Ana 18/01/2015Trilogia Os Videntes, Libba Bray - Livro #1 I Blog Tag LiteráriaOs Videntes é um thriller sobrenatural que se passa no ano de 1926. no primeiro volume de um trilogia homônima, acompanhamos o desenrolar de uma sequência de assassinatos com circunstâncias peculiares. quando Evie O’Neill é enviada à cidade de Nova Iorque, mais especificamente ao distrito de Manhattan, para passar um tempo de ensino com seu tio, Will Fitzgerald, o que ela menos esperava é que a cidade grande, nos majestosos anos 20, seria tão perigosa. um assassino parece seguir um roteiro religioso ao oferecer oferendas humanas e Evie, como como ajudante de seu tio e do detetive da cidade, usa seu estranho dom para descobrir pistas que os levem ao encontro do Maníaco de Manhattan.
Libba Bray constrói um Os Videntes um cenário de mistério sobrenatural numa época de festas, bebidas, lei seca e melindrosas loucas para viverem toda a suas cotas de extravagância em uma única noite. a autora conseguiu me deixar nostálgica com os anos 20 nos Estados Unidos, mesmo com a minha limitada leitura sobre a época (que eu adoro, mesmo assim).
de pouquissímo romance e bebedeiras se faz a história do livro, e sim de muito suspense e terror. a narrativa em terceira pessoa intercala de personagens a todo momento e somos levados a diversos ambientes de Manhattan, em algumas épocas do passado e inúmeras situações. sim, a história faz justiça às 600 páginas. Libba Bray costura personagens e épocas e consegue montar uma perseguição sobrenatural que foge, e muito, do clichê e abraça poderes sobrenaturais, fanatismo religioso e bruxaria a fatos históricos e, estranhamente, muito bom humor. é uma narrativa que flui absurdamente bem e pode facilmente deixar o leitor sem fôlego – e com insônia, segundo experiência própria.
"- Will pausou por um segundo – frase estranha, essa. Confusa. Pode ser de uma religião inventada pelo assassino.
- Como alguém inventa uma religião? – Evie perguntou.
Will olhou por cima de seus óculos.
- Você diz, “Deus me disse o seguinte”, e espera as pessoas acreditarem."
o principal cenário do livro é a perseguição ao assassino que tem deixado Manhattan em alerta. levado a agir pelo por um enigma que vai sendo descoberto ao longo do livro, o assassino escolhe suas vítimas por diferentes características e tem como objetivo final algo que afetará a vida não só da população de Nova Iorque, mas de toda a terra. é claro que como em toda boa história de suspensa ninguém sabe disso, a não ser aqueles poucos seres que resolvem arriscar as próprias vidas para salvar um mundo todo de ignorância e superstição (com) fundamento. a pior coisa que pode acontecer em uma investigação é as autoridades não conseguirem dar o devido crédito ao perigo que se está acontecendo – e é exatamente o que ocorre em Os Videntes.
o grupo que se dedica a reunir os fatos e possíveis caminhos que levam o assassino a cometer atos hediondos é constituído da jovem Evie, seu tio Will, dono de um museu, Jericó, o misterioso e aparentemente bobalhão assistente de museu e Sam, um batedor de carteiras que por uma série de fatores acaba por entrar para o outro lado da lei.
"- Você não pode pegar coisas que não pertencem a você, Sam – Evie disse.
- Por que não? Se os capitães da indústria fazem isso, são heróis. Se pessoas comuns como eu fazem isso, são criminosas.
- Agora você falou como um bolchevique. Diga, você não é um desses anarquistas, é?
- Bombas e revolução? Não é o meu estilo. Tenho minha própria missão – Sam disse, pronunciando a última parte com certa dureza."
se Libba Bray soube debruçar-se sobre os livros (e o teclado do computador) para reunir fatos históricos no enredo do seu livro, ela também soube manusear sua criatividade para construir personagens tão interessantes quanto a premissa da história. Evie é uma melindrosa de dezessete anos que se vê em problemas na sua cidade natal, e como castigo é enviada por seus pais aos cuidados do seu tio Will, que mora em Nova Iorque. obviamente isso não é visto como um castigo por parte da jovem e ela chega na nova cidade cheia de energia para curtir bebidas, festas e todo o glamour que os anos 20 proporcionaram. ao exercer sua melhor característica, a intensa procura por encrencas, é levada a acompanhar o tio em um caso de assassinato. com um dom que se mostra mais importante a cada capítulo, e dona da maior porcentagem de humor da história, ela pode ser uma importante peça na descoberta do assassino. inicialmente contra qualquer intervenção de Evie na sua vida e muito menos em seu trabalho, Will tenta afastar a sobrinha de si. conforme a insistente jovem demonstra o seu valor como familiar e colega de trabalho, Will vê sua confiança aumentar e passa a contar com a ajuda de Evie no caso de investigação. junto a eles, como outros dois essenciais personagens da trama, o misterioso Jericó e o esperto Sam se revelam únicos em sua história – e prometem ser muito importantes no próximo volume da trilogia. assim espero, pelo menos.
"- Eu vou descobrir os seus segredos – espere só para ver!
Poucas coisas eram piores do que ser comum, na opinião de Evie. Ser comum era para imbecis. Evie queria ser especial, uma estrela brilhante. Ela não se importava de ter a mais terrível das dores de cabeça da história dos batedores de crânios. Cerrando bem os olhos, pressionou o anel contra as mãos. O objeto tornou-se muito mais quente, revelando a ela seus segredos. eu sorriso se espalhou. Ela abri os olhos.
- Harry, seu danadinho…"
ainda como uma divertida característica de Evie O’Neil e do trabalho de pesquisa da autora, destaco a criatividade de Libba Bray ao colocar a personagem como uma apreciadora da música. Evie cantarola famosas músicas dos anos 20 durante vários capítulos – o que despertou a minha curiosidade e me fez até iniciar uma playlist com as músicas que aparecem na história. pena que eu desisti de todo esse trabalho e não procurei todas as canções – do contrário até compartilharia elas com vocês. adoro autores que abusam de recursos narrativos!
no decorrer do livro descobrimos que o distrito de Manhattan reúne diversas pessoas com poderes sobrenaturais. fica claro no livro que nenhuma delas necessariamente executa os poderes desde o seu nascimento, gosta ou quer mostrá-los para o mundo. na margem entre praga e milagre, cada personagem com um poder parece carregar uma história marcante – e, talvez, o mais frustrante do primeiro volume da trilogia seja a falta de tempo para estudar essas histórias mais a fundo. os poderes que cercam esses personagens são parecidos porque a maioria contém visões do passado e/ou do futuro, mas todos eles agem de maneira diferente. é por isso que cada um deles acaba por ser importante a sua maneira para a história.
a conexão entre os personagens, seus poderes e os acontecimentos ao longo de Os Videntes é clara, mas não muito desenvolvida no primeiro volume da trilogia – que é mais voltada para a caça ao assassino. a autora instiga a curiosidade sobre o restante dos mistérios da história, mas não responde todas as questões. espero – muito – que os acontecimentos finais signifiquem uma intenção de explicação nos próximos livros para os dons e o motivo de todas as pessoas com dons se encontrarem na mesma cidade. mesmo com essa expectativa, não tenho nada a reclamar da trama. Libba Bray fez um trabalho fantástico com a história, juntou elementos importantes de diferentes gêneros, explorou-os com grande sabedoria e deixou muitas pontas soltas para o resto da trilogia. estou ansiosa para conferir a continuação da história. sinceramente, não sei o que esperar. espere, na verdade sei, sim. editora iD, trate de lançar a continuação de Os Videntes porque curiosidade mata. :(
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