Ivy (De repente, no último livro) 22/09/2020
Resenha do blog "De repente no último livro..."
The Diviners é um livro que embora seja um calhamaço, me conquistou desde as primeiras páginas, com uma ambientação requintada e uma trama que vai se tornando mais sombria com cada capítulo. Infelizmente, esse tetralogia incrível só teve seu primeiro volume traduzido para o português (pela Editora ID) e após o fechamento da editora, nenhuma outra editora brasileira manifestou interesse em publicar os seguintes livros. O que é uma grande pena, pois essa série merecia uma segunda chance!
A trama está ambientada no ano de 1926, na cidade de Nova York e nem precisa dizer que isso foi um dos fatores que mais me chamou a atenção, além da parte fantástica. Libba Bray trouxe uma veracidade enorme à trama trazendo fatos verdadeiros daquela época, como a Lei Seca e a presença dos gângsters, a morte do ídolo Rodolfo Valentino e os incansáveis bailes regados a muito jazz, a popularidade do espiristimo, a chegada do cinema falado e uma sociedade em constante ebulição que se moderniza e se questiona. Eu amei como a autora vai inserindo cada detalhe na trama, transportando o leitor para aqueles tempos de mudanças e inovações constantes, nos fazendo sentir aquela sociedade até o mais pequeno detalhe. Dá para notar o trabalho exaustivo de pesquisa histórica que Bray fez, e ele se manifesta na descrição dos bairros, nos costumes e nas crenças apresentadas.
A protagonista é a Evie O´Neill, uma garota de Ohio que é moderna demais para o lugar onde vive. E além de seu temperamento forte, Evie tem um dom estranho. Basta ela tocar qualquer objeto para ela literalmente 'ver' cada segredo obscuro da pessoa a quem o objeto pertence. Evie é literalmente uma vidente, e esse dom estranho, aliado ao desejo da garota de ser o centro das atenções, a colocou em problemas lá em Ohio e por isso mesmo seus pais a enviam para a efervescente Nova York, para ficar aos cuidados de seu tio, William, que é diretor do Museu de Ciências Ocultas da cidade. Will tem um assistente, Jericho, um jovem com um passado bem misterioso.
Quando um assassino coloca Nova York em pânico, Will é chamado para colaborar com a polícia. Ninguém tem pistas do assassino a não ser as estranhas passagens semelhantes ao livro de Apoclipse da Bíblia deixadas em cada vítima. O serial killer costuma levar também uma parte do corpo de cada vítima.
Conforme Will vai ajudando na investigação, o grupo é levado aos caminhos de uma seita fanática e de um assassino completamente fora do comum, e o sobrenatural e o impossível se tornam evidentes. Para destruir o cruel Assassino do Pentagrama, Will, Evie e Jericho vão ter que usar não apenas a perspicácia, mas o poder de Evie e, quando outros como ela começam a aparecer em Nova York, fica claro que algo novo está chegando, e que algo perigoso irá emergir.
Poderão os 'videntes' se reunirem a tempo antes que o mal vença? E quando so caminhos começarem a se cruzar, será que cada um deles estará disposto a revelar seu maior segredo e poder?
Eu já falei sobre a ambientação maravilhosa desse livro e como Libba Bray conseguiu me transportar para aquela Nova York incrível e cheia de misticismo da década de 20. Eu acho que o ponto mais forte desse livro é essa ambientação, cheia de detalhes e fatos reais que se aliam de maneira bem sutil e coerente com uma parte fantástica cheia de originalidade e tensão.
Esse livro foi muito mais do que eu esperava. O começo é divertido e dinâmico, porque a Evie é uma protagonista que ganha fácil a simpatia do leitor por conta de seu enorme carisma. Aliado à isso temos o fato de que não apenas Evie será foco do livro, mas a narração em terceira pessoa vai trazer vários outros personagens dotados de 'dons', e conforme a trama avança a gente vai conhecendo mais cada um deles. Achei maravilhoso como pouco a pouco cada personagem vai ganhando espaço e ao final todos se conectam, seus caminhos se entrelaçam de uma maneira bem criativa.
O livro é um calhamaço porque a trama é ricamente escrita, e até cada personagem ser apresentado leva um tempo. Além dessa introdução de vários personagens principais de potencial e a construção de suas estórias, temos também o Assassino do Pentagrama que garante os momentos de terror e mistério que me fisgaram completamente.
Libba Bray retrata tanta coisa, e de maneira tão mirabolante que fiquei completamente apaixonada por essa série, e me senti arrebatada por cada personagem.
A parte dos crimes é bem assustadora, muito mais do que parecia à princípio e eu gostei como a autora vai montando essa parte da trama, usando do fanatismo religioso com uma boa dose de loucura e sobrenatural para trazer um assassino de dar medo de verdade. Os crimes e as motivações do assassino foram bem originais e vários momentos inesperados me surpreenderam. Os Videntes é um livro impossível de se prever, e é o tipo de leitura que envolve aos poucos, e marca forte até o final.
Quanto ao final, aliás, achei que tudo termina de maneira bem perfeitinha, deixando em aberto alguns arcos importantes para os próximos livros, ao mesmo tempo em que finaliza o conflito principal desse primeiro livro. É bacana porque não é um final aberto, dá para ler essa primeira parte e finalizar ela sem muitas dúvidas, mas ainda assim o livro é tão bem escrito que a gente quer seguir acompanhando o desenvolvimento desses personagens e quer saber mais do que virá (porque à todo instante fica a constatação de que algo grande ainda está por ser revelado).
Os personagens são todos incríveis. Temos a Evie O´Neill que, embora nesta primeira parte tenha algum destaque como protagonista, na verdade acaba dividindo espaço com outros garotos e garotas como ela e eu gostei desse grupo bem eclético que a autora apresenta. Tem personagens para todos os gostos e estilos, e achei que todos foram extremamente bem construídos, contribuindo e muito para que a trama se tornasse mais ágil e cheia de detalhes maravilhosos. Eu gostei do núcleo da personagem da Mabel, a melhor amiga da Evie, porque seus pais são comunistas e vivem em reuniões e protestos e achei que Libba consegue apresentar um panorama interessante dessas pessoas naquela época. Também temos a outra amiga de Evie, a Theba, que é uma espécie de vedette, e através dela o leitor é transportado para o mundo de espetáculos e glamour da velha Nova York, e é incrível!
Eu adorei cada personagem, me senti envolvida nas estórias de cada um, e cada núcleo é super importante, ao fim todos se conectam então nenhum detalhe se perde.
Evie foi uma das minhas favoritas, porque ela é muito cheia de vida e energia, é muito fácil de conquistar o leitor. Ela não é uma mártir e nem uma heroína desprendida de tudo, ela na verdade pode ser até um pouco egoísta e eu gostei desses defeitinhos da personagem, que a tornaram mais próxima e real do leitor, sem chegar a ser irritante. Jericho e Sam também foram maravilhosos, assim como o próprio tio Will. Todos eles possuem uma estória, uma razão e ocultam algo, e quando o leitor descobre seus segredos, tudo parece cobrar sentido e a parte mais fantástica se torna crível e bem coerente, a gente consegue imaginar a maioria dos detalhes realmente como fatos capazes de acontecer, e isso é bem bacana, o fato de poder encontrar esse toque paranormal/sobrenatural tão extremamente convincente.
Eu gostei tanto dessa primeira parte que já embarquei na segunda parte de imediato, me apeguei aos personagens e como se trata de mais um calhamaço sei que se não for ler agora, provavelmente vou acabar deixando a preguiça dominar e acabarei demorando demais para dar continuidade (e essa série definitivamente não merece isso!). Aliás, pela primeira vez em muito tempo admito que essa é uma série que pretendo maratonar, já que o último livro, em inglês, já foi publicado.
site: www.derepentenoultimolivro.com