Desde que vi o título desse livro sabia que seria um daqueles raros livros que te faz sorrir e chorar ao mesmo tempo. Essa é uma das características que mais marca a história apresenta pela autora britânica Annabel Pitcher em seu romance de estreia. Uma história de ficção, mas que retrata com sensibilidade a confusão de um garoto de dez anos diante do luto, do preconceito e família despedaçada diante de um ataque terrorista.
Jamie Matthews, um garoto de dez anos, fã do Homem-Aranha que acaba de se mudar. A mudança para o interior segundo seu pai era a única forma de seguir em frente sem ter que encontrar com os "malditos" muçulmanos. Mas Jamie sabe que não existe chance de o pai largar a bebida. Desde que sua irmã Rose morreu em um ataque terrorista cinco anos atrás que o pai bebe sem parar. Tudo o que lembra é de ver a mãe e o pai brigando, se culpando e do clima pesado até a mãe sair de casa com um homem que conheceu no grupo de apoio largando Jamie e Jas, a irmã gêmea de Rose para trás. Jamie mal se lembra de Rose e morre de raiva das atitudes do pai. Se come primeiro o pai esbraveja porque Rose tem que ser servida antes. Ele não entende o que vai adiantar por um pedaço de bolo ao lado da urna de Rose. E fica revoltado porque sabe que Jas sofre, mas ninguém parece notar, para o pai tudo que existe é a santa Rose, passa o dia bebendo no sofá e xingando os muçulmanos. É como ser invisível. Muitas vezes Jamie se pergunta o que aconteceria se não voltasse para casa. Afinal para o pai tudo o que existe é a urna dourada de Rose. Quando no primeiro dia de aula Jamie conhece Sunya, uma garota muçulmana, que é a única disposta a ser sua amiga, ele não para de ouvir as frases odiosas do pai na cabeça. Quanto mais conhece Sunya, mais raiva tem do pai e de tudo o que aconteceu. Quando os dois mundos se colidem Jamie sabe que precisa fazer algo do contrário viverá para sempre sob essa sombra de bebida e Rose.
Essa é a premissa da história de Jamie e de como é viver à sombra de uma irmã que já morreu. A narrativa em primeira pessoa confere um tom único a história criada por Annabel Pitcher. Com um ritmo cadenciado pouco a pouco mergulhamos no cotidiano de Jamie. Mais do que a rotina entre casa e a escola acompanhamos a raiva silenciosa e crescente que Jamie sente do pai e da forma injusta com que ele e a irmã Jas vivem. Condenados a lidar com a bebedeira do pai e tudo o mais sem poder falar nada, presos a um passado pelo egoísmo de um homem incapaz de enxergar que seus filhos vivos precisam mais dele do que Rose.
Adorei a forma como a autora desenvolve a personalidade de Jamie e principalmente a construção da amizade entre ele e Sunya, gradativa e cheia de receios por parte de Jamie, que teme decepcionar o pai além de ter que enfrentar a raiva preconceituosa do pai. Jas a irmã gêmea que sobreviveu é outro ponto de destaque no livro e é comovente a forma de Jamie fala da irmã e os medos que ele tem. De ver Jas partir do mesmo jeito que a mãe partiu. Medo do egoísmo do pai afastar mais uma pessoa que ele ama, dor por ver que a irmã sofre sem poder fazer nada. A impressão que a autora passa é que o mundo de Jamie é sob uma corda bamba, por causa das incapacidades do pai. Um garoto que desde os 5 anos não sabe o que é ter pai e nem mãe por causa de uma fatalidade e guarda todas as mágoas, todos os sentimentos para si com medo do que pode acontecer se ousar falar algo para o pai.
Leitura rápida, extremamente cativante, com belas descrições em uma narrativa fluida que envolve o leitor desde o começo e marca pela sensibilidade ao retratar na voz sentida de um garoto de dez anos tantas dores e tristezas. Annabel Pitcher possui uma escrita marcante que deu uma voz crível a história. A edição da (...)
Termine o último parágrafo em:
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