Marcoss 22/05/2021
Um coração a mais
Acho que não tenho palavras suficientes para expressar o que A Comissão Chapeleira fez comigo. Entretanto, deixar o livro apenas como lido é uma ação terrível, uma das piores que um leitor poderia fazer com uma obra de arte. Sim, ACC (sigla) não é apenas uma continuação, o segundo livro de uma série que tinha tudo para dar errado mas está dando certo; é, também, uma obra de arte das mais lindas que já vi. Por isso, antes de falar tudo o que quero, faço das palavras do Carpe Libre as minhas: "Venho avisar a todos que encomendem dois corações a mais, porque A Comissão Chapeleira é o livro mais tenso, angustiante, emocionante, inspirador e desesperador que eu já li [...]".
Realmente, ACC é tudo e muito mais. É emocionante porque não é apenas ficção, uma história inventada na cabeça de uma grande sonhadora. Tudo, do início ao fim, realmente aconteceu, e só sabemos depois de anos.
Acredito que livros sempre tratam de algo verdadeiro, muitas vezes falando de emoções e outras de ações. Renata Ventura denunciou tanta coisa em 655 páginas que me pergunto como ela teve a mentalidade para escrever cada parágrafo, um mais angustiante que outro.
A Comissão Chapeleira me destruiu completamente, cada parte de mim. Estou tremendo enquanto escrevo! Se a missão de Ventura foi realmente criar algo penetrante, parabéns, nota 10.
Vejo que Renata evoluiu como os personagens. Se antes algumas partes pareciam uma fic de uma criança, agora, desejei que tudo fosse, que o que aconteceu em todas as páginas passasse de uma fic que terminaria com todos felizes. Mas não, esse não é o rumo do rio.
Usando a cultura de Salvador e da região Nordeste, Renatinha nos mostrou comida, horizonte e folclore, enquanto mostrava a parte em que rebeldes passaram de simples protestantes e viraram refugiados perseguidos pelo governo. Foi mostrado o quanto nosso orgulho nos impede de ajudar os outros, não diretamente, mas ajudando não destruindo mais, não pisando quando deveria abraçar, não se calando quando deveria denunciar, não o aceitando quando deveria estar acima dele.
Renata Ventura sabe ser cruel, sabe como deixar os leitores quase infartando, morrendo com medo de algum personagem realmente morrer. A classificação indicativa de A Comissão Chapeleira é entre 15 e 16 anos, se não me engano, mas nem um adulto de 40 não conseguiria não se sentir incomodado, tenso, com o coração na mão. Quantas vezes não fiquei umas horas acordado de noite pensando se aquele personagem estaria bem nas próximas páginas; quantas vezes desejei que aquele corpo fosse de outra pessoa. Mas não era! E é isso que faz com que eu esteja tremendo depois de terminar a leitura. Eu me senti tão dentro do universo que estava tentando arrumar mil maneiras de fazer tudo dar certo.
Sem mais "Adendos", termino por aqui, desejando que a nova tiragem de ODT1 saia logo, aplaudindo de pé a obra de arte nacional que me foi proporcionada. Por isso, digo: leiam! Ler essa série incrível mudou minha vida, e eu só li 2 livros. Não me surpreende A Comissão Chapeleira ter ganhado um prêmio, e só um é pouco. Tudo evoluiu dentro e fora do livro. Os personagens, a autora e os leitores são outros ao ler ACC. Confiar nesse livro foi como confiar no Hugo, poderia vir tudo de ruim (e veio, de certa forma), mas é necessário. Sem confiança, principalmente a que devemos ter em nós mesmos, não conseguimos nos mudar e mudar nossas ações. Talvez algum dia as pessoas sejam como Ítalo ou Idá.