Vitória 29/10/2023
Eu me apaixonei perdidamente pela escrita e pelo universo criado pela Robin Hobb logo no primeiro volume dessa trilogia. Como minhas últimas experiências com séries de fantasia não tem sido lá tão boas, eu cheguei nesse aqui com um pézinho atrás, e confesso que o início foi bem difícil, mas vou falar disso mais pra frente. Ainda assim, a mulher conseguiu fazer a história se expandir de uma forma incrível, tanto que esse livro entrou fácil pros meus favoritos, algo que geralmente não acontece com os segundos volumes de trilogias. Não li o terceiro, afinal o bonito nem foi lançado ainda, mas já deixo aqui o meu apelo pra suma trazer logo esse negócio, porque antes mesmo de concluir a leitura dos três livros eu já posso afirmar com toda a certeza que essa é uma das minhas séries de fantasia favoritas de todos os tempos.
A gente começa essa história com o Fitz muito debilitado e confuso, e essa confusão vai perdura por boa parte do livro. Afinal, no finalzinho do volume anterior ele é jogado sozinho na sua primeira missão importante, e aqui ele precisa arcar com as consequências dos atos dele. Pela primeira vez ele precisa tomar suas decisões sozinho, e quando eu digo sozinho é desse jeito mesmo, afinal várias das figuras que até então eram seus mestres precisam se ausentar em certas partes por diversos motivos. Por causa disso a gente passa muito tempo vendo ele tentando interpretar as coisas que acontecem à sua volta sem muito auxílio. Isso faz com que o personagem cresça muito, e que o leitor se sinta ainda mais próximo dele, mas também me deu uma certa travada na leitura. Porque esse Fitz adolescente não é o mesmo que eu acompanhei por grande parte do primeiro volume, ele só aparece lá no finalzinho, quando a missão acontece, então eu demorei pra me acostumar com ele pensando e agindo de formas diferentes (talvez isso também tenha acontecido porque eu ainda vejo o Fitz como meu bebê e quero protegê-lo de tudo), mas lá pela página 200 essa sensação passou e o livro deslanchou.
Finalmente as minhas preces por um romance foram atendidas. Logo no início, quando o Fitz se vê doente e sozinho, e começa a sonhar com a Molly, eu já estava dando pulinhos de alegria. O bonito é um pouco escroto, porque ele tem sempre essa atitude de só pensar nela quando nada de mais importante está acontecendo ao seu redor? Sim, mas como a gente está o tempo todo dentro da cabeça dele, eu conseguia ver que o sentimento do querido era verdadeiro, e por isso passei meu pano. Gosto desse ser um romance impossível, mas que a autora trata de uma forma diferente do que a gente normalmente vê nos clichês com esse plot. Porque os dois sabem que é algo impossível e aceitam logo esse fato, mas não ficam chorando pelos cantos pensando "meu Deus, porque esse mundo é tão cruel?". O Fitz vai atrás das soluções que estão ao alcance dele e, quando ele e a Molly percebem que não existe mais saída, ela decide se retirar. Essa racionalidade dos dois a respeito desse aspecto não tirou em momento algum a paixão que eu sentia pelos dois e que eu via que eles sentiam um pelo outro. É um romance muito dolorido, que acaba de uma forma péssima aqui, e que eu espero sinceramente que tenha um desfecho diferente no próximo livro. Pra mim é certo que a Molly está grávida, só não sei se da relação que ela teve com o Fitz ou com o Lobito no corpo do Fitz, mas espero que ela retorne e tenha um papel maior no desfecho da trilogia, afinal a querida merece.
Já que toquei no nome dele, vamos falar do maioral, o verdadeiro protagonista desse livro, afinal quem está na capa é ele: Lobito. Burrich pode dizer quantas vezes ele quiser que a manha é ruim e que ela vai acabar com o Fitz em algum momento, isso não muda o fato de que as relações que o Fitz têm com os animais, sejam eles quais forem, são as coisas mais bem construídas e narradas dessa série. Tanto que a cena que me fez desabar no livro passado foi justamente a morte de um cachorro. Aqui nós e o Fitz temos algo com o Lobito que nunca tivemos antes, afinal todos os outros laços que ele criou com animais antes foram algo curto e passageiro, interrompido muitas vezes pelo Burrich. Aqui a gente vê que o encantamento de um pelo outro é algo que acontece de cara, e que é isso que faz o Fitz resgatá-lo, mas um passa a ver o outro como irmão aos poucos, a partir da convivência, e o fato do Fitz ser o mais resistente a isso fez com que eu me tornasse a maior fã do Lobito, porque o que eu mais queria era mandar o Burrich e as lições dele que ainda estavam dentro da cabeça do Fitz pra casa do c4r4lh0h. Amo que o Lobito tem uma personalidade própria, e como ele escolhe os melhores momentos pra dar pitaco na cabeça do Fitz sobre qualquer assunto. Acho lindo que, ainda que ele não tenha tido contato direto com quase nenhum outro personagem além do Fitz, afinal ele sempre estava isolado em algum lugar, a gente sabe o que ele pensa sobre cada um deles, principalmente sobre a Molly. Gosto de como a Robin Hobb usou isso pra expandir a fantasia do livro, afinal um consegue tomar o lugar do outro em certas situações, e estou me roendo de curiosidade pra saber as consequências que isso vai ter no próximo livro.
Ainda que seja um segundo volume de trilogia, que geralmente é mais tranquilo e com uma grande dose de encheção de linguiça, esse livro é cheio das reviravoltas. Não temos grandes aventuras, afinal o Fitz está impossibilitado de participar delas por grande parte da história, e fica trancafiado na torre do cervo, mas isso não deixa as coisas desinteressantes em momento algum. Aliás, esse livro me lembrou, em vários momentos, As Duas Torres, que é o meu livro favorito de O Senhor dos Anéis. Porque tanto aqui como lá a gente já sabe que vai haver um grande confronto, mas que a hora dessa guerra ainda não chegou, então o terreno é preparado e vários pequenos conflitos (que de pequenos não tem nada) são solucionados pra que o grande propósito da trilogia possa finalmente chegar. Deve ter pouco mais de uma semana que eu concluí a leitura do livro e confesso que já esqueci de diversos pontos, afinal é muita coisa acontecendo o tempo todo, e mais uma vez peço pra suma jogar o terceiro volume na minha cara o quanto antes. Sou capaz de comprar esse negócio com preço cheio ainda na pré-venda, porque a minha memória não está colaborando em nada.
Antes de fechar essa resenha e confirmar que esse livro conseguiu as cinco estrelas e o coraçãozinho de favorito da minha pessoa, preciso falar daquela fatídica cena no final em que eu desabei, e que acho que fez quase todo mundo desabar também (por causa disso, daqui pra frente vão ter spoilers). Como uma leitora assídua de fantasia, eu já estou preparada pra essa velha estratégia usada pelos autores do gênero de colocar o protagonista em um perigo gigantesco, mas tirá-lo no último segundo com uma solução às vezes nem tão satisfatória, afinal ele é o escolhido que sobrevive a tudo, mas aqui o negócio me deu medo de verdade pela primeira vez. Eu juro que, no capítulo em que o Fitz passa pro corpo do Lobito, eu pensei que ele ficaria daquela forma pra sempre, que falaria com os persoangens humanos por meio do talento ou da manha, no caso dos que a tem, e que terminaria a série como um lobo. Mas a mulher me consegue uma solução incrível e que ainda por cima faz sentido. E nesse ponto eu preciso falar do Burrich. Eu tenho uma queda por personagens que assumem a posição de mentor do protagonista, então amava ele desde o início do livro passado, mas o que me irritava demais nesse homem é que ele era racional demais. Ele tem muito claro dentro da sua cabeça as coisas nas quais ele acredita, o que ele acha certo e o que acha errado, e sempre seguiu isso religiosamente, sem nunca se render a uma emoção sequer. Eu quis bater na cara dele todas as vezes em que ele virava as costas para o Fitz porque ele escolhia um caminho que era errado para o Burrich, mas ver esse homem desabando com o meu menino morto nos braços, o chamando de filho, e pedindo pra ele voltar, partiu o meu coração em mil pedacinhos. Eu precisei parar a leitura e chorar com o livro na mão durante uns 5 minutos antes de voltar. Não consigo nem dizer o que espero do próximo volume, porque já quebrei tanto a cara com os plots que essa mulher enfia aqui que eu simplesmente espero qualquer coisa. Só peço que por favor não mate o Lobito nem ninguém que eu ame.