Lamboglia (@estantedotibas) 21/05/2018
Vim pra sabotar seu raciocínio
Em uma leitura extremamente atraente, ligeira, divertida e intensa pude presenciar o corre do maestro do Canão do lixo ao luxo (apesar dele não ter adiantado sua mudança de vez, ele foi da tubaína ao champanhe sem dúvidas) como um raio. Veloz e sagaz, Sabotage foi e é um divisor de águas no rap nacional com suas letras construídas de maneira bastante peculiar, porém, reais e sinceras consigo mesmo. Conquistou não somente um grande apreço pelos caras da cena, mas também do público (e vem conquistado até hoje) bastante misto que de fato entendem suas letras, suas mensagens, a sua pessoa, o seu sonho, a sua vida, o seu compromisso. Mauro Mateus dos Santos, o Sabotage, o Maurinho é exemplo de vitória em um mundo totalmente desajustado com uma boa parte da sociedade plenamente doente. Julgar é muito fácil, apontar os erros dos outros é muito fácil, se colocar na perspectiva de vida do outro e viver o que ele viveu e ainda assim acreditar em um sonho distante e agarrar com unhas e dentes até o sangue escorrer pela epiderme a verdadeira e única oportunidade de mudança de vida é para poucos. Ainda mais vindo de onde o Sabotage veio. Se o próprio não quisesse isso, ele poderia muito bem ter continuado apenas no crime, talvez, ele ainda estivesse vivo até hoje, mas o público do rap e o próprio rap nacional jamais ganharia tanto destaque se o Sabotage não tivesse invadido a cena como ele invadiu. Não somente a cena do rap, mas também a tela do cinema. Revolucionário nato, marginal alado, veículo de cultura, agente comunicador, líder de opinião, Sabotage não ficou calado, pois tinha algo a dizer e influenciou a muitos e, com isso levou o rap a um outro patamar: do underground ao mainstream. Isso não é dizer que o rap perdeu as suas raízes, muito pelo contrário. Isso só mostra que o rap é um gênero importante, forte e influenciador como qualquer outro gênero. Afrika Bambaataa, Kool Herc, Grand Master Flash e outros nomes tão importantes no movimento Hip-Hop só tem a agradecer pela rica colaboração do saudoso maestro. É Sabotage, você faz falta para quem admira o seu trabalho. Suas letras sempre intrigantes e atuais no olhar periférico, denunciando em uma levada segura todas as mazelas que a mídia ortodoxa finge em não enxergar.... Você faz falta, faz falta. Fica aqui o meu registro sobre a força que esta obra biográfica escrita de maneira bastante cuidadosa pelo autor Toni C. tem em mim. Um livro real e doloroso; divertido e emocionante. Um livro de contrastes de um uma vida contrastada. Um livro de compromisso sobre uma vida de compromisso, o rap é compromisso.