Juh Lira 21/12/2016O Que Há de Errado com o Mundo e com o Século XXIUma das maiores mentes do século XX, mas ignorado pelo tempo - ou talvez seja pelo medo dele apresentar argumentações muito mais sólidas do que as falácias modernas de hoje - Gilbert Keith Chesterton foi um escritor, jornalista, filósofo e poeta britânico nascido em 1884 em Kensigton, Londres.
A minha descoberta sobre o autor se deu por acaso nas minhas andanças em blogs e sites de raízes conservadoras - em língua portuguesa e inglesa - e as referências a ele que eram constantes, em especial por ele ter sido o apologista católico mais ferrenho do último século. Em seguida, passei a acompanhar a página Sociedade Chesterton Brasil no Facebook e conhecer pelas postagens um pouco sobre o autor e do por quê de todo mundo falar tanto dele.
Pois bem, uma coisa leva a outra e cá estou eu após ler O Que Há de Errado com o Mundo (What's Wrong with the World) feliz. Isso mesmo, feliz apesar de todas as situações e mudanças problemáticas que ele pontua no livro em diversos tópicos - pobreza, sufrágio feminino, educação das crianças, trabalho, burocracias ridículas do seu tempo, Chesterton só carimba como verdadeiras as minhas pertubações pessoais sobre as coisas erradas do século XXI - e com certeza, pertubações de milhares de outras pessoas.
Publicado em 1910, alguns anos depois do fim da era vitoriana e no mesmo ano da morte do sucessor da rainha, Edward II, Chesterton se concentra somente nas mudanças da sociedade britânica, seu lar, mas muitas de suas preocupações poderiam muito bem se aplicar às sociedades de hoje do Ocidente. Eu diria que esse ano eu não li nenhum outro livro mais atual do que este.
Essa resenha vai soar bem mais pessoal do que outras que já escrevi, pois por muitos anos em especial durante os tempos de escola, eu buscava correntes filosóficas e políticas no qual eu pudesse ao menos concordar, à luz da minha educação cristã herdada dos meus pais. Já cheguei a concordar com diversas bobagens, influencidada por professores e amigos, sem nem ao menos parar para refletir no que de fato eu estava dizendo - apenas seguindo a corrente para ser aceita.
Hoje ler um livro que diz para você que o tal progressismo moderno não é uma coisa boa quando feito sem princípios, sem se preocupar com a alma humana é aliviante. Os capítulos sobre o feminismo foram os mais tocantes em particular, por somente confirmar aquilo que eu já sabia: não trouxe benefício para ninguém. Ninguém.
Assim como terceirizar a educação da crianças nas mãos do Estado - do todo poderoso Estado que virou o deus desse século, cabeça da idolatria cientificista e futurista - tirou a liberdade das famílias, assim como a liberdade individual da forma mais cruel e desumana, resumindo as pessoas em apenas em uma sociedades de insetos. No livro, ele explica de uma forma bem interessante com a parábola do Hudge e Gudge.
Na Inglaterra de Chesterton, pequenos aristocratas ditavam às pessoas mais pobres como deveriam viver em meios aos problemas sociais que surgiam, ao invés dessas mesmas pessoas, mais poderosas que os mais pobres, buscarem soluções para o problema da peste de piolhos por exemplo, do que mandar as crianças cortar os cabelos. Não é muito diferente do que está acontecendo na Alemanha no último ano, com a invasão de "refugiados" islâmicos no país que não respeitam a cultura germânica e que cometem as maiores atrocidades contra a população. Mas seus cidadãos estão amordaçados pelo politicamente correto do governo e da mídia global, obrigados a se subjugarem por medo de serem taxados de nazistas. Por incrível que pareça, há uma alusão sobre esse tipo de situação no livro.
Com clareza e sem papas na língua, utilizando de uma simplicidade genial, mas sábia, Chesterton traça uma panorama das mudanças de sua época como um alerta para consequências catastróficas que muitos ditos eruditos (Hudge e Gudge) não queriam enxergar. Ou pior ainda, sabiam disso mas movidos por algum desejo sádico, taparam o sol com a peneira - invadindo a vida familiar e jogam-na na praça pública.
Hudge e Gudge no século XX até os dias de hoje usam meia dúzia de mulheres para convencer outras de cabeça ruim que educar os seus filhos e manter uma casa em ordem são trabalhos indignos. Exploram o trabalho do homem comum até a última gota de sangue, até o ponto de não ser o suficiente para manter o lar sozinho, e a mulher se vê obrigada a abandonar a educação doméstica dos filhos para sustentar a família - não tendo nada de glamouroso ou "empoderado" nisso. Daí as crianças se veêm deficientes de educação familiar, jogadas nas mãos das escolas que até podem ensinar uma operação matemática, mas nunca vão ensinar a amar como um mãe ensinaria. Tudo em nome do progresso; em resumo de tudo que anda errado no século XXI, mas que se deu início no tempo de Chesterton.
Mais do que um ensaio político, O Que Há de Errado com o Mundo crava com todas as letras a submissão não saudável do homem moderno - o homem simples do dia a dia - a instituições e pequenas minorias que por má fé não lhe permite ser livre. Aqui a liberdade não é aquela anárquica dos socialistas de hoje que não respeitam tradições, normas e cultos do povo. Não, a liberdade que Chesterton diz é a ciência, Estado, escolas, tudo em favor do homem, não contra ele, para que administre a Criação. Porém com limites dignos de sua humanidade para entender que não é Deus.
Nas próprias palavras dele:
"[...] Aquela garota de cabeleira ruiva não será aparada, mutilada ou alterada. Não! Todos os reinos da Terra serão aparados e mutilados para ela se adaptarem. Os ventos do mundo serão temperados para esse cordeiro não tosquiado. Todas as coroas que não couberem em sua cabeça serão quebradas. Todo o traje e toda construção que não estiver em harmonia com sua glória serão jogados fora. Pode ser que a mãe a proíba de prender o cabelo, pois a mãe é uma autoridade natural. Mas o Imperador do Planeta não ousará impor-lhe tal proibição. [...]"
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