@livrodegaia 14/07/2021
Bonito e feio ao mesmo tempo.
Não tenho o hábito ler poesia, mas resolvi conhecer o clássico “As Flores do Mal” (1857), do poeta francês Charles Baudelaire (1821 – 1867), por indicação de Leandro Karnal. Baudelaire é considerado o precursor da poesia moderna e do pensamento simbolista. Foi crítico de arte, ensaísta, tradutor (traduziu Edgar Allan Poe) e quem apresentou ao mundo a figura do flâneur (aquele que caminha, passeia sem pressa observando e questionando a paisagem urbana e a multidão).
Li a obra-prima do autor na edição da Nova Fronteira, com tradução de Ivan Junqueira (edição bilíngue, mas como meu francês se resume a “bonjour”, não posso opinar quanto à tradução. Vi comentários elogiosos ao trabalho de Ivan).
O livro é divido em 6 seções: Spleen e ideal; Quadros parisienses (minha seção favorita, que foi inserida na 2ª edição, em 1861); O vinho; Flores do Mal; Revolta; A morte. Conta também com várias poesias que foram sendo acrescentadas nas reedições, inclusive os 6 poemas condenados.
Boêmio e controverso, o “poeta maldito” levou uma vida bastante libertina e desregrada (consumo de ópio, haxixe e álcool em escala industrial, conflitos familiares, gastos exorbitantes, dívidas, sífilis...), e isso está impresso em sua obra. O contexto político-social da época também teve grande influência nos poemas de Baudelaire, que pegou o período de reforma urbana de Paris feita por Haussmann (transformação que desagradou o poeta).
Baudelaire explorou seus ciclos amorosos, mas não de uma forma romântica, e sim voltado para a sexualidade, para o erotismo. Ele tinha interesse na escória, nas vielas sujas, no decrépito e decomposto, mas o traço mais característico da sua poesia é sem sombra de dúvidas o pessimismo, especialmente na questão espiritual/religiosa.
A maior parte dos poemas e sonetos são excessivamente sombrios e melancólicos. Ele parecia ter uma obsessão pela morte, pelo pecado, pela dualidade entre céu e inferno (sempre evidenciando o último). Achei alguns bem pesados nesse aspecto (teve um que eu nem consegui terminar de ler). Me senti extremamente incomodada.
Mas se por um lado achei várias poesias bastante perturbadoras (embora reconheça qualidade técnica, que é notória até mesmo para uma leiga como eu), por outro, tenho certeza de que vou acabar decorando algumas de tanto reler, como “O albatroz”, “A uma passante”, “Paisagem”, “O cisne”, “O relógio” e até mesmo uma que é horrível e bela ao mesmo tempo: “Uma carniça”. [3.5/5]
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