava sem ter que lutar por isso. Até mesmo o fato de André lecionar por vezes de graça, por vezes comprando o material dos alunos, pode ser explicado sem recorrer a pura e simples bondade: com sua natural casmurrice, mas com seu gosto por lecionar, ele sempre acabava por optar pelo caminho mais curto. Se ele pudesse ensinar sem ter que negociar e renegociar, ouvindo inúmeras desculpas quanto ao dinheiro inexistente e aos pedidos de piedade, assim o faria, por mais que isso lhe custasse.
Se eu fosse destrinchar a obra, certamente que acabaria por desencadear uma intensa discussão sobre a mesma, mas acredito que apenas esses pontos sejam suficientes pra que a minha opinião fique bem clara: não devemos observar a trama de uma forma tão superficial. Aluísio pode sim ter escrito uma obra aparentemente simples, mas, sob outro olhar que não seja àquele limitado que espera frases prontas e ideias formadas, existe aí uma riqueza maior do que se pode imaginar.
Dê uma chance ao Coruja. Se você leu e participou da opinião dessas pessoas que acreditam na superficialidade da obra, leia novamente, mas com um olhar mais analítico dessa vez. Deixe que a escrita de Aluísio faça parte de você por um momento. Pois só assim você poderá entender sobre todas as palavras usadas por mim nessa singela resenha.