Ana Luiza 08/09/2013
Resenha do blog Mademoiselle Love Books - http://mademoisellelovebooks.blogspot.com.br/2013/09/resenha-livraria-24-horas-do-mr.html#more
Clay Jannon é um web-designer desempregado e nerd que, pela necessidade, acaba aceitando um emprego no turno da noite em uma livraria 24 horas. Jannon tem absolutamente nenhuma experiência como atendente de livraria, mas Mr. Penumbra, seu chefe, é exigente quanto a outros aspectos. Assim, Clay é contratado graças a seu amor pela série “As Crônicas da Balada do Dragão” e capacidade para subir escadas.
“Há coisas estranhas e misteriosas acontecendo na Livraria 24 Horas do Mr. Penumbra.” (Pág.64)
As peculiaridades de seu chefe e do local onde trabalha ficam cada vez mais evidentes para Jannon conforme ele passa suas noites na livraria. Mr. Penumbra é um homem bastante idoso, surpreendentemente energético e simpático, mas um enigma tão grande quanto seu estabelecimento. A Livraria 24 Horas do Mr. Penumbra é uma loja estreita e alta, com estantes que vão do chão ao teto, que guardam volumes antigos e grossos, todos escritos em um código misterioso. Livros “normais” também são vendidos ali, mas apenas a clientes esporádicos e amigos que Jannon arrasta até a loja.
O verdadeiro público da Livraria são pessoas como o Mr. Penumbra, de idade avançada e aparência peculiar. E, na verdade, eles não compram livros ali e sim pegam emprestado algum volume do que Jannon apelidara de “Catálogo Pré-histórico”, os livros escritos em código que ele não deveria ler ou até mesmo folhear. Supostamente, é claro, já que Jannon não resiste à tentação e bisbilhota alguns dos volumes na companhia de seu amigo Mat.
“Livros, antigamente, eram algo de altíssima tecnologia. Não são mais.” (Pág. 98)
Mas grandes revelações vêm mesmo quando Jannon resolve criar um modelo 3-D da Livraria em seu computador, para um futuro site da loja, desde o início ele vinha pensando em como poderia aumentar o movimento da Livraria para além dos frequentadores do “Catálogo Pré-histórico”. É com uma dessas tentativas que ele atrai Kat “Potente”, uma bela, simpática e inteligentíssima funcionária da Google, até a loja. Kat trabalha com computadores e ajuda Jannon em seu modelo 3-D. Ao criar uma função no protótipo onde ele simboliza, por diferentes cores, os livros que cada cliente do “Catálogo Pré-histórico” já pegou, eles percebem que há uma sequência lógica que forma o desenho de um homem nas prateleiras da Livraria.
“A Unbroken Spine se esconde em plena vista.” (Pág. 128)
Agora completamente mergulhado nesse mistério, Jannon, acompanhado de Kat, Mat e seus outros amigos, resolve desvendar esse mistério de uma vez por todas. E é assim que ele descobre a Unbroken Spine, uma sociedade secreta determinada a desvendar o código deixado por Aldus Manutius, um tipógrafo italiano, considerado um dos primeiros mestres do design tipográfico, que levaria a todos os membros a imortalidade. Apesar de não acreditar na parte da imortalidade, Jannon segue em frente com esse mistério, usando métodos ultramodernos (como um scanner de livros e supercomputadores), jamais usados por qualquer membro da Unbroken Spine. Mas muitos não acreditam no sucesso de Jannon. Será que alguns mistérios não podem ser desvendados nem mesmo pela mais alta, moderna e cara tecnologia? Algo que não posso ser substituído por ela?
“Não é fácil imaginar o ano 3012, mas isso não significa que você não deva tentar. Temos novas habilidades agora, poderes estranhos aos quais ainda estamos nos acostumando.” (Pág. 288)
“A Livraria 24 Horas do Mr. Penumbra” é um livro cativante, divertido e surpreendente! Com uma narrativa, assim como os personagens, bem humorada e nerd, o livro conquista o leitor nas primeiras linhas, deixando-o completamente vidrado até a última. Minhas altas expectativas para a leitura foram não só cumpridas, mas superadas! Robin Sloan acertou em todos os aspectos do livro, desde a narrativa em primeira pessoa, até trama e os personagens. É perceptível que o autor pesquisou bastante antes de construir sua história, o que deixou sua mistura de realidade com ficção praticamente imperceptível. Sério, pesquisei alguns fatos e personagens para ver se não são reais mesmo! Não me surpreenderia se um dia entrasse em uma livraria e me deparasse com os livros em código da Unbroken Spine! ;D
Outra coisa que me encantou no autor foi o modo como ele misturou o clássico com o moderno, o arcaico com o tecnológico. Ao mostrar seus personagens resolvendo o enigma secular da Unbroken Spine, com suas bibliotecas secretas e membros sábios e peculiares, com computadores super potentes, auxílio do Google, comunidade virtual de hackers, scanner de livros e etc., o autor apenas deixou o livro mais real, cativante e atual. Além de levantar questionamentos. Nessa avalanche tecnológica que se encontra o mundo de hoje, onde a mais avançada tecnologia já está ultrapassada no dia seguinte, é preciso que nos perguntemos até onde poderá e conseguirá ir tanto avanço, tanta tecnologia. Em uma realidade onde pessoas sentam em uma mesma mesa, mas conversam pelo celular, existe espaço para as tradições, para o antigo? E em um mundo onde tudo é tão passageiro, é possível existir imortalidade? Ou as pessoas e suas histórias de vidas, suas conquistas, se tornaram tão descartáveis quanto os aparelhos eletrônicos? É algo a se pensar...
Reflexões a parte, os personagens se mostraram tão cativantes quanto à trama. Bem humorados e inteligentes, todos eles tiveram características próprias, assim como espaço na história. Jannon, nosso protagonista, é um nerd de carteirinha, que joga vídeo game e rpg. Ele só não perde para seu melhor amigo Neel Shah, um jovem empresário rico que atua no ramo dos games. Kat, o par romântico de Jannon, é uma mulher inteligentíssima, uma fera quanto se trata de computadores. Mat, amigo e colega de apartamento de Jannon, é um artista super criativo. Esses quatro foram meus personagens favoritos, dei boas risadas com cada um deles. Mr. Penumbra também me agradou bastante. O velhinho sábio, que acreditava em Jannon e seu método moderno de resolver o enigma da Unbroken Spine, foi um personagem mega interessante, pois representou o equilíbrio entre o tradicional e o tecnológico, ele é a prova de que os dois podem conviver.
Quanto à edição, o livro também estava perfeito. A diagramação e a tradução estavam bem feitas, minha única reclamação é quanto a tradução do título. “A Livraria 24 Horas do Mr. Penumbra” é a tradução literal de “Mr. Penumbra's 24-Hour Bookstore”, mas não entendo porque não traduziram o “Mr.”, de mister (senhor em inglês), para “Sr.”, a forma abreviada da tradução da palavra. “Mr. Penumbra” soa estranho em português e não ficou legal com o título. Fora isso, só tenho elogios a dar. As páginas amareladas e o tamanho e tipo da fonte deixaram a leitura ainda mais rápida e o livro é super leve para suas 288 páginas. Mas, para mim, o melhor de tudo foi a capa. A original é super sem graça e as de outras edições são legais, mas nem se comparam a nossa. O título escrito em três fontes diferentes e em auto relevo ficou divino, principalmente pelo “24 horas do” em cores fortes, que realmente lembra as placas de neon de lojas que ficam abertas o tempo todo. Os livros volumosos e de aparência antiga no fundo, assim como a plaquinha escrita “Mr. Penumbra” e o nome do autor, sobre a parede de tijolos, me deu a sensação de que, toda vez que abria o livro, eu estava entrando na “Livraria 24 Horas do Mr. Penumbra”.
Com uma excelente edição, história maravilhosa e personagens divertidos, “A Livraria 24 Horas do Mr. Penumbra” conquistou um lugar entre meus favoritos, assim como seu autor conquistou um lugar entre os escritores que adoro. Estou ansiosa por próximas obras dele. Todos os amantes de livros que, como eu, sempre sonharam em entrar em uma livrariazinha pequena e peculiar e, ali, encontrar e viver grandes aventuras, precisam ler esse livro! Tenho certeza de que vão amar esse livro meio nerd e completamente bem humorado!
“Um homem caminhando apressado por uma rua escura e deserta. Passos rápidos e respiração ofegante, maravilhado e ávido. Um sino acima de uma porta e seu tintilar. Um atendente e uma escada e uma luz dourada quente, e então: o livro exatamente certo, no tempo exatamente certo.” (Pág. 288)
Autora da resenha: Ana Luiza Ferreira (La Mademoiselle)
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