Casagrande e Seus Demônios

Casagrande e Seus Demônios Walter Casagrande...




Resenhas - Casagrande e Seus Demônios


56 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4


Daniel 30/12/2013

Casagrande Escreveu com Demônios
Casagrande e Seus Demônios é uma biografia do ex-jogador de futebol atual comentarista de futebol da Rede Globo, Walter Casagrande Junior. Esse livro foi feito em conjunto com o jornalista Gilvan Ribeiro e publicado pela Globo Livro.
O livro é uma biografia por isso não vou falar muito sobre a história porque posso acabar escrevendo partes importantes do livro, e isso não é legal.
Minha opinião sobre a obra é que ela parece um resumo não uma biografia da vida do Casagrande, os autores só escreverão as partes mais marcante da vida dele, um exemplo, as drogas, o livro fala muito pouco sobre a infância dele, fala praticamente nada sobre os clubes que ele jogou, claro só falou de um clube, o Corinthians, não fala sobre as experiências que ele teve no Flamengo e no São Paulo. Como eu já escrevi no começo desse parágrafo, o livro só conta as experiências que ele teve com drogas e como jogador do Corinthians.
Na minha humilde opinião, uma biografia deve fala sobre toda a sua vida, do nascimento até a morte, (mas no caso dele é ate o dia que ele terminou de escreveu o livro) eu não vi isso no livro, o que eu vi foi um resumo da vida dele.
Faltou muita coisa nesse livro, e por isso dou 3 estrelas para ele. (OBS: só to dando 3 estrelas porque teve uma parte do livro que eu ri, se não fosse por isso levaria menos.)
Amadeu.Paes 10/01/2014minha estante
Eu tive a mesma sensação. Não foi mencionado o porque dele ter ido jogar num time pequeno da Bahia e nem como ele e pq virou comentarista da Globo.

Pareceu-me uma obra mais de desagravo, devido ao problema com as drogas, do que propriamente uma biografia.




Tatiana 06/04/2013

Juca kfouri diz: "É tocante"
http://blogdojuca.uol.com.br/2013/04/47100/

Acabo de ler o livro de Casagrandre com o jornalista Gilvan Ribeiro, que será lançado na próxima terça-feira, às 18h30, na livraria Cultura, do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, em São Paulo, pela Editora Globo, 245 páginas, R$ 35.

Gilvan tabelou com Casão como se fosse o Doutor Sócrates.

O livro não poderia ser mais Casagrande.

Corajoso, tocante, verdadeiro, revelador e delicado.

E bem escrito.

Corajoso porque não é comum que um ídolo se exponha como Casão está exposto, mas sem auto-comiseração ou sensacionalismo.

Tocante porque é impossível não se comover com ele.

Delicado porque com o perfume do afeto e da carência afetiva.

Revelador porque com histórias que até quem o conhece bem se surpreende.

Eu, pelo menos no episódio de sua detenção em plena Democracia Corinthiana, agora sei que fui compreensivelmente, diga-se, mas redondamente, registre-se, enganado.

O que perdoo dadas todas as circunstâncias.

Leia.

Será uma lição de vida como a vida é.

Sem disfarces.
comentários(0)comente



Carolina 21/04/2013

Adorei essa biografia, clara e marcante!
comentários(0)comente



Wendell 01/05/2013

Um relato sincero de quem enfrentou seus piores demônios. Assim, Casagrande conta toda sua história, seu vício e seus medos. Uma biografia sincera, onde sem medo algum o atleta conta como enfrenta o vício e como viveu a vida intensamente. Uma história que merece ser lida por todos. Ótima biografia. Recomendo.
comentários(0)comente



claudioschamis 08/05/2013

O livro "Casagrande e seus demônios" é corajoso, é triste e ao mesmo tempo é um exemplo de superação.

História como a de Casagrande que eu vi jogar no meu Flamengo, no Corinthians não é única, acontece em inúmeras outras famílias, de várias classes sociais, estados diferentes, em épocas diferentes, mas são anônimas de todos nós. Não viram livros, não chamam a atenção, não alertam. Passam como uma placa numa estrada.

Agora quando uma celebridade vive um grave problema e tem a coragem de expor seu drama e isso e vira um livro, não podemos simplesmente virar a página e seguir. Temos quase que uma obrigação de parar, repensar e de certa forma agradecer. Agradecer sim o exemplo de determinação que pode ajudar muito mais do que pensamos os anônimos que passam pelo mesmo drama e problema. Que não é fácil.

O drama relatado com o coração e coragem de Casagrande não deve misturar os canais. Antes de mais nada Casagrande é uma pessoa que por acaso ficou famosa. Ponto. Se você gosta ou não dele como jogador, como comentarista da Rede Globo não deveria ser fator de escolha para ler ou não o livro. Uma coisa é uma coisa outra coisa é outra coisa.

Eu acho que livros assim como os de Casagrande podem servir de alerta. Tipo isso pode acontecer com qualquer pessoa. Até com o Casagrande. E veja como ele está agora. O valor desse livro passa longe de ser apenas mais um livro sobre a história de vida de uma celebridade. Existem histórias e histórias. Celebridades e celebridades.

O livro choca, emociona e expõe um grave problema que muitos preferem fechar os olhos ou virar a cara e fingir que não é com ele. Ledo engano.

Casagrande abre seu coração, sua alma sua vida.

Parabéns Casagrande e Gilvan Ribeiro que juntos fizeram da história de Casagrande um grande ensinamento.
comentários(0)comente



spoiler visualizar
comentários(0)comente



Lene 12/09/2013

Sua vida dá um livro, dá um filme , dá um rock...
Adorei a biografia do Casão. Objetiva, divertida, comovente e muitas vezes triste.
Ele não é exemplo quando se fala do seu envolvimento com as drogas, mas se torna um quando supera o vício e dá a volta por cima.
Recomendo!!!
comentários(0)comente



spoiler visualizar
comentários(0)comente



Daycir 09/10/2013

Devagar!
Apesar da lição de vida que o livro quer passar, achei Casão muito mimado.
Odeio gente mimada, que acha sempre que tem problemas maiores que os do planeta.
Simplesmente me parece que foi um garoto como a maioria, contraditório, divergente, brigão e cheio de marra, envolvendo-se politicamente (de maneira até interessante....)em tudo e querendo até mandar no timão.
Claro que a consequência seria essa: drogas, má companhia, mulherada e cachaça.
Eu esqueci que odeio futebol e de repente me ví envolvida com jogadores, técnicos e todas as chatices afins relacionadas ao timão (diga-se lá que sou bambi...heheh)....ms valeu a experiência.
Acima de tudo, respeito o jogador pela determinação de ter saído das drogas e começado uma nova vida.
comentários(0)comente



Angelo Miranda 11/01/2014

Casagrande revelado
Se embrenhar nas páginas de Casagrande e Seus Demônios, escrito pelo jornalista Gilvan Ribeiro e publicado pela Globo Livros, é conhecer a trajetória de Walter Casagrande Júnior, jogador que fez história pelo Corinthians.

Casagrande teve o seu problema com o uso de drogas exposto pela mídia poucos anos atrás. O caso veio se tornou público recentemente pela veiculação promovida pela imprensa, mas o uso que o jogador fazia da cocaína era bem mais antigo.

Vários detalhes sobre a iniciação de Casagrande no mundo das drogas até ele se tornar um viciado, bem como a sua trajetória pessoal e profissional, são contados no livro com uma boa riqueza de detalhes.

Destaco no livro o capítulo sobre a overdose que o ex-jogador teve dentro da sua casa e sobre a atuação dele contra a ditadura militar brasileira, ocasião em que esteve à frente, junto com o ex-jogador Sócrates, na condução da "Democracia Corintiana", uma provocação contra aquele regime de exceção.

A biografia de Casagrande foi narrada por ele mesmo para o jornalista Gilvan Ribeiro, que manteve a forma como o ex-jogador se expressa, inclusive, com o uso de vários palavrões, mas esse detalhe em nada atrapalha ou rebaixa a qualidade do livro, pelo contrário, imprime fluidez a linguagem e na maior parte do tempo parece que o leitor está conversando com o próprio Casagrande pessoalmente.

Em tempos de censura às biografias, em que os biografados parecem temer que contem aspectos obscuros das suas vidas pelos biógrafos, Casagrande parece não ter se intimidado em contar várias passagens da sua vida, algumas felizes e as outras muito tristes.

A grande mensagem que o livro deixa é o quanto que o uso de entorpecentes destrói a vida de um ser humano. O prazer momentâneo trazido pela droga também deixa para a vida de quem a usa, a dor, a perda da dignidade, a dilaceração dos relacionamentos entre outros, quando não a morte.

Ainda bem que Casagrande despertou a tempo e não optou em seguir um caminho de destruição e de dor. Reconheceu que estava doente e pediu ajuda. O mais bacana foi que a TV Globo não o demitiu guardando o seu cargo para que o ocupasse quando estivesse melhor. Isso fez muita diferença na vida do ex-jogador, que revelou que encontrou no trabalho na TV Globo, uma forma de se sentir útil e de ser valorizado, afastando o desejo de voltar a utilizar droga.

Apesar da aparente normalidade, o ex-jogador vive hoje numa situação em que precisa controlar a ansiedade e lidar com as frustrações e o nervosismo comuns a vida de todo o mortal. Para quem foi um ex-usuário, qualquer motivo pode ser a desculpa para voltar a usar drogas, mas Casagrande tem essa consciência e continua se submetendo a um tratamento com duas psicólogas, além de trabalhar muito, sorte nossa que podemos acompanhar os seus bons comentários pela TV.
comentários(0)comente



Gustavo 06/04/2014

KNOCKIN' ON HEAVEN'S DOOR?
Como toda e qualquer história de personalidades que mergulham nas drogas, essa não seria mais uma eletrizante passagem de um dos maiores ídolos do Corinthians (não! Eu sou são-paulino).

O mais interessante nas histórias de consumo de drogas, é que a saída dele sempre guarda algo em particular do usuário, a do "Casão" é bem boring, mas é surpreendente.
comentários(0)comente



Gabi 10/06/2014

Sincero
Essa é a primeira palavra que chega a minha mente quando penso no livro: sincero, voraz, autêntico, comovente e engraçado. Ler sobre um cara autêntico, interessante, roqueiro, corintiano, sofrido, me identifiquei muito com ele. E gostei, não senti nada mascarado na leitura.

Escrito em terceira pessoa, com passagens de frases do próprio Casagrande e de outras pessoas, a leitura é rápida, ágil e fácil, muito gostosa, me senti tentada a ler a introdução e de lá me joguei no resto do livro até terminá-lo, no mesmo dia, em poucas horas. Interessante observar que um capítulo emenda no outro, o assunto de um entra no início do outro capítulo, achei que isso deixa que a leitura flua de modo inteligente, nos chamando a atenção. Nada é ocultado das páginas para os leitores; eu me emocionei com os relatos das drogas, com as homenagens que o Casa recebeu, com sua história nos gramados e com sua família, principalmente com seus filhos e os amigos, do futebol ou não.

Sem mais delongas, um livro sincero, de coração. :)
comentários(0)comente



vortexcultural 18/09/2014

Casagrande e Seus Demônios Casagrande e Gilvan Ribeiro
Por Filipe Pereira

Para quem está acostumado a ver Walter Casagrande Júnior comentando as partidas da seleção ao lado de Galvão Bueno e Júnior (antes, Falcão), talvez não conheça a história por trás do gigante em estatura e, por vezes, lento cronista, que costuma dar pausas imensas entre uma máxima e outra proferida. Desde a época como jogador da histórica e áurea fase da Democracia Corinthiana, ele já demonstrava um algo a mais, seja por sua óbvia qualidade como atacante (em um time que tinha enorme qualidade antes mesmo de sua estreia), seja pela parceria e amizade com o Doutor Sócrates tanto nas quatro linhas quanto fora delas; ou por sua destacada personalidade forte e comportamento completamente diferente do estereótipo do jogador de futebol, normalmente associado à pouca inteligência e afeito ao samba. Casão era diferente: roqueiro e muitíssimo instruído, considerado esquerdista e representante de uma das poucas formas democráticas de governo em plena ditadura militar. Uma boa definição para ele foi feita por Washington Olivetto, um dos publicitários mais importantes do país e vice-presidente do departamento de marketing da Democracia Corinthiana do Parque São Jorge: O Casagrande foi o jogador e é o comentarista mais rocknroll da história do futebol brasileiro.

Logo na orelha do livro Gilvan Ribeiro começa citando o que haverá nas páginas seguintes, nesta ordem: Drogas, futebol, política, rockn roll. A promessa é de que as palavras serão as mais sinceras possíveis, num tom de total confissão não dos pecados em si ou de arrependimentos por parte de Casão, mas dos tropeços e demônios que ele busca expulsar de sua própria vida até os dias atuais. O tom do início do escrito é tão docemente poético que dá para notar a simbiose entre Walter e Gilvan, ambos jornalistas, um ingressando por seu passado esportivo e outro por formação. A união dos dois traz à luz a primeira publicação de cunho literário de ambos. Curioso é que Casagrande, mesmo após o lançamento do livro, ainda não o havia lido por completo, ainda pesando se seria benéfico a ele revisitar tudo outra vez.

Há um contraste entre os relatos da vida do biografado e a ideia que seus amigos fazem de si e de sua luta contra o vício. Para Antonio Prata e Marcelo Rubens Paiva, existe uma enorme poesia na luta entre os antagonistas e o vencedor, contornos de uma narrativa épica. Casagrande humilha o adversário e até o rebaixa de divisão (utilizando um termo ligado ao esporte). No entanto, sem qualquer egocentrismo e sem subestimar a sua capacidade de autodestruição, Walter assume sua ponderabilidade diante do vício, e afirma que não se lembra de como era antes de provar a droga. Ela não o apequena, ao contrário, é homem o suficiente e tem tal coragem e ombridade para assumir que sempre perderá para o entorpecente. Sua luta diária é a de empatar com ele, não de ganhar. O ex-jogador não é um ex-adicto: viciado é a sua condição; a luta é para não lançar mão de seu vício. Ribeiro usa um paralelo com Salomão, que teve um embate com 71 demônios e que destes o único que sobreviveu era exatamente o mais forte, o qual retornaria. Casagrande também estudaria o caso e veria materializado o diabo em seu apartamento.

A escolha por iniciar a narrativa pelas tragédias é corajosa e pontual, mostrando uma das muitas crises de Casão, convencido de que um ser dos infernos invadirá a sua casa, até hoje sem a certeza absoluta de que aquilo foi causado somente pelo torpor da droga. A preparação da heroína que ele injetava é contada nos mínimos detalhes, inclusive expondo a espera pela solidão, quando sua mulher (atualmente ex-esposa) e filhos saíam de casa, apenas para fazer uso da substância. A excitação maximizava os efeitos e o uso era tão milimetricamente pensado que se assemelhava a um ritual dos mais metódicos. Os parágrafos são construídos entre fatos e falas de todos que cercam Casa, como na parte em que seu filho Leonardo diz ter notado algo estranho com o pai, escondido atrás da porta do banheiro e do fingimento do mesmo o episódio se caracterizou como uma das overdoses mais recentes que sofreu, em 2006, um ano antes do incidente com o demônio e do acidente automobilístico que causou. A injeção foi de 1 ml de speed, uma dose para dois, devendo ser aplicada em dois momentos distintos, mas que foi ingerida em uma única vez. Tal desventura foi o fator principal para o seu divórcio com Mônica: ela sentia-se traída e Casagrande tinha dificuldade em aceitar o litígio. Segundo o autor, o ex-jogador se encontrava em queda livre e tinha uma atração irresistível pelo abismo.

Nem mesmo se apegar ao trabalho fez Casão ter força o suficiente para parar de se autoflagelar. A cobertura que realizou na Copa do Mundo da Alemanha, em 2010, foi em um período entressafra do vício, quando estava limpo tal comissão só aconteceu graças a Galvão Bueno, que insistiu muito com a emissora para que o comentarista trabalhasse, a despeito de todo o receio do canal, deveras justificado, obviamente.

Uma vez, na clínica de reabilitação em Itapecerica da Serra, sofreu um forte choque com a rigidez do tratamento e do isolamento: não sabia para que lado ficava São Paulo. Lá ele era chamado somente de Walter. O intuito era livrá-lo da aura de fama que também colaborava para o descontrole de seu vício. Isso despertou nele a luz de alerta do quanto estava doente, fazendo-o passar a ser mais Walter e menos Casagrande. A ideia de morrer jovem sempre foi para si muito deliciosa, posta pela morte precoce de seus ídolos Jim Morrison e Jimi Hendrix, uma filosofia juvenil preconizada por Mick Jagger, que curiosamente envelheceu nos palcos mantendo sua energia. O esboçar da mudança aconteceu com um presente de amigo oculto organizado entre os pacientes da clínica: a autobiografia de Eric Clapton, seu ídolo, pessoa pública e, acima de tudo, um homem que enfrentou o vício nas drogas e que contou a sua própria história, assim como Casão faria junto a Gilvan.

A reinserção do comentarista na grade da Globo foi, aos poucos, milimetricamente pensada para chocar o mínimo possível de espectadores. A retomada começou em pequenas participações em programas de TV fechada como o Arena Sportv, e depois em uma longa entrevista a Fausto Silva e seu típico arquivo confidencial. No dominical ele abordou a questão da adrenalina perdida após a aposentadoria dos gramados e do grave erro de querer preencher um vazio com algo diferente, ao invés de tentar aceitar que certas coisas são finitas. Walter ainda viria a dizer que um dos efeitos da cocaína é o congelamento emocional decorrente do uso, que o torna um sujeito cínico, egoísta e insensível aos sentimentos alheios.

Para quebrar um pouco com a gravidade das situações, o biógrafo começa a falar da adolescência e juventude de Casão, desde a amizade com Wagner Magrão, com quem começou a usar maconha, passando pelo ativismo político, inclusive contando seu envolvimento numa arrecadação de fundos para a fundação do Partido dos Trabalhadores. A biografia não contempla todos os momentos da vida do ex-jogador, mas trabalha obviamente as partes mais lisérgicas e repletas de adrenalina de sua existência. Um ótimo escape dos problemas do homem Casagrande, elencados de acordo com seus próprios interesses.

O período histórico da Democracia Corinthiana foi um marco para o futebol e para a época, visto que dava voz aos atletas, além de ser um grito anti-repressão. O movimento sofreu tentativas de desmoralização ao ser associado a alguns episódios do clube, como o extensivo uso de cocaína por parte de Casagrande e outros escândalos que envolviam outros jogadores do Corinthians. Mais do que o poder de voto e de influência, para Walter o auge era dividir os vestiários e os gramados com os seus ídolos, além de vestir a camisa do seu time do coração, realizando finalmente um sonho de menino. Tudo na vida de Casão orbitava em volta de Democracia. A situação era de tamanha compreensão que ele ganhou a salvaguarda de poder beber sua cervejinha em um bar dentro do Parque São Jorge, regalia estranha até mesmo para os dias atuais. Tal conduta o faria se encontrar com Mônica, sua futura esposa e atleta de vôlei do clube, levando-o a pichar o muro das dependências do Parque pedindo-a em casamento.

A outra parceria matrimonial de Walter Casagrande foi com o Doutor Sócrates. A história pregressa do elegante meio-campista era belíssima, a começar pela decisão de só sair de Ribeirão Preto após sua formação no ensino superior, mesmo com propostas de cunho econômico elevadíssimo. Isso foi do caralho! Qual jogador recusaria uma oportunidade dessas com o propósito de terminar os estudos? Hoje, por qualquer euro, o cara larga tudo e vai jogar na Ucrânia. A admiração sempre foi grande. Em 1978, quando Sócrates passou a jogar no Timão, Casagrande estava nos juniores, e em 1981 os dois se encontraram, com Sócrates servindo a seleção em um amistoso contra a Caldense, onde o centro-avante estava emprestado. O mais experiente foi perguntar ao mais jovem como ia a sua carreira, pois lembrava dele nos juniores, e os olhos de Walter brilhavam ao saber da importância que ele lhe deu. Mesmo após o Magrão sair do Corinthians, dali pra frente eles se tornaram unha e carne, inclusive o Doutor foi convidado para ser padrinho do casamento de Casão. A relação esfriou após uma declaração de Sócrates de que Walter teria se vendido e ignorado seus ideais por começar a trabalhar na Rede Globo, como se ao aceitar o emprego ele abrisse mão de seu DNA transgressor. O divórcio aconteceu silenciosamente, nunca houve uma discussão pública entre os dois, somente um afastamento que os proibia até de se reconciliarem. Isso ocorreu até que Gilvan Ribeiro decidiu tornar público o desentendimento, fazendo com que o povo passasse a exigir a reconciliação, cuja oportunidade existiu em 2006, mas que não aconteceu graças a uma das muitas falhas de Sócrates. Pouco antes do Doutor falecer, entubado na cama do hospital, os dois deram as mãos e Casagrande desistiu do orgulho ferido, perdoando seu melhor amigo. Eles ainda gravariam uma reunião no ar no Arena Sportv, antes da derradeira internação. Walter Casagrande escreveu um belo texto sobre o amigo Magrão, declarando seu amor a ele e concluindo que não existia Casagrande sem Sócrates. A íntima relação tinha em comum a dependência no caso de Sócrates, era ao álcool. No fim do texto ele desabafa: Tínhamos uma estreita aliança Vou jogar meu anel fora. Fazer o quê com um anel pela metade?.

Casagrande já tinha um engajamento político antes de ser amigo de Sócrates, desde muito cedo. Com o tempo, passaria a ser voz ativa contra o militarismo dos anos 70 e começo dos 80, divergindo inclusive das ideologias de alguns outros jogadores, como a do goleiro Emerson Leão. Estas desavenças se enfraqueceram com o tempo, e apesar de ter sido acusado de amolecer, Casão acredita que conviver com as diferenças é a base da democracia. O ex-atacante foi totalmente contra a contratação do goleiro pelo Corinthians, quando perguntado sobre o assunto na época em que os membros do plantel davam opiniões sobre as admissões de outros jogadores. Casagrande seria afastado por 40 dias por contestar publicamente a decisão da maioria; seu receio era que a democracia ruísse graças ao forte temperamento de Emerson. A rivalidade aumentaria, passando por alfinetadas mútuas e brigas no elenco, cujo fim do estado democrático supostamente teria findado graças ao arqueiro. Mas seriam águas passadas, pois ambos atualmente se admiram muito graças às profissões que ambos seguiram após aposentarem as chuteiras.

A saída de Walter do Corinthians foi traumática. Tudo começou com uma desavença com o técnico Jorge Vieira e depois com a diluição do que ele entendia ser a essência da Democracia. Com a nova diretoria, acostumada a velhos hábitos da cartolagem brasileira, ele também não teve uma boa relação, sofrendo uma crise com a torcida após desperdiçar um pênalti contra o Atlético-MG, foi retirado aos cinco minutos do segundo tempo somente para sair vaiado pela torcida. Através do empresário Juan Figer, ele foi transferido para o Porto, numa época em que o aporte de brasileiros no futebol europeu não era tão comum. Depois ele ainda teria uma passagem vitoriosa pelo futebol italiano, sendo artilheiro e ídolo no Ascoli e no Torino.

A sinceridade de Casagrande é uma característica apreciada e elogiada por todos que o cercam, inclusive por admiradores ilustres, como Washington Olivetto e Galvão Bueno. Até em suas rusgas o ex-jogador é absolutamente preso à verdade, mesmo quando isto não é totalmente conveniente. Isso acontecia nos seus comentários in loco durante os jogos, porém essa característica se mostra ainda mais intensa ao comentar seu temível drama do vício. O que antes poderia ser encarado como algo possivelmente ruim, tornou-se uma indiscutível demonstração sentimental de autenticidade, quando, em lágrimas, comemorava a vitória do Corinthians sobre o Chelsea, em 2012, no Mundial Interclubes. A louca gangorra que era a vida de Casagrande é completamente diferente de sua rotina atual, morando sozinho e saindo pouco de casa, apenas para não cair na tentação de re-experimentar as sensações das bad trips proporcionadas pelo uso recreativo da droga. Dedica-se somente ao trabalho e ao hobby cinéfilo, explorando Lars Von Trier e Quentin Tarantino. As últimas páginas são voltadas ao capítulo com a alcunha, dada por Casagrande, de Ele Mesmo, onde o ex-artilheiro esmiúça as mais recentes experiências e traça prospectos sobre como será seu futuro. Tal posfácio acrescenta ainda mais honestidade ao seu relato, que no geral se preconiza e se caracteriza pela quase completa ausência de arrependimento, mesmo em meio a muitos erros. Além disso, a obra apresenta suprema honestidade nas palavras, numa das poucas biografias autorizadas sem uma linha sequer de caráter chapa branca ou apologia a uma vida sem desvios morais. Casagrande e Seus Demônios é um enorme esforço de pesquisa por Gilvan Ribeiro, e de desabafo por Walter Casagrande Júnior.


site: http://www.vortexcultural.com.br/literatura/resenha-casagrande-e-seus-demonios-casagrande-e-gilvan-pinheiro/
comentários(0)comente



Paulo 22/12/2014

Doido, muito doido...
Aborda a história de um personagem marcante na história do nosso futebol, um ser humano com personalidade forte e decidida. Sabia que ele era meio doido mas não sabia a profundidade da loucura a qual ele se entregou no mundo das drogas. Além das loucuras narradas existem passagens bastante engraçadas. Vale a leitura.
comentários(0)comente



56 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR