Livros da Julie 16/07/2019Morris West foi um visionário!"Se a criação e a redenção significavam alguma coisa, então queriam dizer amor entre o Criador e as suas criaturas. Do contrário, a existência seria então uma terrível ironia, indigna do onipotente."
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"Creio na harmonia divina, que é o resultado do eterno ato criativo... mas nem sempre ouço a harmonia. Tenho de lutar com a cacofonia e a aparente discordância da partitura sabendo que não ouvirei a grande resolução final até o dia em que morra e em que, cheio de esperança, me una com Deus..."
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"(...) a crise do quase desespero, que aflige muitas pessoas de inteligência e de espírito nobres, é, com frequência, um ato providencial, delineado para causar-lhes uma aceitação da sua própria natureza, com todas as suas limitações e deficiências, e da conformidade dessa natureza com um desígnio divino, cujo padrão e cuja finalidade não podemos totalmente apreender."
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"(...) a rejeição da alegria de viver é um insulto ao Senhor. A Ele que a concede e nos deu o dom de rir, juntamente com o dom das lágrimas..."
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"O que é o seu céu, senão uma cenoura à frente de um burro, para fazê-lo trotar? O que é o seu inferno, senão um monte de lixo para os seus fracassos?"
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"Nenhuma bolsa, de qualquer homem, era bastante profunda para aguentar a despesa constante do corpo e do espírito. Apesar disso, ele tinha de continuar a gastar, confiando em que o Todo-Poderoso renovasse as verbas."
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"Os regimes passam, mas a nação continua a mesma, e nós estamos ligados a ela por um cordão umbilical..."
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"... quando o poeta escreve, a pena não tem de compreender o verso."
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"Quer um vaso esteja inteiro ou quebrado, ele denunciará sempre o talento do ceramista que o moldou."
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No início do livro, o Vaticano se vê às voltas com o processo de eleição de um novo papa, em um período da história marcado pelas tensões da Guerra Fria. Enfim se decidem por um cardeal jovem, recém-nomeado, missionário e de origem soviética, que havia enfrentado a dura perseguição stalinista, como uma forma de impulsionar os ventos de renovação da propagação da fé.
Durante o novo papado, o pontífice se depara com os mais diferentes problemas que vêm sendo enfrentados pela população, sejam causados pela última guerra ou gerados pelos novos avanços científicos.
O fato de o livro ter sido escrito em 1963 é extremamente interessante. Primeiro porque traz as características e costumes peculiares da época, sejam as católicas, as romanas ou as mundiais. Segundo porque o livro parece ter sido escrito ontem, de tão atuais ainda são vários dos problemas geopolíticos ali relatados, que apenas mudam de nome ou endereço.
Não se trata de um grande drama, ação ou suspense. Mas Morris West foi extremamente sagaz em abordar, ao longo da narrativa, não só os aspectos religiosos da tradição católica, mas principalmente os aspectos logísticos e de gestão do Vaticano, normalmente não retratados em livros. A necessidade de manter as engrenagens da Igreja em perfeito funcionamento, de gerir um relacionamento harmonioso com os cardeais, juntamente com a obrigação de tutelar os rígidos princípios norteadores da fé cristã, mas, ao mesmo tempo, buscar as inovações há tanto desejadas para aproximar o povo, são apenas alguns dos desafios e reflexões do novo papa.
Como a vida imita a arte, percebe-se o tanto que muitas das questões tratadas no livro (o uso do latim, o envolvimento com a política externa, a mediação de conflitos, a educação apostólica, as viagens para o exterior) foram, de fato, vividas e enfrentadas pelos papas reais eleitos desde então. Para quem se interessa pelo assunto, o livro é leitura obrigatória!
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