Vê 31/07/2013Sabe aquele livro que você pega para ler achando que entendeu uma coisa com a sinopse, mas, na verdade, acaba revelando-se algo completamente diferente do que esperava? Pois é. Isso já aconteceu comigo antes. Só que no caso de A Livraria 24 horas do Mr. Penumbra não foi uma surpresa boa. Eu passei esse livro na frente de muitos outros porque pensei: "Ora, uma livraria! Se tem livraria, então temos livros e se temos clientes que se enfurnam em cantos obscuros junto do proprietário, então temos...um clube do livro!" Mas não é nada disso.
Logo podemos perceber que o Clay, o narrador dessa história, é um personagem que não tem nada de especial. E ele faz questão de ressaltar isso. Um desempregado como tantos outros, atingido pela forte recessão, e que está em uma busca interminável por um emprego. Até aí, nada de novo.
Mas quando ele procura por um emprego na Livraria 24 horas do Mr. Penumbra, as coisas parecem que vão ficar interessantes. O Mr. Penumbra é um senhor bem peculiar, silencioso e que comanda uma livraria aparentemente calma. Clay fica animado por finalmente sair do desemprego e aceita trabalhar no turno da noite, encontrando certas exigências bem intrigantes, assim como a clientela com a qual ele logo irá se deparar. E não são apenas as pessoas, mas também os livros que elas virão requisitar, todos parte de um acervo localizado em uma estante tão alta que praticamente some na escuridão da biblioteca e onde Clay deverá se aventurar sem, no entanto, nunca bisbilhotar no conteúdo desses livros tão misteriosos.
E eu achei que, até aí, o livro já estava muito bom. Estava falando de livros, uma possível sociedade secreta relacionada a livros. Só que, mesmo assim, sentia que faltava alguma coisa. A leitura estava fluindo bem, estava gostosa, mas não tinha nada de impressionante, nada que me fizesse querer devorar suas páginas, ávida por descobrir o que mais A Livraria 24 horas do Mr. Penumbra me guardava. Estava morna.
Então as coisas começaram a ficar estranhas. O autor introduziu uma discussão sobre tecnologias, partindo, é claro, do princípio de seu protagonista ser um web-designer e possuir certo conhecimento técnico, mas a forma como essa temática foi evoluindo...para mim, não fez o menor sentido. Houve momentos em que o Google era o foco do livro, então eu parava um pouco a leitura, voltava algumas páginas e pensava: "Mas espera, quando é que o Google passou a tomar o lugar da Livraria 24 horas do Mr. Penumbra?"
O fascínio pela tecnologia, pelo desenvolvimento de novas técnicas que eu nem sei se já existem ou se estão sendo trabalhadas, invade o espaço e os livros ficam em segundo plano. Aí parece que o autor sacode um pouco a cabeça, se lembra do que estava escrevendo, e retoma os livros. E eu volto a me acalmar.
No geral, A Livraria 24 horas do Mr. Penumbra é uma leitura agradável, mas sem qualquer fascínio. O que eu pensava se tratar de um livro sobre a investigação de um novo atendente de livraria a respeito de uma possível sociedade-secreta-clube-do-livro, acaba tornando-se a demonstração de como os computadores estão evoluindo e já superaram em muito os pobres livros e de como Clay não consegue ficar de boca fechada por muito tempo porque ele logo sai contando para todo mundo o que ele suspeita estar acontecendo dentro da livraria (Clay, você não é nada discreto; péssimo para um detetive).
Na minha opinião, toda essa parte de tecnologia poderia ter sido retirada tranquilamente do livro e o autor poderia ter explorado bem mais a descoberta dessa sociedade secreta por parte de Clay que, para mim, ficou algo superficial e fácil demais. Não houveram conflitos o suficiente no livro que me fizessem ansiar por suas resoluções, contratempos que me fizessem torcer pelos personagens. Ficou tudo insosso.
Portanto, é um livro bem escrito, mas não bem desenvolvido. Uma pena que minhas suspeitas não se confirmaram, acho que teria me divertido bem mais com a história.
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http://onlythestrong-survive.blogspot.com.br/2013/07/resenha-livraria-24-horas-do-mr.html